Os Diários do Ozores

Tava bonita a festa pá!

Diário do ano da peste de 3 de outubro de  2021

Texto e vídeo de Marcus Ozores

E de volta ao espaço virtual de onde me ausentei durante 48 horas e que não tem nenhuma importância. De volta a Sampa após permanência de 16 dias ao lado do mano mais velho, hoje é domingo dia 3 de outubro. E continuo me indignando com a fome que está aumentando aqui nas Terras de Pindorama e continuo a me indignar com o aumento de pedintes pelas ruas dessa cidade e de todas as cidades brasileiras. E protesto lançando versos contra a hipocrisia nacional com o “Só a poesia nos Salvará”.

E ontem foi dia de caminhar durante umas cinco horas atrás do trio elétrico da Paulista gritando “Fora Bozo”. Confesso que esperava muito mais gente do que vi, mas a festa tava bonita pá.  A direita odeia, mas as festas e protestos da gente progressista são alegres, divertidas e trazem o sorriso de volta à socapa. Dois cartazes me chamaram atenção durante minha caminhada no meio da massa de manifestantes. O primeiro feito numa folha de papelão e carregado por duas amigas tinha os seguintes dizeres: “Quem partiu era o amor de alguém”.

O segundo cartaz era pequeno, pouco maior que uma folha de A4, e o jovem que o erguia com orgulho tinha os seguintes dizeres: “Armados de Poesia”. O jovem do cartaz faz parte do grupo de Slam poético das periferias dessa Sampa Desvairada dura, nua, crua que é difícil de se apaixonar.

E para render homenagens a essa cidade trago para vocês a poeta Elizandra Souza, nascida em 1983 foi criada no Grajaú, na periferia da zona sul. Elizandra Souza foi batizada no hip hop na década de 1990, dedicou-se ao fanzine e se tornou jornalista e editora. Elizandra se fez poeta nos encontros de Slam poéticos promovidos pela Cooperfila

Em 2004 Elizandra Souza passou a frequentar o Sarau da Coopefila  realizado semanalmente na periferia de Sampa e nesse mesmo ano teve seus primeiros poemas publicados no Ato III da Literatura Marginal/Caros Amigos. Hoje Elizandra conta com vários livros de poesia publicado e se dedicada a cinegrafia. Vou ler para vocês de Lizandra Souza o poema

Estradeira

Hoje a poesia veio triste
Despedidas são sempre o vazio
O que não existirá mais
Essa dor que arranha a garganta
Embarga a voz
E essa liberdade das águas dos olhos
Caindo descontroladamente…

Hoje a poesia veio triste
Como a vitória regia solitária no rio
Como uma estradeira que não olha pra trás
Fecha a mala, tranca a porta
E segue em direção ao desconhecido
Engole a poeira, pisa firme nas pedras…
Não deixa saudades, não deixa Amor

Hoje a poesia veio triste
Como final de um espetáculo
Daqueles que só alguns vestígios
Permaneceram no público.
Daquelas conexões sem nenhum sentido
Histórias cruzadas por mero acaso
Não era destino, era a vida por um triz!

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Marcus Vinicius Pazini Ozores, é jornalista e mestre em Sociologia, e pesquisador na Unicamp. Trabalhou em grandes órgãos de mídia nacional. Atualmente solta torpedos em versos de seu refúgio a praia de Baraqueçaba, em São Sebastião, onde reside.

Marcus Ozores

Marcus Vinicius Pasini Ozores é fotógrafo, jornalista, apresentador de TV , mestre em Ciências Sociais e Pesquisador Associado na UNICAMP

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2 Comentários

  1. Atualmente está tudo mesmo triste. Pandemia que assolou o mundo. Pessoas queridas que partiram, sem direito a velório. Família passando fome. Crianças com seus olhares perdidos. Adolescente sem vida social. Idosos continuam restritos na sua vida social. Ai que vontade de pegar uma estrada, uma malinha e partir pra algum lugar…ficar quietinha, sem pensar no que estará por vir…

  2. De fato mediante a tanta coisa até poesia sai triste,o dia em que vi pessoas esperando ossos para se alimentarem fiquei extremamente chocada,estamos retrocedendo a passos largos e sem poesia.

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