ODiário de Pindorama
Texto, vídeo e apresentação Marcus Ozores
Diário de Pindorama, 9 de fevereiro de 2022, terceiro ano da peste. E estou aqui com “Só a poesia nos Salvará”, diretamente daqui da minha República Livre Anarquista dos Tupinambás de Barequeçaba.
Hoje o sol brilhou pela manhã aqui em Barequeçaba, terra de antigos antropófagos, o mar acordou raivoso e rugia cuspindo suas ondas até quase a amurada das casas construídas à beira. O vento forte dessa manhã vindo do Atlântico para o continente zumbia nos ouvidos de caminhantes na praia e não sei se foi o vento, a maré alta, as grutas na base dos morros, as pedras que servem de morada para os mariscos e ostras tísicas, desconfio que foi o vento mesmo que me fez lembrar de uma das casas do chileno Pablo Neruda que ele mandou construir na cidade litorânea de Valparaiso e chamada por ele de ‘La Sebastiana’. Hoje essa casa é um museu e é aberto a visitação pública.
Neruda nasceu e morreu na capital do Chile, Santiago e foi agraciado com o prêmio Nobel de Literatura em 1971, dois anos antes de morrer, vitima de câncer de próstata aos 69 anos. Neruda morreu em sua casa em Santiago, no dia 23 de setembro, 12 dias após sangrento golpe militar comando por Augusto Pinochet. No dia seguinte a sua morte sua casa na capital foi saqueada e seus livros queimados.
O VENTO NA ILHA
O vento é um cavalo
Ouça como ele corre
Pelo mar, pelo céu.
Quer me levar: escuta
como recorre ao mundo
para me levar para longe.
Me esconde em teus braços
por somente esta noite,
enquanto a chuva rompe
contra o mar e a terra
sua boca inumerável.
Escuta como o vento
me chama galopando
para me levar para longe.
Com tua frente a minha frente,
com tua boca em minha boca,
atados nossos corpos
ao amor que nos queima,
deixa que o vento passe
sem que possa me levar.
Deixa que o vento corra
coroado de espuma,
que me chame e me busque
galopando eu, emergido
debaixo teus grandes olhos,
por somente esta noite
descansarei, amor meu.