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Pingos d’agua

Sergio P.  Souza

A chuva começou e continuou a cair de mansinho. Pequenos filetes de água escorrem das telhas do beiral do terraço. A terra, que estava seca, começa a respirar; a gente sabe pelo cheiro característico que exala. Quem olha, não só com os olhos, enxerga que as plantas agradecem.

Do terraço, além da cerca de paus de eucalipto tratado, se vê as ondas agitadas pelo vento, depois a Ilha e, longe, o horizonte marinho. É uma chuva tão boa que posso sair da cobertura do terraço e me deixar molhar pelos pingos dágua. A temperatura é amena e vai molhando devagar.

As vezes penso que somos como as plantas que necessitam de ser regadas, molhadas, para germinarem, crescer e dar frutos. Quando era menino gostava de olhar, do alpendre da casa de taboas onde morava, a formação da chuva ao longe, nas colinas para o lado da nascente do ribeirão e ficava contando o tempo que levaria para ela chegar.

As pessoas daquele tempo tinham uma fé simples em Deus e na vida. Diziam a meu pai:

-Compadre, se Deus quiser, logo virão as chuvas. Vamos poder arar e plantar.

O tempo passou, quase todos viemos para as cidades, a tecnologia tomou conta das cidades, do campo e das atividades humanas. A natureza foi esquecida e a fé virou mercadoria. A presunção e a falta de sabedoria verdadeira, nos deixaram na situação incrível de morrer de sede pela falta dágua ou arrastados nas águas das grandes chuvas que caem nas ruas das nossas cidades.

Para quem ainda tem a fé simples dos antigos, Deus até manda as chuvas, mas os humanos não sabem mais aproveitá-las.

 

Sérgio P. Souza é advogado aposentado e mora em Barequeçaba , São Sebastião  

Foto Mateus S. Figueiredo – Wikimedia Commons

Pitagoras Bom Pastor

Pitágoras Bom Pastor de Medeiros, é formado em direito e pós graduado em jornalismo digital

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