Os Diários do Ozores

Golpe dos mineiro

Diário de Pindorama

Texto, vídeo e apresentação: Marcus Ozores

Marcus Ozores é sociólogo e Jornalista e colunista da Cancioneiro Caiçara

 

 

 

 

 

 

 

Diário de Pindorama, 17 de fevereiro de 2022, e vivemos o terceiro ano da Peste e continuo presente com “Só a poesia nos Salvará” tentando afastar o baixo astral que cobre a Belíndia, falando diretamente da minha República Livre Anarquista dos Tupinambás de Barequeçaba.

Povo do mundo virtual, acreditem, mas ontem estava pesquisando no site da Biblioteca Nacional e de repente me vi diante de um documento com capa onde se lia em letras garrafais “Secretíssimo. Só abra com autorização superior”.

Muito bem, olhei para os dois lados aqui da minha sala e como não vi ninguém superior a mim, decidi dar dedada no mouse e abri o documento. Claro que documento virtual não tem poeira e não dá aquele frio na espinha como quando você está presencialmente num arquivo com o documento quase caindo os pedaços e cheio de poeira nas suas mãos.

Esses detalhes, contudo, não fazem parte dessa história. Mas o tal documento secretíssimo deve ter sido elaborado por algum burocrata daqueles que ficavam sentados o dia inteiro com fone no ouvido escutando conversa alheia, em alguma sala do antigo SNDI Serviço Nacional da Desinformação, no final dos 70. O tal documento ao qual tive acesso descrevia um plano de tomada do poder a partir dos bares da sul do Rio de Janeiro. Sim, isso mesmo. Durante alguns anos foi acompanhado de perto pelos nossos serviços secretos um golpe de Estado Cultural armado por mineiros auto exilados na capital carioca. Ao abrir a pasta de documento os agentes deram título: Mineiros preparam golpe para derrubar o governo.

O relato “top secret” dos agentes é esclarecedor, informando passo a passo como seria o golpe de Estado da mineirada. De acordo com o texto do Sig, assim vamos chamar o agente secreto do DEOPS que escreveu o relatório, a suspeita do golpe de Estado começou a tomar forma desde a publicação do livro de autoria do Fernando Sabino, intitulado ‘Encontro Marcado’. Assim que o livro chegou às livrarias da zona sul carioca, os agentes do antigo DIP já ficaram de olho bem aberto.

“Encontro Marcado”, na linguagem dos arapongas era a possível data do golpe de Estado que a mineirada estava armando para dar quando o Rio ainda era capital federal. As suspeitas da arapongagem se justificativa pois a mineirada começou a chegar como ave de arribação nos bares de Botafogo e Copacabana. Vieram em levas e foram chegando Fernando Sabino, Helio Pelegrino, Carlos Drummond de Andrade, Murilo Rubião, Otto Lara Rezende, Paulo Mendes Campos, Pedro Nava, daí veio o Ziraldo, o Ruy Castro, e mais uma infinidade de outros mineiros mais ou menos famosos.

Protesto de intelecuais contra a Ditadura militar fonte “Memorias Reveladas”

 

 

 

 

 

 

 

 

E veio também o Cacaso, pseudônimo do Antônio Carlos de Brito, nascido em Uberaba e que morreu moço, aos 43 anos, em 1987. Mas embora a vida tenha sido curta a obra foi grande entre músicas, poesias, quadros e outras cositas mais. Cacaso chegou ao Rio logo após o golpe de 64 e integrou o grupo que ficou conhecido como poesia marginal. Vou de Cacaso para voces:

DENTRO DE MIM MORA UM ANJO

O poeta Cacaso

Quem me vê assim cantando
não sabe nada de mim
dentro de mim mora um anjo
que tem a boca pintada
que tem as asas pintadas
que tem as unhas pintadas
que passa horas a fio
no espelho do toucador
dentro de mim mora um anjo
que me sufoca de amor

Dentro de mim mora um anjo
montado sobre um cavalo
que ele sangra de espora
ele é meu lado de dentro
eu sou seu lado de fora
Quem me vê assim cantando
não sabe nada de mim

Dentro de mim mora um anjo
que arrasta as suas medalhas
e que batuca pandeiro
que me prendeu nos seus laços
mas que é meu prisioneiro
acho que é colombina
acho que é bailarina
acho que é brasileiro
Publicado no livro Mar de mineiro: poemas e canções (1982). Poema integrante da série Papos de Anjo da Guarda.

Marcus Ozores

Marcus Vinicius Pasini Ozores é fotógrafo, jornalista, apresentador de TV , mestre em Ciências Sociais e Pesquisador Associado na UNICAMP

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