Crônica Caiçara
Texto Ana Maria Fernandes
Domingo de manhã, ano 1965, um pouco passado das oito e trinta e eu atrasada para a missa das nove horas. O bendito cabelo teimava em escapar da boina branca em que estava preso em uma ” banana” , tipo de penteado muito usado antigamente. Enfim, deu certo. Saí com passos apressados e em dois tempos estava na esquina do Bar Elite.
Aquela hora da manhã , em pleno domingo , Ubatuba era uma cidade quase morta. Como não havia carros nem bicicletas, atravessei a rua e passei para a calçadão contrário que levava direto à matriz. Aproveitei e fui em uma corrida só até a próxima esquina, certa que já estaria na calçada da matriz. Não olhei para o lado. Só que na esquina do lado que eu adentrei vinha um senhor ,que eu na corrida não vi. Meus cabelos, a essas alturas, havia desfeito a tal “banana” e caía desarrumado pelos ombros.
Mas eu dei um encontrão com o tal homem, que no espanto, me aparou. Coisa de segundos . Até que eu, também no susto ainda gritei : – Aí,papai!!
Me livrei do homem e corri mais ainda. Deveria parecer louca mesmo. Preta, vestida de branco , boina branca , descabelada , agarra aquele homem pela cintura e ainda o chama de pai ? Me soltei dele e cheguei a tempo para a missa.
Até hoje quando me lembro disso acabo rindo sozinha. Mesmo porque, até hoje, nunca soube quem foi o senhor que eu agarrei pela barriga naquela manhã tão linda de domingo nos anos esquecidos de mil novecentos e sessenta e cinco.
Ana/ 1965..