Beatriz Puertas, pioneira da Saúde e da Poesia em S. Sebastião
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Ela tinha 19 anos quando chegou aqui, em São Sebastião. Já independente financeiramente, pois trabalhava como tecelã numa das fábricas de tecidos da capital paulista, era uma beleza: de altura mediana, cabelos castanhos escuros muito fartos, boca carnuda , alva como uma manhã de sol e belos olhos verdes. Muito vaidosa, usava vestidos acinturados e rodados como era moda na época, salto alto e meia de nailon.
Sua aparência não negava, tinha ascendentes mediterrâneos. Sim, seu pai era um espanhol de Granada e a mãe, filha de italianos. Beatriz Puertas Moura, não queria vir morar no litoral. Nem suas irmãs que como ela, gostavam da agitação de uma cidade grande.
Beatriz Puertas em foto da sua pagina na Wikipedia
Mas fazer o que?! Naquela época, anos 1940, o que o chefe de família decidia, estava decidido. Nem mesmo os filhos homens tiveram coragem de enfrentar o pai na sua decisão de mudar para o litoral. A esperança de Beatriz era um noivo que ficou na capital e que, ela almejava, logo viria buscá-la.
Bia, como era conhecida pela família e amigos, tinha 19 irmãos. Sua mãe tivera 18 partos e 20 filhos já que duas de suas gestações foram gemelares. Seus cinco primeiros partos, foram assistidos por uma “curiosa”. Os outros nasceram com o pai fazendo o papel de parteiro.
O Encontro com seu grande amor
Nas terras caiçaras ele “enricou”: teve uma olaria, um açougue e uma mercearia. Infelizmente, quando morreu com a idade de 62 anos, seus filhos não conseguiram tocar os negócios deixados e acabaram todos os filhos homens sendo empregados.
Essa brasileira espanholada esqueceu do noivo da capital quando, numa tarde ao pôr do sol, avistou um pescador chegando na praia com sua canoa cheia de peixes. A partir de então, todas as tardes, sem ser vista, acompanhava os passos de novo amor, um homem lindo!
Numa festa foram apresentados: -”Prazer, Álvaro Moura. Mas pode me chamar de Filhinho, porque é assim que todos me conhecem.” Não deu outra, ela também encantou o caiçara e logo eles se casaram. Voltar para a capital, nem pensar…
Infelizmente o seu amor por toda vida, morreu muito cedo. Beatriz que ficou viúva com quatro filhos- um rapaz, duas adolescentes e a caçula com seis anos- acabou sendo faxineira de um local que na época correspondia a um posto de saúde.
Seu trabalho na Saúde
Guerreira com só ela, foi assistente de um conhecido médico da época, dr Carlos e acabou fazendo um curso de auxiliar de enfermagem dado pela Irmãs irlandesas que eram enfermeiras de alto padrão e trabalhavam no Hospital de Clínicas de São Sebastião.
Ela se aposentou na sessão de fisioterapia do hospital local.
As lembranças da filha Caçula
Para Débora, sua filha mais moça, sua mãe era uma pessoa muito especial.
”Uma vez, quando cheguei em casa para almoçar, pois eu trabalhava num banco, a casa estava cheia de pessoas que nunca havia visto. Era uma família de nordestinos : pai, mãe, avô, avó, primos, e um bebê que estava com a cor cinza que parecia morrer a qualquer momento. A mãe da criança tinha 13 anos.”
Débora continua
-”Minha mãe conseguiu um lugar para eles ficarem, emprego para todos e cuidou ela mesma da criança. Me lembro que ela durante a noite, acordava várias vezes para dar leite à criança com conta-gotas. O bebê sobreviveu e é hoje um homem”.
A avó do menino ficou tão grata à Beatriz que como não conseguia chamá-la por seu nome, a chamava de “Imperatriz”…
Essa é uma das inúmeras histórias dessa mulher que acolhia crianças em casa , para fazerem fisioterapia no hospital quando seus pais não tinham onde ficar na cidade e precisavam cuidar de outros filhos que estavam em suas casas.
A Poeta se revela
O mais bonito em sua história de vida é que ,depois de aposentada, Beatriz deu lugar à sua veia poética. Desde muito pequena ela costumava declamar para seus familiares.
Ela publicou cinco pequenos livros de poesia que estão na Wikipedia. Como homenagem a essa mulher valorosa, a Prefeitura de São Sebastião, durante a gestão do prefeito Ernane Primazzi, deu seu nome ao auditório do Abrigo Batuíria, no bairro de São Francisco. Esse local é um espaço de cultura com cursos de diferentes instrumentos, e também, aonde acontecem espetáculos culturais. Beatriz Puertas Moura nasceu em14 de janeiro de 1928 e morreu de um infarto, aos 76 anos, em 21 de março de 2004.
É isso aí, Bia…
-Esse texto foi inspirado nas conversas com Débora Puertas e na sua na crônica denominado Ela.
Um poema de Beatriz Puertas
Ser Mulher
Autora Poeta Beatriz Puertas
É muito bom ser mulher
ser amada, ser querida,
nos dá força para lutar,
contra as tristezas da vida.
Somos mães, somos avós,
somos bisavós também,
somos esposas ou amantes,
de quem queremos bem
Geralmente somos macias,
como as penas dos passarinhos,
mas nos tornamos leoas,
quando mexem com nossos filhinhos.
Não duvide da nossa força,
não nos confunda com um qualquer,
somos poderosas, maravilhosas,
porque somos simplesmente
Mulher!
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