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Adelia Prado , a guerra e a condição feminina

Texto, vídeo e apresentação de Marcus Ozores

Diário de Pindorama, 8 de março de 2022, terça feira e hoje se comemora o Dia Internacional da Mulher, data instituída pela ONU em 1975. E por isso continuo com o “Só a poesia nos Salvará” e hoje vim gravar na praça Buenos Aires, aqui no coração de Higienópolis e uma das praças mais lindas da Sampa nossa amalucada de todo dia.

A escolha do dia 8 de março pela ONU , remonta a essa data no ano de 1917, ainda na Rússia Imperial, quando as mulheres organizaram uma grande passeata de mulheres, em protesto contra a carestia, o desemprego e a deterioração geral das condições de vida no país. Operários metalúrgicos acabaram se juntando à manifestação, que se estendeu por dias e acabou por precipitar a Revolução de 1917. O mundo deu voltas e agora vivemos a guerra Russia x Ucrânia e novamente são as mulheres que mais sofrem.

  São mães, são cuidadoras, são soldadas, são as que perdem os filhos, são as que choram, são as vítimas da mais baixas cruezas humanas. Pior que as mulheres ucranianas que choram a morte de seus familiares ainda são vítimas de assédio e humilhação sexista por parte de um deputado fascista paulistano que é capaz de se excitar com as mulheres vítimas da guerra. Esse individuo desclassificado ainda atende pelo apelido “Mamãe falei”.

Mulheres na Luta contra violência em 08/03/2013 em BH/MG. Foto Wikimedia Commons Image

E como o Brasil é um dos países do mundo em que o número de mulheres vítimas de feminicídio é um dos maiores do mundo, hoje escolhi os versos de Adélia Prado. Essa mineira de Divinópolis tem o dom de nós surpreender com o detalhe, com as coisas pequenas e muitas vezes despercebidas para os olhos dos comuns.

Adélia Prado nos trás versos que vem de dentro da su’alma mineira densa e profunda. O primeiro livro de poesias de Adélia, intitulado ‘Bagagens’ foi publicado em 1976, quando ela tinha 41 anos. Esse livro foi publicado por insistência do seu patrono no universo das letras, seu conterrâneo Carlos Drummond de Andrade, que à época mantinha coluna no JB e encantou-se com os manuscritos da mineirinha de Divinópolis
E por isso escolhi de Adélia Prado o poema: “Com licença poética”  que é uma corruptela do mais famoso poema ‘Poema de Sete faces’ de Drummond.

Adelia_prado_2014_flickr by Wikimedia Commons

Com licença poética

Poema de Adélia Prado

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
A Hidrel Hidráulica e eletrica apoia a Cancioneiro Caiçara

Marcus Ozores

Marcus Vinicius Pasini Ozores é fotógrafo, jornalista, apresentador de TV , mestre em Ciências Sociais e Pesquisador Associado na UNICAMP

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5 Comentários

  1. Adélia prado é linda!

    “A cova, a mãe, o grande escuro é Deus,
    E forceja de nascer na minha carne”

  2. Thank you for your sharing. I am worried that I lack creative ideas. It is your article that makes me full of hope. Thank you. But, I have a question, can you help me?

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