Aprendiz de Mãe

Experiência Viva e a arte de Ritaleezar.

Por Liv Soban.

Foto: F. Motter

Ouça o texto no nosso podcast acima

Uma das coisas que mais aprendo na maternidade é que não existe regra que valha para a sua jornada. Óbvio, há semelhanças, aprendizados com o que acontece com os outros, mas parece que os filhos vêm para te escancarar que absolutamente nada será como você planeja.

E não estou falando somente das coisas macros – tipo de parto, forma de amamentar, chupeta ou não chupeta, papinha ou BLW (tipo de alimentação que se introduz alimentos inteiros) -, mas sim das micros, do cotidiano. A soneca vai ter? Ela vai mamar quanto por vez? O coco vai vazar da fralda? Ela ficará em algum momento no bebê conforto hoje? Você começa o dia sem muito saber como será e daí fica muito difícil você fazer grandes planejamentos.

O nosso pediatra – digo nosso porque estes médicos atendem mais os pais que as crianças (e quanta paciência têm!) – fala sempre sobre esta experiência viva. Que você tem que ganhar a sabedoria com o carro em movimento. Deixar rolar e aprender durante o processo.

Há um norteamento, há as dicas das mães experientes, das avós… o grosso porém é que se aplicar tal e qual, grandes chances de não adiantar. Precisamos absorver a informação e adaptar para a nossa realidade. Caso contrário, desilusão completa por não funcionar com você. E, assim, você ganha de presente uma grande culpa para carregar na sua mochila já bastante pesada.

E acho que assim é com a vida também. Quanto mais acharmos que seguir uma receita alheia é a fórmula do sucesso, mais estaremos nos agredindo.

Sei que é extremamente mais fácil seguir uma fórmula, não tem que pensar, não tem que criar nada, é só ir lá e repetir o processo até cansar. Às vezes dá certo, muitas vezes não.

Acabamos nos machucando, iludindo, aumentando nossos vazios até ficarmos com uma vida sem sentido, afinal estamos reproduzindo o caminho do outro, não o nosso próprio.

Estes dias li que a sósia de uma das Kardashians havia morrido em uma cirurgia estética. Eu fiquei indignada porque não consigo entender esta fixação por ser parecido com alguém a ponto (e não é a primeira) de morrer em uma mesa cirúrgica. E foi então que percebi que, ao seguir muito um caminho que não seja o meu ou querendo que minha bebê tenha um comportamento específico, estou, de uma forma ou de outra, sendo também sósia.

Em algum dos meus textos, já usei a frase de Jung sobre o fato de nascermos originais e morrermos cópia. Fomos criados a seguir os passos de nossos pais, de alguém a quem temos admiração, somos levados a achar que o mais fácil é o que já está pronto quando, na verdade, estamos nos encaixando em um padrão que nem temos como caber.

Vejo que hoje tem muito mais gente desbravando seus próprios caminhos, o que traz um tanto de orgulho de nossa humanidade. Só temos que prestar atenção se não é a mesma coisa disfarçada de nova roupagem, porque somos especialistas também em nos enganar achando que estamos inovando quando na verdade a única coisa que fazemos é fantasiar o velho.

Com a morte da grande Rita Lee, tudo isto me veio à mente. Porque se teve alguém que seguiu a sua estrada, foi ela. Não tem como não admirar uma mulher como ela que sempre foi ímpar. Em tudo que fez e viveu. O que me fez pensar: honrar Rita Lee é ser você mesma.

Eu, aqui, como aprendiz de mãe, chego ao final dos meus dias exausta. Gerenciar trabalho, maternidade e todos os papéis que cabem a mim neste dia sem planejamento é completamente cansativo. Se estou conseguindo construir meu caminho sem seguir nenhum outro? Se estou “ritaleezando”?Ainda não sei. Só sei que, ao ganhar esta consciência, talvez eu consiga não ser sósia ou cópia de ninguém em algum momento desta minha jornada.

 

LIV Soban , colunista  da Cancioneiro  Caiçara é jornalista  e comunicóloga,  com mestrado pela UCA . E Escritora , autora dos livros O Encantador  de Pessoas  e Sociedade Na Nuvem. Atualmente   é aprendiz de Mãe  .

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