Diário do ano da peste de 2021
Texto e vídeo de Marcus Ozores
E hoje é domingo dia 19 de setembro de 2021. Ontem foi noite de lua cheia e pelas ruas, becos, casas, bares a cidade dos Manaós se embriaga até altas horas com as toadas dos bois vermelho e azul. Na capital das Amazonas as toadas do Garantido e Caprichoso enchem as noites dos sábados com suas toadas e a paixão por uma das duas cores divide famílias, provoca casamentos entre opostos, provoca divergências, brigas e as valentias são disputadas nas toadas de provocação entre as paixões entre vermelhos e azuis. E ontem eu fui com meu mano mais velho numa festa do seu amado Boi Vermelho que lhe veio render homenagens. E foi num relance, nessa noite de sábado de Lua Cheia que vi, no rosto do meu Mano Velho, circundado pelo seu boi do coração, pelo violão, pela voz do seu amigo Vanderson, dentista e cantor de toadas – escorrer duas grossas lágrimas ao ouvir a toada ‘Lamento de Raça’ do compositor parintinense Emerson Maia.
Emerson Maia nascido e criado em Parintins faleceu aos 66 anos no ano passado vítima do vírus cruel da covid. Emerson Maia era conhecido por composições de grande sucesso no Amazonas, entre elas “Lamento de Raça”, lançada em 2007, música composta após a ocorrência de uma grande queimada em Rondônia. “Lamento de Raça” é letra canção de protesto contra a devastação das matas amazônicas e um libelo em defesa da natureza. Letra fácil e descomplicada poderia se tornar hino dos ecologistas de todas as partes da Geia. Poderíamos criar o slogan contra a destruição das nossas matas verde amarelas e clamar: “Ecologistas do mundo todo Uni-vos”.
E assim no nosso “Só a poesia nos Salvará” leio a letra canção
LAMENTO DE RAÇA
O índio chorou, o branco chorou
Todo mundo está chorando
A Amazônia está queimando
Ai, ai, que dor
Ai, ai, que horror
O meu pé de sapopema
Minha infância virou lenha
Ai, ai, que dor
Ai, ai, que horror
Lá se vai a saracura correndo dessa quentura
E não vai mais voltar
Lá se vai onça pintada fugindo dessa queimada
E não vai mais voltar
Lá se vai a macacada junto com a passarada
Pra nunca mais, voltar
Pra nunca mais, nunca mais voltar
Virou deserto o meu torrão
Meu rio secou, pra onde vou?
Eu vou convidar a minha tribo
Pra brincar no Garantido
Para o mundo declarar
Nada de queimada ou derrubada
A vida agora é respeitada todo mundo vai cantar
Vamos brincar de boi, tá Garantido
Matar a mata, não é permitido
Vamos brincar de boi, tá Garantido
Matar a mata, não é permitido
Vamos brincar de boi, tá Garantido
Matar a mata, não é permitido