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Diários do Ozores: não existe nada igual aos domingos de Paris

DIÁRIO DE PARIS 12 DE FEVEREIRO DE 2023

Hoje a caminhada foi mais longa que ontem, atingindo um total de 7 km bem contado saindo do apê, aqui da Rue du Père Corantin (14éme), até o Marché dos Enfants Rouge (3éme – dica do Marcius Freire que viveu mais tempo em Paris que no Brasil).    Mas hoje ao invés de subir a rue da Tombe de Issoire subi a general Leclerc. Ao chegar na esquina da rue Alesia avistei umas duas dezenas de crianças vestidas com becas brancas e carregando cruzes nas mãos. Era o dia da primeira comunhão na igreja Saint Pierre de Montrouge, igreja preferida do meu amigo João Romano aqui na cidade. João morou aqui pertinho quando fez seu doutorado na cidade.

Foto Marcus Ozores – Primeira comunhão
“somos já pessoas semi descartadas, mas os jovens parecem não se interessar em projetar mais o futuro…”

Subindo a Gal Leclerc logo após cruzar novamente com a rue Daguerre em frente a estatua daquele leãozão (que está preto de tanto poluição) havia uma manifestação imensa em defesa da democracia no Irã. O que me causou espanto é a falta de jovens nas manifestações políticas. Tenho a impressão que só nós, os mais velhos, estamos preocupados com o futuro não para nós, pois, somos já pessoas semi descartadas, mas os jovens parecem não se interessar em projetar mais o futuro. Digo isso por ser assíduo frequentador de ‘manifes’ pelos centros de Sampa e Paris.

Continuando a marcha pela av. Gal Leclerc cruzei com av. de Montparnasse, pela calçada da esquerda passando rente a Closerie de Lilas, apelidado de bar dos americanos no início da primeira década, do século passado, e ponto da chamada geração perdida. Aliás, esse era o café preferido de Hemingway antes de ficar famoso e onde podia pendurar as contas dos scotch que bebia aos montes para ganhar forças etílicas para discutir e brigar até altas horas da noite. Veja no Link

 O Jardim de Luxembourg

Logo a frente da Closerie fica a entrada do Jardim de Luxembourg pela Fonte das Quatro Partes do Mundo, representadas por quadro cavalos (pena que não são alados). Aí, confesso a vocès que senti uma dor danada no peito. Esse era o lugar preferido do meu irmão amigo Zé Dias Sobrinho e da Márcia Brito. Eu, Wilma, Zé e Márcia nos encontramos várias vezes em Paris e caminhamos juntos pela cidade sem rumo deixando-nos levar pelo acaso descobrindo em cada canto e em cada antro, uma história diferente.

Foto Marcus Ozores

Infelizmente Márcia partiu há quatro anos, assim num de repente deixando os amigos atônitos e o meu amigo Zé partiu ano passado, deixando um buraco imenso no peito dos amigos. Quando entrei no Jardim juro que vi o Zé, com seus mais de 1 metro e oitenta e poucos caminhando pelo parque livre, leve, solto, sempre rindo e tendo uma observação jocosa para contar. Zé foi apaixonado por Paris a vida toda desde que veio fazer seu pós-doutorado aqui há muito tempo atrás.

“Não existe nada igual aos domingos de Paris “

Como hoje é domingo, hoje é aquele dia que Nosso Senhor Jesus Cristinho permite um pouco de pecado a mais já que todas as igrejas estão abertas e, se não com missa, com concertos de música erudita. Não existe nada igual aos domingos de Paris, comparados com a Terra de Pindorama. Metade da população parisiense, aumentada pelos turistas vindos de todas as partes do mundo, invadem as ruas centrais das duas margens.

Foto Marcus Ozores

Uma multidão de gente. O mais divertido é ver e fotografar aqueles e aquelas que se preparam a semana toda ou uma vida- toda para estar presente no footing domingueiro da Vila de Paris. Essas pessoas vestem suas melhores roupas e, a grande maioria dos jovens, criam seus personagens em frente ao espelho e saem para ver e serem vistos. Os asiáticos são, sem sombra de dúvida, os mais performáticos.

Square du Temple a  praça em que Felipe o Belo invaidiu a fortaleza dos templáris

Depois de quase duas horas de caminhada subi a rue des Archives até encontrar a rue Bretagne onde está localizada Square du Temple. Nessa praça num 13 de outubro de 1307,o rei Felipe II, conhecido pela alcunha de Felipe, o Belo, mantou suas tropas invadirem a fortaleza dos Templários e prender todos os cavaleiros templários, incluindo a autoridade suprema e único membro mais poderoso da ordem, grão-mestre Jacques de Molay, preso sob acusações que incluíam adoração ao demônio, blasfêmia, idolatria e homossexualidade. A ordem foi extinta e Felipe, o Belo, se apoderou do tesouro da ordem para acerta o balanço do seu reinado. Fica aí o registro para aqueles que gostam dessas histórias……

Virando a rue Bretagne a direita na terceira quadra você encontrará o Marché dos Enfants Rouge que vem a ser o mais antigo mercado coberto de Paris, inaugurado em 1615. O nome advém dos órfãos que vestiam roupa vermelha e saiam as ruas de Paris para mendigar pedindo esmolas em nome do orfanato que, na verdade, nunca veio a funcionar.

Aqui tem prefeitura que ajuda a melhorar a vida dos cidadãos todos

Durante muito tempo o Marché, localizado no Marais, esteve largado às traças assim como todo o bairro. Na década de oitenta quase que o prédio foi ao chão mas a prefeitura (aqui tem prefeitura que ajuda a melhorar a vida dos cidadãos todos eles não só os branquinhos que moram nos Jardins e nos condomínios fechados como no Brasil) decidiu reformá-lo e voltou a funcionar no ano 2000, junto com novo milênio.

Aqui tem prefeitura que funciona. Foto Marcus Ozores

Se você vier a Paris e quiser comer barato e excelente comida venha ao Marché des Enfants Rouge que não vai se arrepender. Apesar de ter muita moçada você sempre encontrará um lugar para forrar o estômago e se deixar seduzir pelos aromas que se misturam vindos do Marrocos, do Libano, do Japão, da Itália, da creperie francesa, ou se preferir tem um cantinho onde você encontrará ostras frescas acompanhadas de um excelente Chablis, da Borgonha.

Foto Marcus Ozores

No fim da caminhada uma passagem rápida pelo Centro Georges Pompidou, mais conhecido como Beaubourg quando o sol se despedia da cidade em grande estilo.
Amanhã tem mais.

Marcus Ozores

Marcus Vinicius Pasini Ozores é fotógrafo, jornalista, apresentador de TV , mestre em Ciências Sociais e Pesquisador Associado na UNICAMP

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