Temos que nos reinventar
Diário do ano da peste de 2021
Texto e vídeo de Marcus Ozores
E hoje já é segunda feira inicio de mais uma semana. E quando se inicia nova semana ainda mais nesses tempos sombrios que vivemos num movimento pendular entre a peste e a loucura do mandatário é inevitável pensarmos no Tempo que nos foi dado ou foi roubado, depende do ponto de vista.
Porém, o que é o Tempo? Para o Filo Gastrotricha, um animal microscópio, a esperança dura entre três e quatro dias. As abelhas vivem de 30 a no máximo 60 dias e trabalham produzindo mel sem parar. E as moscas vivem 28 dias para atazanar a nós, comuns mortais humanos. Vejam vocês, as minhocas nossas queridas amigas que vivem debaixo da terra ou na ponta dos anzóis vivem até 18 anos. Já a sequoia, aquela árvore imensa que existe no costa oeste dos EUA chega a viver 3 mil e 500 anos. Já as oliveiras que produzem o saboroso azeite e uma infinidade de produtos maravilhosos chegam a viver quase 3 mil anos. E uma videira que faz bons vinhos até 120 anos.
E fico pensando com meus botões se a abelha já perguntou um dia à Sequoia porque ela vive 3,5 anos e ela abelha só 30 dias. E nós os sapiens já perguntamos à mosca porque ela vive tão pouco e nós os racionais vivemos um tempão tão grande? Na verdade, o Tempo não existe. Ele só existe para nós aqueles que se acham os mais inteligentes do mundo animal e vegetal porque sabemos desde pequenininhos que eu, tu, ele e nós todos vamos morrer. E como já sabemos desde que nascemos que vamos todos morrer aproveitemos da melhor maneira possível o Tempo que temos para reinventarmos a melhor maneira de viver aqui, como inquilinos com tempo marcado nessa Geia de todos nós.
E para lembrar o tempo e a reinvenção da vida trago para vocês aqui no “Só a poesia nos Salvará” do tédio e das loucuras do capitão o poema intitulado “Reinvenção” da poeta carioca Cecília Meireles (1901-1964), responsável por uma poesia intensa, intimista e visceral e uma das maiores escritoras da literatura brasileira.
Seus poemas são extremamente musicais e não estão filiados a nenhum movimento literário específico, embora a maioria dos críticos rotule a escritora como pertencendo à segunda geração do modernismo brasileiro. Entre os seus temas mais frequentes estão o isolamento, a solidão, a passagem do tempo, a efemeridade da vida, a identidade, o abandono e a perda.
Reinvenção
A vida só é possível
reinventada.
Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas…
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo… — mais nada.
Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.
Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.
Não te encontro, não te alcanço…
Só — no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só — na treva,
fico: recebida e dada.
Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.
Cecília Meirelles

Muito legal essas considerações sobre o tempo durável de cada um;E Cecília Meireles é maravilhosa,gosto dos seus poemas tantos os infantis como os outros,ela fala a nossa alma.