O Avatar, a fantástica fábrica de prints e o caminho suave
Em tempos de viralização e julgamento sem empatia, quem tem sabedoria para se construir uma imagem positiva é rei.
Por Liv Soban*
Não é a primeira vez que alguém da área da Saúde me liga e diz:
– Liv, estou com um problema sério com a minha equipe.
Durante a conversa, o assunto é quase sempre o mesmo: a forma como os profissionais lidam com as redes sociais. E tentarei explicar brevemente o porquê ser recorrente eu receber este tipo de ligação.
Antigamente, quando não havia virtualidade, as pessoas acordavam, iam trabalhar, se relacionavam com os colegas profissionais e, ao final da jornada, voltavam, entravam em casa, tiravam a roupa que representava a sua profissão, e, só então, passavam a se relacionar pessoalmente, em sua intimidade.
Eram dois ambientes bem separados. E passavam-se meses ou anos para os colegas saírem do ambiente de trabalho e adentrarem no íntimo, tornando-se amigos. O processo era demorado. E quando havia esta mudança de relacionamento, ambas as partes já adquiriram conhecimento suficiente que poderiam dar o próximo passo com bastante segurança. Afinal, a intimidade era criada aos poucos e o tempo ditava a equação.
Havia também uma outra forma de interação. Nos primórdios da Internet, as pessoas precisavam primeiro conhecer aquela empresa, pessoa ou instituição no real, para depois validar a sua virtualidade.
Só que o advento do virtual transformou todos estes cenários. As mídias sociais impedem (por mais que você tente) que você tenha uma vida profissional completamente separada da pessoal e quando você conhece alguma empresa ou quer saber sobre alguém, você dá um Google para ver o que falam a respeito do nome pesquisado. Ou seja, as pessoas vão para a Internet para validarem o que conheceram na realidade.
Eu não sei se você reparou, mas aquilo que você faz na virtualidade vira a tua representação, o seu eu virtual ou, como carinhosamente chamo, o seu Avatar. Então, pode não se machucar fisicamente, mas o que o seu Avatar fizer, você pode sentir sim – e muito – na pele. Sinto lhe dizer, mas não há época mais perigosa de ter seu Avatar colocado na fogueira como nos dias de hoje.
Casos mais graves acontecem com os grupos de Whatsapp. O que seria uma ferramenta utilizada entre profissionais para facilitar a discussão dos casos e acelerar a elaboração do plano terapêutico do paciente e suas possíveis formas de tratamento, se transformou em A Fantástica Fábrica de Prints.
Se o grupo, o qual faz parte, não for utilizado com a devida atenção e for compartilhada alguma selfie comprometedora, um comentário não pensado, uma piada mal colocada, uma foto divulgada sem permissão ou qualquer outro deslize, a chance deste tropeço, dependendo do conteúdo, virar um print, viralizar e cair no mundo em poucas horas é gigantesca.
O fato é que a rapidez da Internet e os atos sem pensar são uma péssima combinação moderna. E a consequência destes deslizes? O profissional da Saúde, por lidar com vidas, além de sofrer a perda de credibilidade por ter seu Avatar exposto, pode sofrer injúrias que serão difíceis de consertar em um futuro próximo, podendo perder até o direito de exercer a sua profissão. Os conselhos que regem a saúde são atuantes e possuem uma série de regras que devem ser seguidas à risca.
Calma, nem tudo são lágrimas. Há muitos e muitos sorrisos no caminho. Se você souber usar as mídias sociais e ferramentas virtuais com estratégia e inteligência, isto refletirá em credibilidade e status em sua realidade. Seria bom, não seria?
E como se faz isto, Liv?
Você precisa pesar primeiro o que vale mais: construir uma imagem institucional promissora ou se concentrar na divulgação da sua vida pessoal? Dá para fazer os dois, mas eu sempre digo que nunca vale a pena escancararmos a nossa intimidade ao extremo, porque você nunca sabe quem está do outro lado da tela e qual a intenção dela ou a forma que ela tem para receber ou interpretar o seu post.
O problema não é postar uma foto ou outra de balada, mas sim quando só se posta foto de um único tema. A construção do seu eu real e do seu eu virtual dependem de você. Assim como você representa no seu dia a dia vários papéis, precisa passar isto também para as mídias sociais. Caso contrário, criará um Avatar que não te retratará por completo e, então, seus seguidores ficarão confusos com o que você passa no virtual versus o seu real.
O objetivo aqui era dar um primeiro passo, o da compreensão. Entenda: não se pode mais separar as duas dimensões. E ter consciência deste cenário é necessário para se construir uma imagem com sabedoria e colher bons frutos. Acredite, sendo você mesmo e tendo uma boa dose de bom senso, seus caminhos – virtual e real – conviverão em harmonia e serão felizes para sempre.
*Liv Soban é jornalista profissional, especialista em branding , com mestrado pela University for the Creative Arts (UCA-UK). Ela é autora do livro :Sociedade na nuvem: como aprender a se comunicar nas mídias sociais sem ofender nem ser criticado eBook : Soban, Liv: Amazon.com.br: Livros, disponível nas melhores livrarias. considerado pela crítica especializada um dos melhores sobre o assinto. Ela também fa parte da equipe de colaboradores da Cancioneiro Caiçara.
Acabou a privacidade.
O problema maior será quando o ego ficar escancarado frente ao eu.