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O causo do galo cantor e o Rei Salomão

Cantinho da Proeira

Texto Priscila Siqueira

Prisicila Siqueira é jornalista e escritora
Priscila Siqueira Mestra Proeira da Cancioneiro -Foto APMC

O antigo e belo prédio da Câmara e Cadeia de São Sebastião, onde agora
funciona a Polícia Militar, já foi –nos anos 60 e 70- cadeia local e no andar
de cima, sede da Delegacia da Polícia Civil. Então, eram raros os casos de
violência nesse município e os presos recolhidos geralmente aí estavam
por motivo de bebedeiras e badernas nas ruas.

O Galo 2 donas

Um dia, duas caiçaras da costa sul chegaram na Delegacia carregando um
galo. Ambas afirmavam que o galo era de cada uma delas. O Delegado
Ernesto Vivona, para resolver o problema e acalmar os ânimos das duas
mulheres, decidiu deixar o galo na cadeia, prendendo- o por uma semana
com os outros prisioneiros.

Para o desespero dos seus colegas de cela, o galo de voz maviosa cantava
mais de 20 vezes durante o dia e tantas vezes mais, à noite. Nenhum dos
hóspedes do recinto conseguia dormir com esse novo companheiro.
Apesar de suas vontades de esganar o galo, nada podiam fazer, já que ele
era responsabilidade do Estado…

Sabedoria do Rei Salomão

Quando na semana seguinte, as duas mulheres voltaram, o Delegado
resolveu “dar uma” de Rei Salomão. A Bíblia, no Antigo Testamento, conta
que quando duas mulheres foram à presença desse sábio rei, dizendo ser
cada uma a mãe de uma criancinha, Salomão resolveu o problema da
seguinte maneira:

-“Vamos cortar a criança em dois e cada uma fica com uma metade”.

A mulher que não era a mãe verdadeira, concordou rapidamente com a
sentença de Salomão. A mãe verdadeira preferiu perder a criança para a
outra, a ver seu filho morto. O rei Salomão, vendo a reação das duas,
liberou a criança para àquela mulher que abrira mão de seu filho para não
vê-lo morto.

Vivona se espelhou na sabedoria do rei Salomão afirmando

-“Vamos cortar o galo em dois; cada uma fica com uma metade”.
Para sua surpresa, a decisão foi aplaudida pelas duas mulheres.
“Está certíssimo. Assim cada uma de nós fica com um pedacinho dele”,
responderam.

A sabedoria de Salomão no “causo” do galo, também deu certo. O galo
cantor morreu, mas as caiçaras ficaram felizes. Mais do que elas ficaram
os presos da cadeia de São Sebastião que puderam voltar a dormir
tranquilos…

Ilustração: Freepik

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Prisicila Siqueira é jornalista e escritora
Priscila Siqueira Mestra Proeira da Cancioneiro -Foto APMC

Priscila Siqueira

Paranaense, nascida em 1939, Priscila Siqueira formou-se em jornalismo na antiga Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. Agora aposentada, trabalhou por muitos anos na Grande Imprensa nacional :Agência Folha de São Paulo, Agência Estado (jornais O Estado de S.Paulo, o extinto Jornal da Tarde e Rádio El Dourado) e no jornal Valeparaibano. Como jornalista teve a oportunidade de presenciar a expulsão dos caiçaras - o caboclo do litoral - de suas praias pela especulação imobiliária, decorrente a abertura da Rodovia BR 101, no seu trecho de Santos - Rio de Janeiro. Dessa experiência, surge seu primeiro livro “Genocídio dos Caiçaras“, em 1984. Jornalista especializada na questão ambiental, cobriu a Constituinte do Meio Ambiente de 88. Como ativista ambiental, foi uma das fundadoras da SOS Mata Atlântica, Movimento de Preservação de São Sebastião- MOPRESS e presidente da Sociedade de Defesa do Litoral Brasileiro. Em 1996, participou do Congresso Mundial contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes, na cidade de Estocolmo realizado pela rainha Sílvia da Suécia e a UNICEF- Nações Unidas para a Infância. Foi professora na antiga Escola Normal de São Sebastião, além de dar aulas no Centro Universitário Salesiano de São Paulo- UNISAL, e na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo- FESPSP, em cursos de pós graduação lato sensu, sobre a Violência à Mulher, Prostituição Feminina e Tráfico de Mulheres e de Meninas.

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2 Comentários

  1. Duas mal amadas, preferiram o galo morto do que ceder o galo uma para outra…e o galo pagou caro por duas infelizes que pelo egoísmo preferiram ver o galo morto…tadinho do galo!

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