Os Diários do Ozores

Greve de Paris, Uberização e a crise bancária no Deus Mercado

Texto e fotos de Marcus Ozores 

Dia conturbado em Paris e no mercado financeiro. Hoje a França despertou sob os apitos das centrais sindicais que se preparam para hoje o oitavo dia de mobilização nacional contra o aumento de dois anos na aposentadoria. E prometem paralisar a capital e boa parte do país, a começar pelo transporte urbano e nacional (leia-se estações ferroviárias e aeroportos). E hoje começa a votação na Câmara dos Deputados e as centrais sindicais prometem um apitaço que pretende acordar as Tétis, aquelas ninfas que habitam o Sena, desde os tempos da antiga Lutetia.

Por outro lado, a manchete do ‘Le Monde’, de agora a tarde, dava conta da queda vertiginosa, na bolsa de Paris, o CAC 40, em decorrência de queda história de 30% no valor das ações do ‘Crédit Suisse’, seguindo a quebradeira bancária, iniciada no último final de semana nos EUA. A queda livre se deu logo após as declarações de um sheik saudita que vem a ser contra parente de outro sheik saudita biliardário – e um dos maiores acionistas do Crédit Suisse – que deve ser o maioral por lá, e que abriu seu bocão, hoje cedo, para falar que a quebra do banco do Vale do Silicio vai provocar nova crise mundial. Já que o capital não tem pátria, como dizia o velho barbudo, o tal do capitalismo financeiro – que 99% da população mundial não faz ideia do que é, mas finge que sabe – começou lá na década de 1980, com ascensão da Dama de Ferro e do Ronald ‘Cowboy’ Reagan. Resumindo os melhores momentos: surgiram os yuppies, os sangue sugas do mercado de ações em NYC, daí os Bancões norte americanos contrataram um monte de engenheiros que iniciaram a tal da reengenharia financeira (todos com doutorado em rapinagem) e iniciaram as construções dos criadouros de dinheiro. Funciona assim:

Você coloca seu dinheirinho conquistado com muito esforço em fundo de investimento, na porra do banquinho do seu país. Os geneticistas engenheiros desse Bancão inseminam a uma nota de 2 dólares para transar com uma nota de cinco daí, graças as novas tecnologias bioeconômicas, nasce uma nota de 6,5 dólares. Que, na verdade, não existe, mas na contabilidade do Bancão dá como existente e, portanto, passa a existir. Ai esse Bancão vende o mico para um outro Bancão de Londres que vende para outro da Islândia, que vende para outro da Austrália que repassa para outro Bancão do Vietnã, que vende por Bancão dos Árabes (ai até Alá está dormindo) até que a porra de um Banquinho lá do Fines Terre argentino, de Punta Arenas, o tal do ‘El punhetito’, resolve trocar o título por dinheiro. Daí….daí….a pirâmide, não aquela do Egito não, mas a pirâmide financeira montada por aquele Bancão começa a ruir.


Esse tal de capitalismo age assim, há quase 300 anos, e como o dinheiro, é o único Deus Verdadeiro, e para que todo o sistema não caia em efeito cascata como um castelo de cartas o Presidente do país do Pato Donald e onde fica aquele Bancão que criou a confusão, manda que a Casa da Moeda imprima mais dinheiro para pagar o débito assumido pela roleta do Banco do Vale do Silício, e o Mundo continua Girando e a Lusitana Rodando, quem se lembra?

E daí José. Daí quem paga realmente a conta? Os lixeiros parisienses, é claro, afinal eles não querem trabalhar dois anos a mais e se aposentar aos 64 anos PQP!!!!  São esses os irresponsáveis, aqueles que não pensam no futuro da humanidade nem no futuro dos seus filhos, dos deles e toda a filharada do mundo inteiro. Agora, o maior cinismo que vi hoje foi a tropa de choque de fake News, do ‘Petit Napoleon’, que resolveu dar bom dia para os moradores de Paris afixando cartazes, ao lado das pirâmides de lixo, em lugares estratégicos nos 8éme e 16éme, os bairros onde moram os ‘Bôbos’ com os dizeres: “A culpa da greve é de Hidalgo”, a prefeita socialista da cidade, que está no seu segundo mandato. Claro que a imprensa corporativa estava lá para fazer a cobertura.

Bem, hoje minha sobrinha Victoria e amiga Jana voltaram para o Brasil e eu e Wilma fomos antes almoçar no restaurante tailandês aqui pertinho do apê que elas adoraram. Voltamos para casa para que elas terminassem de arrumar as malas e aguardarmos o táxi – que agendei pelo aplicativo G7. Vai aí uma dica para quem vem para cá. Abaixe esse aplicativo – que ganhou o prêmio de melhor do ano de 2022 – e que resolve todos os seus problemas para locomoção na cidade, caso não se locomova com a Carte Navigo, como nós.

G7 é um aplicativo só para táxis oficiais da cidade de Paris direcionado à corporação de ofício deles, é claro, e que não explora a mão de obra. Um substituto para o Uber que fica com 40% da corrida e o dono e trabalhador do veiculo não tem nenhum direito, só despesas.

Taí, uma bruta discussão no Brasil de quem não entende pitombas de economia que diz que o governo Lula está dando uma banana para o Uber e se o Uber sair haverá desemprego em massa. Se o Ubere sair o Brasil que é um dos maiores exportadores de software do planeta conseguirá, em pouco tempo, fazer um aplicativo verde amarelo nacional ou cada cidade desenvolve o seu. Foi o que fez Araraquara* e deu exemplo, durante a pandemia, desenvolvendo um aplicativo tipo Uber só para motoristas cadastrados da cidade. Vamos embora que atrás vem gente.

 

Post scriptum: amanhã conto como foi o inicio dos debates na Câmara. Temos um jantar na casa de uma amiga lá perto da ‘Place de Vosges’ e, como voces sabem, Paris dorme cedo.

Amanhã tem mais.

 

*Nota da Redação

  Muito oportuna essa citação de Marcus Ozores sobre a iniciativa de Arquara de ter um aplicativo de transporte alternativo aso famigerados Uber e 99 . cidade de Guararema-SP foi a pioneira nessa iniciativa. Nessa cidade o grupo político que comanda a prefeitura e a Câmara não se submeteu à ganância da Uber e criou na vcidade um aplicativo local o Zoom que é melhor que essas multinacionais tanto para os motoristas quanto paros usuários. Tanto que a Zoom hoje atende também Mogi das Cruzes. Veja aqui como funciona o Zoom de Guararema 

 

Marcus Ozores

Marcus Vinicius Pasini Ozores é fotógrafo, jornalista, apresentador de TV , mestre em Ciências Sociais e Pesquisador Associado na UNICAMP

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