Os Diários do Ozores

A Botina e Russo

Diário de Pindorama

Texto e vídeo de Marcus Ozores

Marcus Vinicius Pazini Ozores, é jornalista e mestre em Sociologia, pela Unicamp. 

 

 

 

 

 

 

 

Dia 16 de fevereiro de 2022, e vivemos o terceiro ano da Peste. E continuo presente com “Só a poesia nos Salvará” diretamente da minha República Livre Anarquista dos Tupinambás de Barequeçaba.

Olás, pessoas do mundo virtual. “Eu sei que vocês vão dizer que é tudo mentira e não pode ser”,  como na letra de Molambo cantava Maysa na sua fase mais down, com cigarro na mão e copinho de whisky com gelo na outra. Mas, não é mentira não.                                                                                                  E hoje, após ver uma foto na capa do portal da Folha, comecei a rir sem parar. Isso porque tive certeza de ter visto a imagem do cantor Roger Daltrey – vocalista da emblemática banca inglesa The Who – no papel de ‘Tommy’ personagem da ópera rock , do grupo inglês composta pelo genial Peter Townsed.

Roger Daltrey , inTommy 1975

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Na ópera Tommy é um menino que fica cego, surdo e mudo após um fato marcante na vida dele, quando tinha 7 anos , e chega a ser o maior jogador de pinball da Inglaterra. E aí meus amigos e me perguntarão o porque minha memória foi buscar nos escaninhos do cérebro a referência de Tommy, ópera composta em 1969 e o filme genial dirigido por Ken Russel em 1975. No fundo a minha memória recuperou a imagem do cartaz do filme que trazia a imagem de ‘Tommy’ calçando imensas botinas jogando pinball. E daí qual a associação que fez você hoje rir toda manhã?

Bolsobotas e Pedro Putin o Grande

A imagem que me refiro , foi a foto do capitão ao lado de Putin em alguma sala do Kremlin. Pasmem, o capitão calçava as mesmas botas que Tommy usava no filme. E no seu estilo messiânico que adotou nessa viagem Se vocês não viram, vão confirmar na Internet. Como estamos falando do capitão, da incrível Armata de Brancaleone, usando as botas, como as de Tommy, para encontrar o senhor da guerra, e novo Pedro, o Grande, da Mãe Rússia devemos lembrar que a guerra que discutiram lá, não está lá, mas está aqui em todas as favelas.  Por isso para um dia como hoje lerei o poema/letra da música Boa Esperança do rapper, músico, ator Emecida.

 

 

 

BOA ESPERANÇA

Por mais que você corra, irmão
Pra sua guerra vão nem se lixar
Esse é o X da questão
Já viu eles chorar pela cor do orixá?
E os camburão o que são?
Negreiros a retraficar
Favela ainda é senzala, Jão
Bomba relógio prestes a estourar
O tempero do mar foi lágrima de preto
Papo reto, como esqueletos, de outro dialeto
Só desafeto, vida de inseto imundo
Indenização? Fama de vagabundo
Nação sem teto, Angola, Ketu, Congo, Soweto
A cor de Eto, maioria nos gueto
Monstro sequestro, capta três, rapta
Violência se adapta, um dia ela volta p’ocêis
Tipo campo de concentração, prantos em vão
Quis vida digna, estigma, indignação
O trabalho liberta, ou não?
C’essa frase quase que os Nazi varre judeu em extinção
Depressão no convés
Há quanto tempo nóiz se fode e tem que rir depois
Pique Jackass, mistério tipo Lago Ness, sério és
Tema da faculdade em que não pode por os pés
Vocês sabem, eu sei
Que até Bin Laden é made in USA
Tempo doido onde a KKK veste Obey (é quente memo)
Pode olhar num falei?
Aí, nessa equação chata, polícia mata, plow!
Médico salva? Não! Por que? Cor de ladrão
Desacato invenção, maldosa intenção
Cabulosa inversão, jornal distorção
Meu sangue na mão dos radical cristão
Transcendental questão, não choca opinião
Silêncio e cara no chão, conhece?
Perseguição se esquece? Tanta agressão enlouquece
Vence o Datena, com luto e audiência
Cura baixa escolaridade com auto de resistência
Pois na era cyber, ‘cês vai ler
Os livro que roubou nosso passado igual Alzheimer, e vai ver
Que eu faço igual Burkina Faso
Nóis quer ser dono do circo
Cansamos da vida de palhaço
É tipo Moisés e os hebreus, pés no breu
Onde o inimigo é quem decide quando ofendeu
(‘Cê é loco meu)
No veneno igual água e sódio (vai, vai, vai, vai, vai, vai)
Vai vendo sem custódio
Aguarde cenas no próximo episódio
‘Cês diz que nosso pau é grande
Espera até ver nosso ódio
Por mais que você corra, irmão
Pra sua guerra vão nem se lixar
Esse é o X da questão
Já viu eles chorar pela cor do orixá?
E os camburão o que são?
Negreiros a retraficar
Favela ainda é senzala, Jão
Bomba relógio prestes a estourar
A Cancioneiro Caiçara tem o apoio cultural da Hidrel. Uma empresa genuinamente caiçara.

Marcus Ozores

Marcus Vinicius Pasini Ozores é fotógrafo, jornalista, apresentador de TV , mestre em Ciências Sociais e Pesquisador Associado na UNICAMP

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3 Comentários

  1. Nossa! É impossível a gente se colocar no lugar desses seres que vivem perseguidos até bote, porque só quem vive ou viveu lá, para sentir tanto ódio por toda a vivência que seus antepassados viver e ainda os pretos na sua maioria , neste século permanecem encurralados na senzala…Forte, muito forte este desabafo…Só aposta nos salvará! Será?

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