Os Diários do Ozores

 James Bond morreu

Diário do ano da peste de 7 de outubro  de 2021

Texto e vídeo de Marcus Ozores

E hoje é quinta feira, dia 7 de outubro e nem me lembrem dessa data terrível do calendário, pois, hoje é dia de ir ao consultório do meu amigo e dentista João Carlos, fazer tratamento de canal.

Mas para compensar as horas que irei passar sentado na cadeira e com meu meu campo de visão restritíssimo vou fechar os olhos e lembrar que ontem fui pela primeira vez ao cinema desde fevereiro de 2020 para assistir a morte de Bond, James Bond. Sim genteeeeeeemmmmm , é verdade definitiva James Bond está morto. Ian Fleming deve estar se revolvendo na tumba, pois, afinal , seu herói morreu fora da sua Jamaica amada, onde escreveu a maior parte das histórias do seu herói machista e, portanto, fora do politicamente correto dos dias atuais. Mas o roteirista já engatou a continuação da história e em breve teremos uma James Bonda negra no papel do herói criado no caldo de cultura da Guerra Fria e ameaça nuclear.

Agora a guerra é bacteriológica, cosmológica, intergaláctica, nanonanomicrobiótica (olha meu amigo Nasser Hassan, sua área)etc. E para ser mais politicamente correto , James Bond teve uma filha que em breve estreará , a James Bondinha conta a Gênia do Mal Absoluto. Apesar das piadas que são inevitáveis após ver mais um James Bond, quando vou assistir  volto aos meus 12 anos,  quando fui impedido de entrar no cinema, para assistir o inesquecível “To Russian with love”, com o mais inesquecível ainda Sean Conery.

E ontem aqui bati faíão , não sem motivo, pois, fui a Campinas levar meu carro na oficina e como sempre,na volta , engarrafamento. Onde? Na marginal, é claro. Mas hoje continuamos com nossa série contra a imbecilidade nacional com “Só a poesia nos Salvará”. E vamos que vamos.

E como o tema da minha introdução foi Bond, James Bond , para seguir na mesma linha só relendo poemas do mestre Haroldo de Campos, fundador do grupo Noigandres (não confundir com os nóias de hoje) e que viveu e morreu em Sampa Desvairada entre 1929 e 2003.  Ao lado de seu irmão Augusto de Campos e do inseparável amigo Décio Pignatari,  foram os responsáveis pelo arejamento da poesia em terras de Macunaíma.
Vou ler para vocêss dois poemas do mestre Haroldo de Campos.

HIERÓGLIFO PARA MARIO SCHOENBERG

o olhar transfinito do mário
nos ensina
a ponderar melhor a indecifrada
equação cósmica

cinzazul
semicerrando verdes
esse olhar
nos incita a tomar o sereno
pulso das coisas
a auscultar
o ritmo micro –
macrológico da matéria
a aceitar
o spavento della materia (ungaretti)
onde kant viu a cintilante lei das estrelas
projetar-se no céu interno da ética

na estante de mário
física e poesia coexistem
como asas de um pássaro –
espaço curvo –
colhidas pela têmpera absoluta de volpi

seu marxismo zen
é dialético
e dialógico

e deixa ver que a sabedoria
pode ser tocável como uma planta
que cresce das raízes e deita folhas
e viça
e logo se resolve numa flor de lótus
de onde
– só visível quando damos conta –
um bodisatva nos dirige seu olhar transfinito.

O INSTANTE

o instante
é pluma

seu holograma
radia estável

como quem olha pelo cristal
do tempo

feixe fixo
de luz

(já não se vê se o olho deixa sua seteira)

prisma

o sol
chove
de um teto
zenital

elipse: um estilo de persianas

Marcus Ozores

Marcus Vinicius Pasini Ozores é fotógrafo, jornalista, apresentador de TV , mestre em Ciências Sociais e Pesquisador Associado na UNICAMP

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