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De volta ao Rio Negro

Diário do ano da peste do dia 16/09 de  2021

Texto e vídeo de Marcus Ozores

E hoje é dia 16 de setembro, uma quinta feira e após dois dias sumido do mundo virtual eis que reapareço na terra dos Manaós, do boto Boto que de noite se transforma num belo homem de chapéu branco e namora as moças nas beiras do rio, terra do o Curupira que perturba caçadores com suas traquinagens;  aqui também é a terra da Boiúna ou a Cobra Grande que, segundo alguns diretores de Hollywood, essa tal de cobra grande chega ter até uns 100 metros de comprimento com diâmetro de uns 20; aqui também é terra de “Juma” índio valente que protege as matas e temível Mapinguari, uma misteriosa preguiça gigante que mata e come caçadores. E aqui na confluência do Solimões e do Negro onde nasce o barrento Amazonas é a terra de Iara uma linda índia morena que enlouquece os homens nadando nua nos igarapés que se lançam na água e morrem afogados.

E daqui na republica dos Manaós continuamos com nossa missão de combater o besteirol nacional lançando nossas granadas do “Só a poesia nos Salvará”. E hoje foi sepultado na minha Trabiju – a Macondo do general Aureliano Buendia de Garcia Marques – o meu querido amigo Gino Colin, rei da bocha e inesquecível pé de valsa.

E como estamos aqui na terra do tambaqui e da farinha do arini a nossa nau da língua portuguesa visita os versos do poeta e jornalista Aníbal Beça, nome literário de Anibal Augusto Ferro de Madureira Beça Neto nascido em Manaus em 13 de setembro de 1946 e falecido em 25 de agosto de 2009. Anibal Beça destacou-se em prol da causa da integração cultural latino-americana, traduzindo escritores de países vizinhos, ou participando e organizando festivais e encontros de poesia.

 

Tendo ao fundo a cúpula do Teatro Amazona leio do manauara Anibal Beça a:

SUÍTE PARA OS HABITANTES DA NOITE PARTE XIII
ÁRIA PARA TENORINO E FLAUTIM

O gato aparece à noite
com seu esquivo silêncio
de passos bem calculados
num jogo de paciência
as garras bem recolhidas
na concha de suas patas

O gato passeia a noite
com seu manto de togado
como se fosse um juiz
de presas resignadas
a sua sentença de sombras
seu apetite de gula

O gato varre essa noite
facho de suas vassouras
vermelhas de olhos ariscos
E alcança nessa limpeza
movimento mais presto
o guincho mais desouvido

Mais que perfeito no bote
(tal qual Mistoffelees de Eliot)
do pulo que nunca ensina
tombam baratas besouros
peixes de aquário catitas
ao paladar sibarita

Nada à noite falta ao gato:
nem a presteza no salto
nem a elegância completa
do seu traje de veludo
para o baile dos telhados
roçando as fêmeas no cio

O gato é ato em seu salto
e a noite luz do seu palco
ribalta luciferina
lunária ária da lua
na réstia de seus dois gozos
é felix feliz felino

Guardei a sétima estrofe
para o canto do mistério
das sete vidas do gato
e seu tapete aziago
nas noites de sexta-feira
há provas de seu estrago

Marcus Vinicius Pazini Ozores é jornalista e mestre em Sociologia pela Unicamp. Foi assessor de imprensa dessa universidade onde continua como pesquisador . Trabalhou em grandes órgãos de mídia nacional> Aposentado, atualmente solta torpedos em versos de seu refúgio a praia de Baraqueçaba, em São Sebastião, onde reside.

Marcus Ozores

Marcus Vinicius Pasini Ozores é fotógrafo, jornalista, apresentador de TV , mestre em Ciências Sociais e Pesquisador Associado na UNICAMP

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