Diário do ano da peste de 4 de novembro de 2021
Texto e vídeo de Marcus Ozores
Foto site dreamstime
E hoje é dia 04 de novembro, quinta feira e como parou de chover estou nas areias ancestrais milenares da minha república anarquista dos Tupinambás de Barequeçaba lançando minhas granadas contra o besteirol nacional com o “Só a poesia nos Salvará”.
Volto após dois dias fora do espaço virtual. Hoje tomei a minha terceira dose da vacina contra a covid 19 e a partir de amanhã faço uma pausa das minhas leituras poéticas, após um ano e cinco meses ininterruptos, para merecido descanso. Ao longo desse um ano e cinco meses que mantive meu canal “Só a poesia nos Salvará”, tentei dividir com vocês que assistem a meus vídeos e a solidão forçada, um pouco de energia mais esperançosa lendo cada dia um autor da língua portuguesa, de cada pais que fala essa língua, tentando repetir o menos possível o poeta ou a poeta.
Perdi a conta do números de poetas que li ao longo desse tempo e confesso que me diverti muito, quando pesquisava esse ou aquele nome, essa ou aquela escola poética. Aprendi muito, na tentativa de espantar o medo da morte que nos rondava e ainda nos ronda diariamente, mas hoje em números menores. Ler poesias foi como sobrevivi ao medo de todos nós, todos os dias. Espero que possa ter ajudado um pouquinho a vocês, como me ajudou, a superar o medo desse inimigo invisível e cruel. Infelizmente não conseguimos impedir que muitos amigos e amigas partissem vítimas dessa doença cruel, junto com outros mais de 600 mil brasileiros e brasileiras.
Daqui para frente, o problema a ser enfrentado pela nação, é uma legião de homens e mulheres vítimas de sequelas pós covid. O número de sequelados ultrapassa a casa do milhão , com problemas nos rins, nos pulmões, na fala, impedidos de caminhar, depressivos e muitos outros. Não nos esqueçamos nunca o descaso que o governo do capitão e sucessivos ministros da saúde sabujos, trataram a população dessa outrora nação da alegria.
Estarei de regresso com vocês dentro de três semanas. E para encerrar essa fase do Só a poesia nos Salvará do besteirol nacional que nos assola diariamente , lerei para vocês o poeta que amo desde a juventude, que é Fernando Pessoa. E foram os poemas do heterônimo Alberto Caieiros, que orientaram minha juventude. Quando eu enfrentava algum problema buscava em Alberto Caeiro uma resposta, aliás, usava os poemas dele, como muitos usam o i- ching para tomarem decisões importantes na vida.
Lerei dois poemas de Alberto Caeiro do livro ‘O Guardado de Rebanhos”. O primeiro é:
DA MAIS ALTA JANELA DA MINHA CASA
Da mais alta janela da minha casa
Com um lenço branco digo adeus
Aos meus versos que partem para a humanidade
E não estou alegre nem triste.
Esse é o destino dos versos.
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos
Porque não posso fazer o contrário
Como a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que dá fruto.
Ei-los que vão já longe como que na diligência
E eu sem querer sinto pena
Como uma dor no corpo.
Quem sabe quem os lerá?
Quem sabe a que mãos irão?
Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas.
Rio, o destino da minha água era não ficar em mim.
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
Quase alegre como quem se cansa de estar triste.
Ide, ide, de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.
Passo e fico, como o Universo.
O MISTÉRIO DAS COISAS, ONDE ESTÁ ELE?
O mistério das coisas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio e que sabe a árvore
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as coisas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.
Porque o único sentido oculto das coisas
É elas não terem sentido oculto nenhum,
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as coisas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.
Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: —
As coisas não têm significação: têm existência.
As coisas são o único sentido oculto das coisas.