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O causo do flautista e as moedas de ouro Copy

O Causo da  Mestra Proeira

Texto Priscila Siqueira

Foto Arquivo Nacional

Em plena Ditadura Militar, meu editor mandou-me entrevistar um capitão*
reformado que tinha sido agraciado com a Cruz de Ferro, uma das mais
importantes homenagens do Exército Nacional destinada para aqueles
que haviam sido feridos em combates durante a guerra. Esse oficial estava
morando em Caraguatatuba com sua família e foi muito fácil entrevistá-lo,
pois era falante, muito gentil e simpático.
Ele contou sua história: Quando jovem, foi convocado para ir lutar pelo
Brasil na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial. Numa das batalhas
que participou, foi ferido gravemente, tendo por isso recebido a Cruz de
Ferro.
Pouquíssimos brasileiros já receberam essa homenagem. Muitos colegas
seus de Exército, que então estavam no comando político durante a
Ditadura, não haviam colocado os pés na Europa na época da Segunda
Guerra. Ficaram trabalhando no escritório do Exército no Rio de Janeiro.
Quando aconteceu golpe de Estado, em 1964, ele fazia parte do grupo de
oficiais do Círculo Militar que eram contrários à quebra da Constituição
Brasileira. Como consequência de seu posicionamento contrário à volta de
uma ditadura no País, no dia seguinte após o golpe, ele foi mandado para
a reforma. Apesar de ser um herói de guerra, lutado pelo País enquanto
quem o castigava não havia saído do Brasil naquele trágico período, ele
não mais era oficial da ativa de nosso Exército Brasileiro…
Então, meio sem graça, ele me perguntou:
-“Posso contar para a senhora uma historinha que retrata o que
aconteceu comigo, mas que é um pouquinho feia?…”
-“Claro, respondi eu.

“Durante a guerra, os Aliados tinham uma orquestra composta por
soldados e militares.
Quando Truman foi visitar a orquestra, seus componentes estavam super
inspirados e executaram obras clássicas da música com muita maestria.
Truman ficou encantado e elogiou bastante o trabalho feito pelo maestro .
Este fiou tão empolgado com elogios do presidente dos Estados Unidos,
que mandou cada membro da orquestra enchesse seus instrumentos com
moedas de outro. O pianista se abarrotou de ouro colocado no piano de
caudas. O violoncelista ficou feliz com o tanto de moedas que couberam
no seu instrumento. O tocador da tuba, nem se fala… Os violinistas não
receberam tanto, mas também ficaram felizes. O único tristinho era o
flautista: em seu instrumento, a flauta, só coube uma moeda de ouro.
Tempos depois, Stalin, sabendo como a orquestra era boa, também foi
escutá-la. Só que nesse dia os músicos estavam com “a macaca” …
Erraram as notas musicais, desafinaram e não acertaram o compasso das
músicas.
Stalin saiu do concerto bufando, achando um enorme desrespeito com
sua pessoa e os com países que representava, o que havia acontecido. E
lógico, desabafou em cima do maestro…
Quando o líder da então União Soviética foi embora, o maestro não
deixou por menos : “Cada um de vocês , dessa maldita orquestra, vai
colocar o seu instrumento no “c…”Triste destino: O único instrumento que
coube naquele lugar foi a flautinha…”, concluiu meu entrevistado.

 

* Nota da redação:  O oficial  que a Mestra Proeira Priscila Siqueira se refere,  era conhecido em Caraguatatuba pelo seu último cargo que teve no Exército, ou seja Coronel, seu nome era  Souza Jr.  . Ele era do Matogrosso, e durante a guerra na Italia serviu como capitão. Morou muito tempo em Craguatatuba depois da refeorma e era o único representante da FEB na cidade, por isso dava sempre palestras sobre sua história.

Priscila Siqueira

Paranaense, nascida em 1939, Priscila Siqueira formou-se em jornalismo na antiga Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. Agora aposentada, trabalhou por muitos anos na Grande Imprensa nacional :Agência Folha de São Paulo, Agência Estado (jornais O Estado de S.Paulo, o extinto Jornal da Tarde e Rádio El Dourado) e no jornal Valeparaibano. Como jornalista teve a oportunidade de presenciar a expulsão dos caiçaras - o caboclo do litoral - de suas praias pela especulação imobiliária, decorrente a abertura da Rodovia BR 101, no seu trecho de Santos - Rio de Janeiro. Dessa experiência, surge seu primeiro livro “Genocídio dos Caiçaras“, em 1984. Jornalista especializada na questão ambiental, cobriu a Constituinte do Meio Ambiente de 88. Como ativista ambiental, foi uma das fundadoras da SOS Mata Atlântica, Movimento de Preservação de São Sebastião- MOPRESS e presidente da Sociedade de Defesa do Litoral Brasileiro. Em 1996, participou do Congresso Mundial contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes, na cidade de Estocolmo realizado pela rainha Sílvia da Suécia e a UNICEF- Nações Unidas para a Infância. Foi professora na antiga Escola Normal de São Sebastião, além de dar aulas no Centro Universitário Salesiano de São Paulo- UNISAL, e na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo- FESPSP, em cursos de pós graduação lato sensu, sobre a Violência à Mulher, Prostituição Feminina e Tráfico de Mulheres e de Meninas.

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