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Preconceito racial: na escola Aninha virou saci

Chamada de  Saci Pererê e tia Anástácia, foi na escola que Aninha descobriu que  era negra  e foi humilhada por isso. 

Texto de Ana Maria Fernandes

Ilustração a 4 mãos de Marisa Di Giaimo e Arnaldo Passos

Ana Maria Fernandes é  folclorista e contadora de causos, caiçaras de Ubatuba, onde vive há mais de 60 anos.  É colunista da Revista Cancioneiro Caiçara e apresentadora de programas da RCC na Facebook

 

” Um abraço negro,um sorriso negro/, trás felicidade/, negro sem emprego fica sem sossego, negro é a raiz da liberdade ” – Jovelina Pérola Negra

Até ir para a escola quando completei  sete anos de idade,  não tinha consciência que tinha a pele preta , pois venho de uma família miscigenada de pretos e indígenas e um tantinho de sangue europeu ,e lá em casa havia entre meus irmãos havia alguns de pele  branca, parda e pretos e ninguém via diferença nisso. Éramos todos iguais,  com cabelos sararás, lisos, encaracolados, pretos , castanhos, alourados e estava tudo bem.  Mas na escola foi diferente .  Lá eu descobri que a cor da pele era diferente, por um tempo eu fiquei entre  tia Anastácia (que eu não sabia quem era), e o Saci. Tive de me desdobrar pra ser igual ou melhor que os outros alunos brancos. Minhas tranças com laços de fita, não foram passe para a igualdade . Eu era chamada para fazer leituras em festas cívicas e me diplomei  com louvor (naquele tempo se formava também no quarto ano primário).

Coroação de Dona Maria do Qiolombo Caçandoca como Rainha do Maracatu, em Ubatuba

Quando moça também passei pelo preconceito, pois sempre diziam não era bom que um branco se casasse comigo ,”para não manchar a família branca”. Mas , mais uma vez,  superei.  Estudei , me formei , me casei  , sou mãe, trabalhei na área da saúde e enveredei pelo caminho da cultura e cresci muito; acrescentei muito mais á minha vida; hoje convivo bem com minha diversidade e e tenho muito em mim dos meus ancestrais, negros, indígenas e europeus.

Xilogravura a 4 mãos, de autoria de Marisa Di Giaimo e Arnaldo Passos. do Grupo de poesia e Arte Mutiranista de Caraguatatuba

Mas hoje, Salve  Zumbi dos Palmares, Gangá Zumba, salve os negros das senzalas,os que sofreram nos pelourinhos. Salve Dandara guerreira, os que trouxeram da nossa Mãe África essa riqueza que temos hoje. É bom saber que apesar da dor, o braço e o sangue do negro , foi a base deste país: nos portos, nas Minas de ouro, nos engenhos nos canaviais.
Existe racismo ? Existe.

Existe preconceito? Existe. Mas vamos nos conscientizando com as dificuldade, pois que somos iguais, já  que toda dor é igual, tem a mesma intensidade e que debaixo de qualquer cor de pele, seja branca  ,vermelha ou amarela, o sangue é sempre vermelho.

E salve a Virgem Negra Aparecida! Salve Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, a protetora dos escravizados !!
Amém!!

Aninha  M.F. /20/11/21

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Ana Maria Fernandes

Ana Maria Fernandes é ativista cultural e membra de grupos folclóricos de Ubatuba, cantora da Igreja Matriz e contadora de causos

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