O dia agentes da ditadura aprenderam inglês sem querer

Os Causos da Proeira
Por Priscila Siqueira
No início da década de 70 eu havia tido minhas filhas gêmeas e com cinco crianças pequenas em casa, ficou impossível para mim voltar a trabalhar fora. Porém, resolvi dar aulas de inglês voluntariamente para amigos interessados em aprender ou melhorar sua habilidade nessa língua estrangeira. Então, duas vezes por semana, eu saia de casa às nove horas e voltava às onze da noite, horário em todas as crianças da professora e dos alunos já estavam na cama dormindo com os anjos.
As aulas aconteciam na casa de uns vizinhos muito queridos, Pedro Mohl e sua esposa Maria Aparecida. Ele era funcionário do Banco do Brasil e ela professora primária e tinham três filhos homens. Eu levava comigo a pequena “vitrola” portátil que tínhamos em casa e os discos vinil do “Professor Eletronic Method”. A sala de visitas deles ficava repleta de alunos: o Médico Zaire Resende e sua esposa, Neuza- enfermeira de alto padrão; Anna Maria, a Naná esposa do dr. Escada que na época fazia um curso de pós graduação na Faculdade de Saúde Pública da USP, na capital paulista; os médicos Álvaro e Eliza Mendonça e meu marido João Augusto Siqueira.
Em uma dessas noites, em meio a aula, a porta da sala foi aberta repentinamente e com grande estrondo. Cerca de seis homens, alguns com armas à mostra, irromperam na sala para espanto nosso. Seu líder era o então responsável pela Receita Federal em São Sebastião.
Quando vi surgir esses homens mal encarados na sala, não tive dúvidas. Convidei a todos que achassem um cadeira para se sentarem e se juntassem a nós na classe de inglês.
-“Que bom que que os senhores querem também aprender inglês. Sejam muito bem vindos!”, falei com o maior cara de pau.
Assim, todos eles, depois de tomarem o cafezinho com lanche que gentilmente a dona da casa oferecia todas as aulas, os novo “alunos” tiveram de participar da aula, fazendo exercícios e respondendo às perguntas que a mestra fazia. Alguns deles, mal conseguiam conter o riso e a vergonha da “rata” que haviam participado.
Obviamente, apesar do convite de continuarem estudando inglês, os recém chegados discípulos não apareceram mais… Provavelmente eles acreditavam que aquelas reuniões faziam parte de algum grupo revolucionário e que iriam desbaratar um “aparelho” …
É minha gente, é isso que acontece em épocas de Ditadura. Segurança você não tem em lugar algum. Mas dessa experiência, que acabou virando piada entre nós, teve um ponto positivo. Tempos depois, quando voltei a dar aulas, o responsável pela Receita Federal de São Sebastião, matriculou-se em meu curso de inglês, afirmando ter gostado muito da aula que havia participado naquela noite fatídica…

Adorei, era bem assim mesmo,segurança nenhuma, no Colégio onde morei,vez ou outra os “agentes apareciam fora de horas para ter uma “conversa com Irmã Laura.colégios, professores, certas conversas nem pensar.Agora muito legal a forc6de Espírito dela de convida -los para a aula,muito boa essa.Provade quem conviveu e aprendeu com Dom Helder Câmara..nota vinte para o causo verdadeiro.
Kkkk, fico imaginando a cara dos agentes da ditadura na aula de inglês e o sangue frio da Priscila em covidá-los para assistirem a aula, como se estivessem alu com este objetivo. É a nossa Priscila te estratégicas, e nesses tempos que vivemos ela continua sendo uma líder que com suas experiências a gente vai aprendendo muito, principalmente com lidar neste momento que nem sabemos mais em qual posição estamos no nosso País…Ditadura, Comunismo ou Democracia…vixi Santa minha cabeça já está toda embananada…
Como diz o ditado, deram com os burros na’gua. Alguns talvez nunca tinha participado de uma aula de inglês, ótimo tática Priscila para motivá-los. KKKKKK
Somente você para fazer-nos rir destes tempos tão violentos!