Ode à Paz

Diário do Fim do Mundo
Texto, vídeo e apresentação de Marcus Ozores
Diário do Fim do Mundo, dia 06 de maio do ano do terror de 2022 e estou aqui, na minha Sampa Desvairada, tentando espantar para longe a loucura que nos cerca com ‘Só a Poesia nos Salvará’. Hoje, sexta feira, e após três dias sumidos do espaço virtual estou de volta gravando da extensão da minha República Livre Anarquista, diretamente da Praça Buenos Aires.
O único animal que tropeça várias vezes na mesma pedra, parece mesmo ser os humanos que custam a aprender com a própria história. No século passado o mundo assistiu duas guerras mundiais com total de mais de 100 milhões de mortos, sendo que na ultima os EUA jogaram duas bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki. Os dirigentes das principais nações do mundo tiveram condições de aprender com as duras lições das guerras.
Por isso, com o fim da guerra fria, representado simbolicamente pela queda do muro de Berlim, e o fim do pacto de Varsóvia a esperança de paz duradoura voltou a fazer parte do cenário para as futuras gerações. A paz para a Europa, construída inicialmente por Adenauer e De Gaulle , nas ultimas 7 décadas está agonizando nesse momento com a guerra entre Rússia e a Ucrânia. Infelizmente caímos mais uma vez na armadilha do nacionalismo e a OTAN assistiu passiva e calada as ações da Rússia pré-guerra. Vivemos nesse momento a morte da política, isto é, a capacidade do uso das armas dos argumentos para se conseguir a paz.

Aprendi muito jovem um ditado que carrego para toda vida: ‘não se chuta cachorro morto’. Isto é, ninguém deve deixar seu adversário sem saída, pois, caso contrário ele te atacará pelas costas. Com apoio declarado, nesse momento, dos EUA e OTAN ao governo de Zelenski enviando armamentos e não incentivando as negociações para a paz, o mundo entra em um caminho de guerra total. Só que desta vez, o mundo, tal qual conhecemos, poderá desaparecer em alguns dias, no momento em que o fim da razão e das negociações acabarem e a única saída para os humilhados será o uso dos botões vermelhos. Quando o primeiro for apertado a história chegará ao seu fim. Não haverá mais humanos para escrevê-la.
Nesse mundo onde a cegueira e a surdez dos governantes predominam sobre o bom senso dos homens comuns vou ler hoje o poema intitulado ‘Ode à paz’ de autoria da açoriana Natália de Oliveira Correia nascida em Fajã de Baixo, na ilha de São Miguel, no arquipélago dos Açores, em 13 de setembro de 1923, e faleceu em Lisboa, em 16 de março de 1993.
ODE Á PAZ

Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,
Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
deixa passar a Vida!
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