Diário do ano da peste de 2021
Texto e vídeo de Marcus Ozores
E hoje é terça feira dia 21 de setembro. Vocês não vão acreditar, mas hoje fui despertado cedim por um zap enviado pelo nosso senhor Jesus Cristim, via zap celeste, às 5 da matina. Acordei com aquele barulhim e meio sonado vi a mensagem de espanto enviada pelo nosso Senhor Jesus Cristim: ‘veja só o que o ministro da saúde de vocês aprontou ontem a noite em Niu Iorqui’.
Genteeeemmmm junto com a mensagem veio um vídeo da comitiva dos lambe botas do capitão que voltava para hotel em um ônibus. E no vídeo eis que aparece o dr. Quiroga (por favor não troquem as duas primeiras letras do nome dele) travestido de Jerônimo, o herói do sertão (desculpe Jerônimo não fique brabim só usei teu nome como figura de linguagem) mostrando os dois dedos do meio das duas mãos para os jornalistas e manifestantes nas ruas de Niu Iorque. Essa imagem icônica de mau gosto e de puxa saquismo me fez lembrar tristemente da última cena do filme Fúria Sanguinária, estrelado por James Cagney, no papel de um gangster que quando se vê acuado pela polícia no último andar do Empire States, de Niu Iorque, grita “Mamãe cheguei aqui, no topo do mundo”. Parece que o ministro da Saúde está fazendo de tudo para mostrar ao chefe que ele merece mais um viagenzinha internacional na comitiva, mesmo que seja para levar bandeirinhas. Seria cômico se não fosse trágico.
E hoje como estamos falando de Niu Iorque, pois, o capitão vai falar para esse mundão de meu deus na “onú”… e para por aqui, o melhor mesmo é ler poesia do nosso mestre Carlos Drummond de Andrade sobre a capital do mundo à beira do rio Negro como lançando nossas indignações contra o besteirol nacional com “Só a poesia nos Salvará”. 4
Vou ler de Drummond o belíssimo poema:
ELEGIA 1938
Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a
[concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de
[morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande
[Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta
[distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a de
[Manhattan.
Poema do livro Sentimento do Mundo