Diário de Pindorama
Crônica, vídeo e apresentação de Marcus Ozores
Diário de Pindorama, 21 de março de 2022 e continuo aqui na capital da terra das Amazonas e continuo aqui com a bandeira içada do “Só a poesia nos Salvará” na tentativa vã de afastar o FEBEAPA nacional.
Hoje, em conversa tete-a- tete com mister G, vim a descobrir que – há 20 mil anos – os sapiens que habitavam as cavernas situadas na cordilheira de Chiribiquete na Amazônia colombiana, decoraram o interior dessas cavernas com milhares de imagens rupestres no que ficou conhecida como Capela Sistina das América da idade da pedra. As imagens são maravilhosas e convido a todos e todas aqui do mundo virtual a procurarem informações sobre o parque nacional de Chiribiquete -chiribiquete/https://www.parquesnacionales.gov.co/portal/es/parques-nacionales/parque-nacional-natural-chiribiquete/
Chiribiquete_petroglyph_2 foto wikicommons
E como estou na capital do Amazonas e falando da Amazônia colombiana, escolhi para ler hoje, um poema do prêmio Nobel de literatura, o colombiano Gabriel Garcia Marquez romancista que nos presentou com o realismo mágico de ‘Cem anos de Solidão’.
Lerei de Garcia Marquez o poema:
CARTA AOS AMIGOS
Gabriel Garcia Marques
“Se por um instante Deus se esquecesse de que sou
uma marionete de trapo e me presenteasse um fragmento
de vida, possivelmente não diria tudo o que penso
mas em definitivo pensaria tudo o que digo.
Daria valor as coisas, não pelo que valem, senão
pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais,
entendo que por cada minuto que fechamos os
olhos, perdemos sessenta segundos de luz.
Andaria quando os demais se detêm, despertaria
quando os demais dormem.
Escutaria quando os demais falam, e como
desfrutaria um bom sorvete de chocolate! Se
Deus me obsequiasse um fragmento de vida, vestiria
simples, me atiraria de bruços ao sol, deixando des-
coberto, não somente meu corpo senão minha alma.
Deus meu, se eu tivesse um coração, escreveria meu
ódio sobre o gelo, esperaria que saísse o sol.
Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre as
estrelas um poema de Benedetti, e uma canção
de Serrat seria a serenata que lhes ofereceria à
lua. Regaria com minhas lágrimas as rosas, para
sentir a dor de seus espinhos, e o encarnado beijo
de suas pétalas…
Deus meu, se eu tivesse um fragmento de vida… Não
deixaria passar um só dia sem dizer as pessoas que
quero, que as quero. Convenceria a cada mulher ou
homem de que são meus favoritos e viveria enamorado
do amor. Aos homens lhes provaria quão equivocados
estão ao pensar que deixam de enamorar-se quando
envelhecem, sem saber que envelhecem quando
deixam de enamorar-se! A criança lhe daria asas,
porém lhe deixaria que sozinho aprendesse a voar.
Aos velhos lhes ensinaria que a morte não chega com a
velhice senão com o esquecimento.
Tantas coisas tenho aprendido de vocês, os
homens… Tenho aprendido que todo o mundo quer
viver no topo da montanha, sem saber que a
verdadeira felicidade está na forma de subir a
escarpa. Tenho aprendido que quando um recém
nascido aperta com seu pequeno punho, pela primeira
vez, o dedo do pai, o tem apanhado para
sempre. Tenho aprendido que um homem só tem
o direito de olhar a outro com o olhar baixo quando
há de ajudar-lhe a levantar-se. São tantas coisas as
que tenho podido aprender de vocês, porém real-
mente de muito não haverão de servir, porque quando
me guardarem dentro dessa mala, infelizmente
estarei morrendo”