Diário de Pindorama
Texto, vídeo e apresentação de Marcus Ozores
Diário de Pindorama, 14 de março de 2022, e continuo com o “Só a poesia nos Salvará”. Hoje é uma segunda feira chuvosa na cidade ocupada anteriormente pelos valentes índios Manaós e tendo ao fundo a cúpula do Teatro de Ópera de Manaus e mais ao fundo ainda o rio Negro e ao fundo do fundo a floresta.
Manaus é uma cebola cultural. Portuguesa no centro a sua primeira camada; cearense, libanesa, japonesa, judia na sua segunda camada; brasileiros e brasileiras de todas as regiões , acrescidos de peruanos, colombianos, venezuelanos na terceira camada; a periferia industrial na quarta camada , formada principalmente por paulistas e sulistas com suas fábricas com sotaque de um estrangeirismo multicolor e; na última camada, – assim como em todas as nossas cidades, os pobres sem distinção de cor, etnia, nacionalidade, escolaridade. Sempre os pobres, carentes de recursos próprios e abandonados pelo Estado, nas suas três dimensões.
E como estou de volta à cidade dos Manaós, minha leitura hoje é dedicada ao poeta na floresta Thiago de Melo, falecido em janeiro desse ano.
“O SILÊNCIO DA FLORESTA” de Thiago de Mello
(do livro “Num Campo de Margaridas”, 1986)
espessamente doce,
o silêncio noturno da floresta.
Não é como o do vento e vastidão,
cujos dentes de neve
morderam a minha solidão.
Nem como o silêncio aterrador
(no seu âmago o tempo brilha imóvel)
do deserto chileno de Atacama,
onde, um entardecer,
estirado entre areia e pedras,
escutei cheio de assombro
o latir do meu próprio coração.O silêncio da floresta é sonoro:
os cânticos dos pássaros da noite
fazem parte dele, nascem dele,
são a sua voz aconchegante.
Sozinho no centro da noite amazônica,
escuto o poder mágico do silêncio,
agora quando os pássaros
conversam com as estrelas,
e recito silenciosamente
o nome lindo da mulher que eu amo.