Crônica de Sergio P. Souza
Amanheceu chovendo. Não dá para fazer a caminhada prescrita pelo médico.
Tomamos nosso café olhando através da vidraça: o jardim, a praia, o mar. Os pardaizinhos procuram abrigo no terraço e um casal de canários da terra cisca o gramado a procura de alimento. Juci, que fez o pão caseiro naquela maquininha da hora e tudo o mais que está na mesa, ainda se preocupa com os pássaros:
-Puxa, com esta chuva não colocamos a quirera para os passarinhos
A chuva não para. Ela vai para o ateliê e se distrai desenhando e pintando.
Vejo minhas mensagens no computador, tento ligar para algumas pessoas: três tentativas e não encontro ninguém.
Ligo a TV, nada que preste. Muita propaganda, programas sem conteúdo aproveitável. Não servem nem para mero divertimento e, perdoe-me Senhor, pregadores que parecem mais interessados nos dízimos.
Olho novamente através da janela: os canários continuam ciscando a grama, os pardais buscando abrigo no terraço. Tento uma conversa com o pardal:
-Cara, como você é bonitinho ou bonitinha! -Não precisa responder.
-Fico feliz se permanecer ai, só olhando pra mim.
Ele ou ela ficou. Piou aquele piado insignificante de pardal e depois de um tempo que não sei avaliar, voou.
Fixei os olhos na extremidade do jardim, na mangueira centenária do lado de fora do muro, na calçada. As mangas me acenaram sorrindo. Me espantei. Até vocês?
Quando percebi que podia me comunicar com o reino vegetal não perdi muito tempo com as mangas e fui logo provocando duas enormes jacas dependuradas na jaqueira do outro lado da rua.
A conversa foi ótima. Falamos de amor, amizade, fé e até do apocalipse.
Muitas coisas vou tentar praticar; só não posso revelar a última.
O autor: SERGIO P SOUZA, morador de Barequeçaba, São Sebastião-SP, é advogado aposentado.