Os Diários do Ozores

Poetas do mundo Uni-vos

Diário do ano da peste de 21 de outubro  2021

Texto e vídeo de Marcus Ozores

Foto Torquato Neto – via Wikipedia

 

E hoje é quinta feira negra, dia 21 de outubro e com o dólar a $ 5,67 no país dos sobrinhos do capitão o melhor a fazer é continuar como morador da República Anarquista dos Antropófagos Modernistas Tupinambás de Barequeçaba. Afinal só aqui consigo lançar minhas granadas endereçadas a combater o besteirol nacional com “Só a poesia nos Salvará”.

Não sei se a poesia nos salvará da besteira que se acumula diariamente na República de Pindorama, mas pelo menos ajuda a sonhar com Passárgada. E de tanta besteira na forma de lixo que se acumula aqui em casa, cedendo aos reclames das lojas virtuais e estou propenso a adquirir para minha casa de Barê uma robô aspirador. Difícil escolher qual dos modelos vou botar para dentro de casa, pois, somos obrigado a assinar contrato de trabalho com o sindicato dos Dispositivos Eletromecânicos Capazes de Realizar Trabalhos de Maneira Autônoma ou Pré-Programada que é muito exigente. Para que uma faxineira robô possa trabalhar em casa o contrato prevê 5 horas de trabalho diário, semana de três dias, férias pagas, 13°  e apartamento exclusivo com carregador soft e óleos florais da Pérsia.  A nova direção do sindicato não permite que as robôs  realizem tarefas em locais mal iluminados, ou tarefas sujas ou perigosas, como os seres humanos estão acostumados na república dos sobrinhos do capitão.

E para deixar o dia mais calmo – após o turbilhão que o Guedes e o capitão provocaram na República ontem e hoje – vou me recorrer aos versos do poeta que viveu apenas 28 anos, mas que deixou versos inesquecíveis. Me refiro ao piauiense Torquato Neto, de quem já li poemas ano passado, que foi um dos marcos da contracultura brasileira dos anos 60 e início dos 70 e autor de letras de música e poemas maravilhosos.

Vou ler de Torquato Neto dois poemas

1 – AGORA NÃO SE FALA MAIS

Agora não se fala mais
toda palavra guarda uma cilada
e qualquer gesto é o fim
do seu início:

Agora não se fala nada
e tudo é transparente em cada forma
qualquer palavra é um gesto
e em sua orla
os pássaros de sempre cantam
nos hospícios.

Você não tem que me dizer
o número de mundo deste mundo
não tem que me mostrar
a outra face
face ao fim de tudo:

só tem que me dizer
o nome da república do fundo
o sim do fim
do fim de tudo
e o tem do tempo vindo:

não tem que me mostrar
a outra mesma face ao outro mundo
(não se fala. não é permitido:
mudar de ideia. é proibido.
não se permite nunca mais olhares
tensões de cismas crises e outros tempos.
está vetado qualquer movimento

2- O POETA É A MÃE DAS ARMAS

O Poeta é a mãe das armas
& das Artes em geral —
alô, poetas: poesia
no país do carnaval;
Alô, malucos: poesia
não tem nada a ver com os versos
dessa estação muito fria.

O Poeta é a mãe das Artes
& das armas em geral:
quem não inventa as maneiras
do corte no carnaval
(alô, malucos), é traidor
da poesia: não vale nada, lodal.

A poesia é o pai da ar-
timanha de sempre: quentura
no forno quente
do lado de cá, no lar
das coisas malditíssimas;
alô poetas: poesia!
poesia poesia poesia poesia!
O poeta não se cuida ao ponto
de não se cuidar: quem for cortar meu cabelo
já sabe: não está cortando nada
além da MINHA bandeira ////////// =
sem aura nem baúra, sem nada mais pra contar.
Isso:ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar:
em primeiríssimo, o lugar.
poetemos pois.

Esse poema foi escrito um ano antes de Torquato Neto dar fim a sua vida

 

Marcus Vinicius Pazini Ozores, é jornalista e mestre em Sociologia, pela Unicamp. Foi assessor de imprensa dessa universidade onde continua como pesquisador . Trabalhou em grandes órgãos de mídia nacional> Aposentado, atualmente solta torpedos em versos de seu refúgio a praia de Baraqueçaba, em São Sebastião, onde reside.

Marcus Ozores

Marcus Vinicius Pasini Ozores é fotógrafo, jornalista, apresentador de TV , mestre em Ciências Sociais e Pesquisador Associado na UNICAMP

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