Os Diários do Ozores

Flanêur em Paris ou por aí é bom diz João do Rio

Diario de Paris, 21 de fevereiro de 2023

Texto e fotos de Marcus Ozores

Marcus Vinicius Pasini Ozores e jornalista e pesquisador associado da Unicamp em Ciências Sociais
Marcus Vinicius Pasini Ozores e jornalista e pesquisador associado da Unicamp em Ciências Sociais

Acordo todas as manhãs muito cedo, muito antes da luz do sol me despertar, já que durmo sem veneziana e tampouco cortina. Após passar um café fumegante na prensa francesa (pena que os grãos são tenham vindo da Cooxupé) sento frente ao laptop para acompanhar noticias do Brasil e do mundo.

Como tenho me dedicado esses dias a flanar por Paris me lembrei de um ilustre brasileiro que admiro muito, João do Rio, um dos mais profícuos romancistas, jornalista, teatrólogo da sua geração. João do Rio nasceu em 1881 e faleceu em 1921, com apenas 40 anos, de infarto, dentro de um táxi na cidade onde nasceu e morreu, sua amada Rio de Janeiro. E porque estou eu aqui em Paris falando sobre esse mestre das palavras que foi membro da ABL logo no início da sua fundação? O motivo é que João do Rio tem um dos mais admiráveis livros sobre a arte de flanar que já li que tem como título “Alma encantadora das ruas”(leia grátis aqui). Nesse livro João explica a importância de caminhar pelas ruas.“Só a pé, diz João, se é capaz de descobrir nas ruas, estranhas histórias que nunca ninguém nunca imaginou. Foi assim que em 1904 ele publicou uma série de matérias, no Correio da Manhã, mapeamento das religiões afro no Rio de Janeiro.

 

Flanear é  muito bom – musee de la vie romantique

João do Rio pode ser considerado também como o primeiro antropólogo brasileiro. Além do mais “Alma encantadora das Ruas” é o livro que me recorro sempre naqueles dias em que tudo dá errado. Me lembrei também que João do Rio foi um grande flâneur aqui em Paris. Esteve na cidade, no mínimo três vezes (naquela época só se vinha de navio para cá) ficando longas temporadas. Publicou as matérias das suas viagens aqui na terra de Robespierre no Correio da Manhã, no período que vai de dezembro de 1908 a maio de 1909. De uma perspicácia arguta e inquisidora João entrevistou artistas de teatro, musas do show de revista e muitas linhas sobre sua Paris amada que, à época, a capital cultural do mundo e do automóvel.

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Como ontem relatei que o Musée de La Vie Romantique estava fechado, hoje voltamos para nova visita. O melhor é que praticamente acabou o inverno e já se pode sair sem os pesados sobretudos. Dia de sol e céu de brigadeiro, o Musée estava lotado e a casa de chá debaixo das árvores estava repleto de chineses e alguns franceses.

A casa que abriga o museu pertencia Ary Scheffer que recebia a fina flor dos artistas que moravam em Paris. Além do mais a casa era um dos polos irradiadores da Nova Athena, projeto de buscar no classicismo grego uma releitura do século XIX no coração do 9éme arrondissement. Além de Geoge Sand que se hospedava muito aqui frequentavam o ateliê de pintura de Scheffer Litz, Chopin (um dos amantes de Sand que morreu muito jovem de tuberculose),Pauline Viardor a mais importante soprano da época e poetas, escritores.

A entrada do Musee de La vie romantique é pelos fundos

Se entra no museu por um corredor estreito e no fundo se abre para as instalações. Na entrada de cada lado existem dois ateliers que Scheffer usava para pintar e para recepcionar suas visitas diárias. No atelier principal um piano de cauda está localizado no meio da salão. A ideia é fazer você acreditar que Chopin tocava lá todas as noites, o mais provável é que o piano ficasse na sala da casa uma construção à parte,  com jardim do lado direito.

O Piano de Chopin? Só que não

O museu tem belíssima coleção com obras de Scheffer e outros pintores amigos. Destaco, para quem decidir visitar esse museu, o quadro da Princesa de Joinville que vem a ser a quarta filha de D. Pedro I e irmã do nosso segundo e último imperador, D. Pedro II. Uma das salas de pintura é dedicada à Figura do Diabo que virou moda em toda Europa após a publicação do livro ‘Fausto’ publicado pelo alemão Johann Wolfgang von Goethe, em 1908. História do homem que vende sua alma ao diabo.

A princesa de Joinville

Depois da visita o melhor, descer a pé do alto da montanha desta vez pela Rue Blanche até avenue de l’Opera para pegar o busão 68. Claro que no caminho você encontra vários teatros o ‘Les Producteurs’ que tem várias salas e hoje exibia, a tarde,  uma peça infantil e passamos no horário que os pais saiam com os filhos do espetáculo.

No teatro os pais saíam do espetáculo com as criançasDescendo a rue Blanceu paramos num café de livros, isto é, um desses cafés modernosos para a moçada com poltronas super confortáveis, wifi, e uma estande com livros de uma jovem editora especializada em romances policiais e de suspense que, pelo jeito como vi a moçada lendo – já que os livros estão à disposição – parece que editora deu muito certo. Uma mocinha sentada próximo a janela já havia lido umas quase 100 páginas pelo que pude observar de rabo de olho.

leitora jovem em Paris

 

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Bem, após contornar o prédio da Opera Garnier passamos ao lado do Café de la Paix, um dos lugares preferidos do nosso conterrâneo, Santos Dumont. Só lembrando que a família de Santos Dumont era uma das mais ricas do Brasil, no final do século XIX e início do século XX. Ao atravessar a encruzilhada de ruas a visão no fundo a avenue de La Paix a torre Vendôme onde se localiza o Ritz, onde os milionários do mundo vinham se hospedar e jantar.

Post Scriptum – Guerra na Ucrânia

China enviará armas e armamentos para Moscou

Além do terremoto na Turquia e Síria, da tromba d’água na minha querida São Sebá , vejo com apreensão a chegada do primeiro ano da guerra entre Rússia e Ucrânia. Ontem, o presidente Biden desviou o voo do Air Force One com destino a Varsóvia e aterrissou em Kiev onde manteve encontro não previamente agendado com o ex-comediante e atual presidente Wladimir Zelensky. Biden só parou durante algumas horas para reafirmar a intenção dos EUA em continuar a enviar armamentos para a continuidade da guerra.

Nos noticiários do ‘The Guardian’ de ontem li que Ji Ji Pin o mandatário da China afirmou, pela primeira vez, que a China enviará armas e armamentos para Moscou numa atitude de desafio ao governo norte -americano. Meu temor particular é que um maluco aperte um botão errado – já que existem milhares de armas atômicas espalhadas pela ex fronteira da antiga URSS – e aconteça uma guerra total.

Enquanto isso nós, ou seja, a população do planeta Terra somos reféns da briga dos cachorros grandes que nunca falam em paz, em parar a guerra, ao contráriom os EUA e os países da OTAN, veem incentivando a guerra por um lado e Putin pelo outro. Me lembro, contudo, um ditado muito antigo que diz: “Não se chuta cachorro morto”.

Amanhã tem mais.

Vamos ajudar os desabrigados de São Sebastião e de todo litoral norte

 

https://editora.cancioneirocaicara.com.br/?s=Dorcas

Marcus Ozores

Marcus Vinicius Pasini Ozores é fotógrafo, jornalista, apresentador de TV , mestre em Ciências Sociais e Pesquisador Associado na UNICAMP

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