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Novo Cangaço

  Diário do ano da peste de 2021

 

Hoje é 30 de agosto segundona de uma semana que promete continuarmos ainda mais chafurdados na rede de mentiras. E por isso vou ficando aqui na minha República Anarquista dos Tupinambás de Barequeçaba, lançando minhas leituras contra o besteirol nacional do “Só a poesia nos Salvará”.

Segundo o dicionário brasileiro, o cangaço foi um fenômeno do banditismo, crimes e violência ocorrido em quase todo o sertão do Nordeste do Brasil, entre o século XVIII e meados do século XX. Seus membros vagavam em grupos, atravessando estados e atacando cidades, onde cometiam pilhagens, assassinatos e estupros. Aqui em Terras de Pindorama, onde  o relógio do tempo anda para trás, continuamos vivendo nos tempos do cangaço, pois, não existe outra definição para a noite de terror que um grupo de mascarados armados para guerra no Afeganistão invadiram a cidade de Araçatuba e no melhor estilo de Virgulino Ferreira, nosso Lampião, amarraram reféns sobre o carro em fuga espalharam bombas que detonam por temperatura pelas ruas, mataram dois cidadãos que nada tinham a ver com o assalto. E a vida continua como todos os dias na terra do sem-fim e assistimos ao espetáculo da violência com olhos como assistíssemos a um filme velho na tevê. Banalizamos a morte de todos nós.

E hoje nossa nau da língua portuguesa continua ancorada em terras lusitanas onde visitamos os versos de António José Branquinho da Fonseca nascido na cidade de Mortágua em 4 de Maio de 1905 e falecido em Cascais em 7 de maio de 1974. Branquinho da Fonseca experimentou vários modos e géneros literários, desde o poema lírico ao romance, passando pela novela, o texto dramático e o poema em prosa, mas, como o próprio dizia, a sua expressão natural era o conto.
Vou ler dois poemas do mar de Branquinho da Fonseca.

O ARQUIPÉLAGO DAS SEREIAS

Ó nau Catarineta
Em que andei no mar
Por caminhos de ir,
Nunca de voltar!

Veio a tempestade
Perder-se do mundo,
Fez-se o céu infindo,
Fez-se o mar sem fundo!

Ai como era grande
O mundo e a vida
Se a nau, tendo estrela,
Vagava perdida!

E que lindas eram
Lá em Portugal
Aquelas meninas
No seu laranjal!

E o cavalo branco
Também lá o via
Que tão belo e alado
Nenhum outro havia!

Mundo que não era,
Terras nunca vistas!
Tive eu de perder-me
Pra que tu existas.

Ó nau Catarineta
Perdida no mar,
Não te percas ainda,
Vem-me cá buscar!

NAUFRÁGIO
A rua cheia de luar
Lembrava uma noiva morta
Deitada no chão, à porta
De quem a não soube amar.

Já não passava ninguém…
Era um mundo abandonado…
E à janela, eu, tão Além,
Subia ressuscitado…

Vi-me o corpo morto, em cruz,
Debruçado lá no Fundo…
E a alma como uma luz
Dispersa em volta do mundo…

Mas, à tona do mar morto,
Um resto de caravela
Subia… E chegava ao porto
Com a aragem da janela.

Marcus Vinicius Pazini Ozores, é jornalista e mestre em Sociologia, pela Unicamp. Foi assessor de imprensa dessa universidade onde continua como pesquisador . Trabalhou em grandes órgãos de mídia nacional> Aposentado, atualmente solta torpedos em versos de seu refúgio a praia de Baraqueçaba, em São Sebastião, onde reside.

Marcus Ozores

Marcus Vinicius Pasini Ozores é fotógrafo, jornalista, apresentador de TV , mestre em Ciências Sociais e Pesquisador Associado na UNICAMP

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