Os Diários do Ozores

Baudelaire , São Jorge e o Dragão da Maldade

Diário de Pindorama

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Texto, vídeo e locução de Marcus Ozores

Marcus Vinicius Pazini Ozores, é jornalista e mestre em Sociologia, pela Unicamp.

 

 

 

 

 

 

 

 

Hoje é 11 de fevereiro de 2022, terceiro ano da peste. E estou aqui com “Só a poesia nos Salvará”.
Na Grécia antiga os oráculos costumavam deitar-se no chão e olhar para as nuvens para ler ou adivinhar o futuro de uma pessoa ou de um país. Estrabão, o historiador e geógrafo grego foi um dos grandes praticantes de nefelomancia, tendo até, dizem, escrito um tratado sobre o tema, mas essa obra se perdeu.

E hoje a manhã, aqui na minha República Livre Anarquista dos Tupinambás de Barequeçaba, o dia amanheceu azul com várias nuvens tão lindas que prontamente decidi praticar a Nefelomancia, arte a mim ensinada pela minha mãe que cultivou esse hábito nos três filhos e deitávamos num lençol branco que ela estendia, no quintal de casa em Araraquara, para observar as nuvens o céu. Ficávamos horas ali olhando fixamente para as nébulas identificando imagens de dragões, cavalos alados, cachorros, gatos e muitos outros. Todo o imaginário do mundo juvenil estava presente no céu. Conforme fui crescendo fui aperfeiçoando a minha arte da nefelomancia e comecei a encontrar no céu imagens de filósofos gregos, atrizes de Hollywood, e era até possível encontrar imagens dos meus jogadores de futebol.

1-St-George Wikmedia commons, obra de Sergei Panasenko 

E como o céu estava espetacular essa manhã, ao observar atentamente os ventos e as formações das nuvens vi foi um pesadelo, isto porque apareceu, nitidamente, a imagem do Dragão da Maldade do Planalto Central, em cima de um pangaré e bradando sua borduna.  Felizmente, numa formação de névoas que pareciam flocos de algodão, apareceu São Jorge montado no seu cavalo e empunhando a longa lança para enfrentar o Dragão da Maldade.
Foi nesse momento que me veio à mente um poema diálogo do francês Charles Baudelaire, autor do poema célebre “Flores do Mal” e considerado o fundador da tradição da moderna poesia intitulado o Estrangeiro. Mas o poema diálogo que vou ler é curto e tem como titulo

 

 

 

 

O ESTRANGEIRO’

Charles Baudelaire – Wikimedia Commons image

– A quem mais amas tu, homem enigmático, dize: teu pai, tua mãe, tua irmã ou teu irmão?
– Eu não tenho pai, nem mãe, nem irmã, nem irmão.
– Tens amigos?
– Você se serve de uma palavra cujo sentido me é, até hoje, desconhecido.
– Tua pátria?
– Ignoro em qual latitude ela esteja situada.
– A beleza?
– Eu a amaria de bom grado, deusa e imortal.
– O ouro?
– Eu o detesto como vocês detestam Deus.
– Quem é então que tu amas, extraordinário estrangeiro?
– Eu amo as nuvens… as nuvens que passam lá longe… as maravilhosas nuvens!

 

 

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Marcus Ozores

Marcus Vinicius Pasini Ozores é fotógrafo, jornalista, apresentador de TV , mestre em Ciências Sociais e Pesquisador Associado na UNICAMP

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