O bárbaro do outro

Diário de Pindorama
“Absurdo: negros residentes na Ucrânia em busca de refúgio, são barrados na fronteira da Polônia”
Texto vídeo e locução de Marcus Ozores

Diário de Pindorama, 2 de março de 2022, Quarta-Feira de Cinzas de acordo com o calendário gregoriano adotado em todo o mundo e nos dias atuais uma data completamente esquecida. Aliás, esse ano não houve pecado abaixo do Equador já que não se carnavarceou este ano– não sei se existe, mas se não existir vale o neologismo.
E sigo com o “Só a poesia nos Salvará”, como a velhinha de Taubaté, pertenço ao grupo que ainda acredita que haja uma verdade isenta para os fatos . Por isso continuo isolado, aqui na minha República Livre Anarquista dos Tupinambás de Barequeçaba.
Odisséia, o poema fundador da nossa cultura ocidental, atribuído ao cego Homero e escrito no século VIII a.C. narra a saga de Ulisses, o herói da guerra de Tróia, que durante 10 anos navega pelo mar Egeu vivendo inúmeras aventuras junto com seus fiéis marinheiros. Homero achava que todos os povos que não comessem pão eram bárbaros. Portanto, todos os povos que Ulisses encontrou nesses 10 anos de aventura eram bárbaros.
“a grande questão do século XXI que ainda não foi resolvida é o racismo estrutural”
Digo isso porque a grande questão do século XXI que ainda não foi resolvida é o racismo estrutural. A Alemanha nazista escolheu os judeus como os seus bárbaros. Mas todos os países têm seus bárbaros de plantão. O pior dos bárbaros, fruto de racismo estrutural. sistêmico cai sempre sobre os negros.
E vejo o cinismo nos olhos marejados dos apresentadores da TV brasileira ao se deparar com as longas filas dos ucranianos para atravessar a fronteira da Ucrânia para a Polônia e com uma criancinha passando frio. Eu também me comovo, mas o nosso cinismo é que nesse Brazilzão aqui ainda continuam sendo assassinados 50 mil pessoas por ano e só no ano passado no grande Rio mais de 20 crianças morreram de bala perdida de um total de mais de 120 pessoas atingidas pelo disparo de armas de fogo.
Centenas de negros tentam sair da Ucrânia para buscar refúgio na Polônia e são barrados motivando o protesto das embaixadas de vários países africanos, para essa noticia não vi nenhum olhar marejado daqueles apresentadores impecavelmente maquiados e sempre com sorriso Kolynos nos dentes embranquecidos artificialmente.
Como todos fingem que ama mas depois odeia e todos somos bárbaros de alguém, escolhi para ler hoje o minúsculo poema ‘Quadrilha’ do mineiro de Itabira, Carlos Drummond de Andrade.
QUADRILHA
Carlos Drummond de Andrade

João amava Teresa que amava Raimundo
Que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
Que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
Que não tinha entrado na história.
O racismo contra os negros está enraizados no mundo, infelizmente o preconceito é o câncer da humanidade. Como os Portuguedes que têm preconceito com os brasileiros…