Os Causos da Mestra Proeira
Texto Priscila Siqueira
Foto Freepik
Certa vez eu estava em um bairro periférico de São Sebastião, conversando com um senhor bem velhinho, nem ele mesmo sabia dizer que idade tinha. O maior problema desse pobre homem era um lugar para poder morar sem não mais ser perturbado. Ele me contou-
“Eu vivia com minha “véia” numa casinha na cidade, que meu ex patrão deu para a gente morar , quando me aposentei. Ele disse que era por conta do trabalho que eu tinha feito para ele todos aqueles anos. Mas nós não “tinha” o papel da casa, não. Nossos filhos, tudo criado , ganharam o mundo em busca se seu próprio destino. Era só eu e a mulher.
Um dia, chegou um sujeito acompanhado por uns homens mal encarados que tinham um trator, dizendo que iam demolir a casa, que o terreno onde a gente vivia era dele. Tivemos que cair fora. Minha mulher, grande companheira, de tanto desgosto, adoeceu e uns tempos depois, Deus levou ela embora.
Então vim morar num barraco neste bairro onde, naquela época, só viva gente pobre. Fiquei uns tempos sossegado, curtindo sozinho a saudade da mulher. Mas o bairro melhorou, gente mais rica veio morar aqui e não deu outra. Aconteceu tudo outra vez. Chegaram no meu barraco com ordem do Juiz e eu tive de deixar minha casa. Quando um lugar melhora e o mais “rico” se mudam para aí, os pobres têm de mudar para um lugar pior. É sempre assim…
Sabe, dona, hoje eu vivo numa tapera que fica adiante daquela pedra banhada pelo sol que a senhora está vendo lá em cima naquele morro. É longe e difícil de chegar. Eu venho só uma vez por mês na cidade, comprar umas coisinhas que preciso pra comer. É um lugar que só tenho bichos por companheiros. Nem uma pessoa mais riquinha vai querer morar aí”.
Daí, me olhando com ansiedade, meu amigo arrematou-
“Acho que agora eles me deixam sossegado, não é dona?!…”