O Carnaval do Carapau

É carnaval! O país para pra ver o carnaval passar! Cheio de luzes, fantasias, alegorias,
ritmos diversos, baterias a desfilar. Em Ubatuba temos o nosso carnaval, com blocos e
escola de samba e muitas fantasias deslumbrantes. E antigamente como era?
Adultos mascarados e saíam pelas praias assustando a molecada.
Eu lembro, quando eu era garoto, aqui na Enseada, os adultos se fantasiavam de
mascarados e saíam pelas ruas e a praia, assustando a molecada. Vestimenta feitas com sacos de
aniagem, pego no armazém do Maciel que tinha esses sacos, que serviam para armazenar feijão,
arroz e farinha para a venda.
Eles incrementavam com colares feito de cipó de timbopeva e casco de guaiá, caranguejo
das pedras, ou colares de cipó com sementes de abricó. Enrolavam palha de milho com barba de
velha na cabeça, e outras coisas mais tiradas da natureza. Levavam nas mãos espada de São Jorge,
que usavam para bater nos moleques. Uns corriam de medo, outros por diversão e outros porque
todos corriam.
Mima mãe, D. Maria Benzedeira, era contadora de história. Naquela época muitos
contavam histórias, não havia jornais, revistas e até mesmo televisão. Mas minha mãe era ótima
contadora de história e muitos viam se benzer com ela e ouvir as histórias que ela contava. Lembro
de uma que vem a calhar nesse momento, porque ocorreu em um domingo de carnaval.
Laurindo Barriga Verde, ele tinha esse apelido porque não era caiçara. Ele era do litoral
de Santa Catarina, de Itaguaí. Laurindo era o dono do único bloco carnavalesco da Enseada.
A Carroça alegórica movida a burro
Esse bloco desfilava sábado e segunda de carnaval percorrendo a praia com seus foliões, com sua carroça toda enfeitada na frente. No domingo eles iam para a cidade de Ubatuba, onde havia o desfile dos
blocos dos bairros. Na verdade, era um desfile enorme. Nessa época não havia estrada nem ônibus
para levar os foliões, fantasia e adereços, por isso, todos iam a pé e a carroça levava o material do
bloco.
A concentração era na frente do armazém do Maciel, dali eles saiam para a cidade. Mas
em um certo domingo de carnaval, todos estavam apostos na frente do armazém a espera de
Laurindo Barriga Verde com a carroça para começar a ida para a cidade. Nunca ele tinha se atrasado
em todos os carnavais que participavam, mas naquele dia Laurindo estava atrasado. Será que ficara
doente? Perdeu a hora por estar de ressaca? Muitas conjeturas e nenhuma notícia de Laurindo
Barriga Verde.
Na verdade, nada daquilo que os foliões argumentavam era a realidade do atraso de
Laurindo. Ele acordara cedo, tomou café de cana, com sopa d’água e peixe assado na brasa,
preparou tudo o que precisava levar, a carroça já estava toda enfeitada desde o dia anterior, e se
preparou para ir ao local da concentração. Foi quando ouviu o toque do búzio. Búzio, era um cifre
de boi que o “espias” de peixes tocava para chamar os camaradas de rede quando ele avistava um
cardume de peixe.
O Cardume de Carapau
O Sabá, que era o espia da praia da Enseada, viu um cardume de carapau e tocou
o búzio. Os foliões em frente do armazém não ouviram, porque além de estarem longe, o som de
tambores e afinação dos instrumento impediram. Laurindo correu para a praia e, junto com o Sabá e
alguns pescadores que não iam desfilar no bloco, viu o cardume de carapau que deixava o mar todo
escuro pela quantidade de peixes. Logo as canoas foram levadas para o lagamar. O pessoal em
frente a venda viu o movimentos das canoas e a pretidão do mar , mostrando o cardume. Todos
largaram seus instrumentos, tiraram a fantasia e correram para a praia para ajudar e pegar os peixes.
Naquele domingo de carnaval não houve desfile mas muito carapau.
Saiba mais sobre o carnaval de Ubatuba assistindo o vídeo abaixo
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Your point of view caught my eye and was very interesting. Thanks. I have a question for you.
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