Maluco Beleza

Diário do ano da peste de 2021
Crônica e vídeo de Marcus Ozoress
E hoje é quinta feira dia 9 de setembro dois dias depois da hecatombe dos discursos do capitão incitando a rebeldia civil contra as instituições da República.
E os discursos de ida e volta do capitão me fizeram lembrar algumas leis estranhas que foram aprovadas no Brasil ao longo da vida republicana que poderiam com certeza terem sido propostas pelo nosso capitão.
Vou lembrar três dessas leis como a da cidade de Rio Claro onde uma lei aprovada pela Câmara, em 1894, e que durou até 1989 até ser revogada, proibia comer melancia, pois, existia a suspeita que a fruta transmitia doenças como febre amarela e tifo.
Outra lei prá lá de estranha foi a construção do Aeroporto para ET’s, lei essa aprovada pelo então prefeito da cidade de Barra do Garças, no Mato Grosso, em 1995, que delimitava uma área da cidade para a criação de um aeroporto inter galático. Infelizmente, para os amantes de disco voador, o “Discoporto”, nunca foi construído.
Outro decreto, de numero 82/97, ainda mais estranho foi editado, em 1997, pelo prefeito Élcio Berti, de Bocaiúva do Sul/PR, proibia a venda de camisinhas e anticoncepcionais em todas as farmácias do município, quiçá no mundo. O motivo? O município, que à época acumulava apenas nove mil habitantes, vivia um baixo índice de natalidade. Claro que a luminar ideia do prefeito não teve vida longa. 24 horas depois da publicação do decreto ele foi revogado. Aliás, o que sobra nesse mundão de deus é maluco nem sempre beleza, como diria nossa inesquecível Raul Seixas.
Bem entre essas e outras hoje convido a todos viajarmos pelos versos do poeta Ricardo Reis nascido na cidade do Porto, em 19 de setembro de 1887, tendo sido o terceiro irmão – de um total de quatro – de Fernando Pessoa. Ricardo Reis estudou num colégio de jesuítas, formou-se em medicina e, por ser monárquico, expatriou-se espontaneamente desde 1919, tendo passado a viver no Brasil. Ricardo Reis era latinista por formação clássica e semi-helenista por autodidatismo. Na sua biografia não consta a sua morte, no entanto o prêmio Nobel de Literatura José Saramago faz uma intervenção sobre o assunto em seu livro O Ano da Morte de Ricardo Reis, situando a morte do poeta em 1936.
Vou ler para vocês dois poemas do catoliquíssimo Ricardo Reis
Acima da verdade
Acima da verdade estão os deuses.
A nossa ciência é uma falhada cópia
Da certeza com que eles
Sabem que há o Universo.
Tudo é tudo, e mais alto estão os deuses,
Não pertence à ciência conhecê-los,
Mas adorar devemos
Seus vultos como às flores,
Porque visíveis à nossa alta vista,
São tão reais como reais as flores
E no seu calmo Olimpo
São outra Natureza.
OS DEUSES
Os deuses desterrados.
Os irmãos de Saturno,
Às vezes, no crepúsculo
Vêm espreitar a vida.
Vêm então ter conosco
Remorsos e saudades
E sentimentos falsos.
É a presença deles,
Deuses que o destroná-los
Tornou espirituais,
De matéria vencida,
Longínqua e inativa.
Vêm, inúteis forças,
Solicitar em nós
As dores e os cansaços,
Que nos tiram da mão,
Como a um bêbedo mole,
A taça da alegria.
Vêm fazer-nos crer,
Despeitadas ruínas
De primitivas forças,
Que o mundo é mais extenso
Que o que se vê e palpa,
Para que ofendamos
A Júpiter e a Apolo.
Assim até à beira
Terrena do horizonte
Hiperion no crepúsculo
Vem chorar pelo carro
Que Apolo lhe roubou.
E o poente tem cores
Da dor dom deus longínquo,
E ouve-se soluçar
Para além das esferas…
Assim choram os deuses
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Gostei do maluco, nem sempre beleza. Acho que é o que mais tem no Brasil atualmente. 😂😂