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Diário do ano da peste de 2021

Por Marcus Ozores

Hoje é quarta feira dia 18 do mês do au au au au locão……. locão… Afinal quem não fica locão morando abaixo do Equador em tempos de pandemia. É muita emoção diária. E são tantas mas tantas mesmo as emoções que prefiro nem comentar o disse que disse não disse mais que disse do capitão que ia e não vai mais mas diz que vai mas não sai nem fica e ninguém sabe se ele atravessa a praça a pé para levar o pedido de impeachment de dois juízes do Supremo. Ufa! Essa cansou. Afinal, viver no Brasil não é para amadores, definitivamente. Aqui acordos políticos são fechados com berrante, bala, bíblia e boiada. E para acompanhar muita batida de laranja com leite condensado. E haja saúde mental para acordar no dia seguinte.

Break News. E o Brasil é o primeiro e talvez o único país do mundo onde a indígena transexual Majur Traytowu, 30, da etnia Bororo, se tornou cacique da aldeia Apido Paru, localizada na Terra Indígena Tadarimana, município de Rondonópolis, a 278km de Cuiabá. O pai dela, Raimundo Itogoga, de 79 anos, era o cacique da aldeia, mas adoeceu e, ele junto com a mulher, Jurema Adugo Oro Kujagureudo, 65, repassaram o legado da liderança da aldeia para a filha caçula do casal.

É por isso que continuo na minha república anarquista dos Tupinambás de Barê lançando minhas poesias do “Só a poesia nos Salvará”.

E hoje nossa nau visita os versos de mais um poeta cabo verdiano Eugénio de Paula Tavares nascido em Vila Nova Sintra, Ilha Brava, em 18 de outubro de 1867 e falecido na mesma Vila Nova Sintra em 1 de junho de 1930. Eugénio de Paula Tavares além de poeta foi jornalista, escritor e renovador da música e letra do ritmo ‘Morna’ que é o nome que designa, ao mesmo tempo, a dança e as canções típicas de Cabo Verde. Ritmo do baile, palavras e música das canções, são coisas inseparáveis. Não se trata, com efeito, duma dança acompanhada de palavras como qualquer outra.

Eugénio Tavares é considerado por parte da crítica literária como o Camões de Cabo Verde. Vou ler dois poemas desse mestre das ilhas do Atlântico.

 

CANÇÃO AO MAR – MAR ETERNO

 

Oh mar eterno sem fundo sem fim

Oh mar das túrbidas vagas oh! Mar

De ti e das bocas do mundo a mim

Só me vem dores e pragas, oh mar

Que mal te fiz oh mar, oh mar

Que ao ver-me pões-te a arfar, a arfar

Quebrando as ondas tuas

De encontro às rochas nuas

Suspende a zanga um momento e escuta

A voz do meu sofrimento na luta

Que o amor ascende em meu peito desfeito

De tanto amar e penar, oh mar

Que até parece oh mar, oh mar

Um coração a arfar, a arfar

Em ondas pelas fráguas

Quebrando as suas mágoas

Dá-me notícias do meu amor

Que um dia os ventos do céu, oh dor

Os seus abraços furiosos, levaram

Os seus sorrisos invejosos roubaram

Não mais voltou ao lar, ao lar

Não mais o vi, oh mar

Mar fria sepultura

Desta minha alma escura

Roubaste-me a luz querida do amor

E me deixaste sem vida no horror

Oh alma da tempestade amansa

Não me leves a saudade e a esperança

Que esta saudade é quem, é quem

Me ampara tão fiel, fiel

É como a doce mãe Suavíssima e cruel

Nas mágoas desta aflição que agita

Meu infeliz coração, bendita!

Bendita seja a esperança que ainda

Lá me promete a bonança tão linda

PARTINDO

Triste, por te deixar, de manhãzinha

Desci ao porto. E logo, asas ao vento,

Fomos sangrando, sob um céu cinzento,

Como, num ar de chuva, uma andorinha.

Olhos na Ilha eu vi, amiga minha,

A pouco e pouco, num decrescimento,

Fugir o Lar, perder-se num momento

A montanha em que o nosso amor se aninha.

Nada pergunto; nem quero saber

Aonde vou: se voltarei sequer;

Quanto, em ventura ou lágrimas, me espera

Apenas sei, ó minha Primavera,

Que tu me ficas lagrimosa e triste.

E que sem ti a Luz já não existe.

 

 

Marcus Vinicius Pazini Ozores, é jornalista e mestre em Sociologia, pela Unicamp. Foi assessor de imprensa dessa universidade onde continua como pesquisador . Trabalhou em grandes órgãos de mídia nacional> Aposentado, atualmente solta torpedos em versos de seu refúgio a praia de Baraqueçaba, em São Sebastião, onde reside.

 

A Cancioneiro Caiçara tem o apoio cultural da Hidrel. Uma empresa genuinamente caiçara.

Marcus Ozores

Marcus Vinicius Pasini Ozores é fotógrafo, jornalista, apresentador de TV , mestre em Ciências Sociais e Pesquisador Associado na UNICAMP

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