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O vizinho que espionava pra ditadura em São Sebastião

Cantinho da Proeira 

Por Priscila  Siqueira

Brazão de São Sebastiao

Com o Golpe de Estado em 1964, o município de São Sebastião, no litoral
norte paulista, virou Área de Segurança Nacional com interventores
fazendo o papel de prefeitos, nomeados diretamente pelo Governo
Central, isto é, pelo general Golbery. Segundo os militares, a medida foi
tomada por conta das instalações do porto de mar e da Petrobrás que São
Sebastião tinha em seu território.

E o vizinho que lavava carro…

O clima no município não era dos melhores… Muitas vezes, quando à
noite, reuníamos com os amigos para conversar ou mesmo tomar uma
cervejinha, começamos a notar que um dos vizinhos ficava lavando seu
carro até que todos nós fôssemos cada um para sua casa. Por pura
gozação, começamos a demorar cada vez mais esses encontros, que
chegaram a acabar às três horas da manhã. E o vizinho…lavando seu
carro!

Um certo dia, uma amiga nos contou ter ouvido e participado da conversa
de suas caiçaras da rua, uma das quais a esposa do lavador de carro.

-“Sabe, comadre, meu marido está ganhando um dinheirinho extra”, falou
com entusiasmo a mulher do dito cujo.

-“Por que?”, perguntou a outra.

-“Parece que ele tem de contar para as autoridades as coisas erradas que
outros homens estão fazendo”.
-“Que coisa erradas, são essas?”

“Não sei bem”, respondeu a outra. “Acho que são esses homens casados
que arranjam outras mulheres que viram amantes deles”.

O “lavador de carros” era um SS-2, termo que na época designava os
“dedo-duros” que apontavam os que seriam potencialmente
“subversivos” na sociedade local. Vejam o que acontece numa Ditadura
Militar. Acaba que você só pode confiar em poucos amigos, pois a
ignorância e avidez por dinheiro de alguns podem destruir a vida de
pessoas de bem que nada mais querem que a Justiça Social.
E agora, tantos anos depois, tem gente que nada sabe, dizendo que quer a
volta da Ditadura Militar!

Priscila Siqueira

Priscila Dulce Daledone Siqueira Nasceu Ponta Grossa, PR, em 1939. Cursou jornalismo UFRJ; Foi pioneira no jornalismo ambiental. É uma das fundadoras do Movimento de Preservação de São Sebastião e da Sociedade de Defesa do Litoral Brasileiro, além de ser uma das fundadoras da SOS Mata Atlântica. Foi professora da Escola Normal de São Sebastião

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6 Comentários

  1. Aqui em Caraguatstuba timha um wue era amigão de todo munfo, bom de conversa e manipulador. Pois é, pir acaso fiacamos sabendo que era um informante dos militares. Ele entregava seus próprios amigos, entendi anos depois, porque ele era também um safado que usava de sua lábia para passar a perna nos caiçaras e roubar suas terras. Pra mim, pessoas assim são perigosas pela sua falta de caráter e respeito aos seus semelhantes. Hoje já falecido, nada levou para o seu túmulo, mas deixou aqui a dor pelas suas maldades cometidas.

  2. Em Lisboa, 1957,eu frequentava o colegial. Plena ditadura de Salazar.
    Nossa professora de Religião era uma pessoa adorável. Para ela, tínhamos liberdade de falar de nossos problemas e da preocupação com os casos de tortura da ditadura.
    Um dia, a Reitora nos alertou para o cuidado que deveríamos ter aos nós abrirmos com qual pessoa. Pois então, a professora de Religião era não mais não menos, que uma i formate da PIDE – a Polícia Interna de Defesa do Estado – nosso SNI. Foram cinquenta anos de ditadura.

  3. Gostaria que quem narra esses casos deveria dar nome aos bois, seria muito mais autêntico, assim se pode fazer um melhor juízo de valor e a pessoa ter a valoração que merece diante da sociedade.
    Kiko

  4. Deus nos livre dos SS-2 lavadores de carros, já bastam os bolsominios fanáticos, ignorantes alguns e bicho ruins, outros. Quanto sofrimento passaram amigos e amigas nossos na ditadura para que venham querer repetir. Repitamos as boas sobremesas da vovó. Essas sim eram boas!

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