Humor

Perna Mecânica ( por Priscila Siqueira)

Por Priscila Siqueira

Esse “causo” quem me contou foi um grande amigo e companheiro de
jornalismo, José Hamilton Ribeiro . Tendo liderado durante muitos anos o
Globo Rural, com reportagens deliciosas por sua forma clara e simples de falar
os mistérios da agricultura e agronomia, esse jornalista sério e muito
competente, havia trabalhado na antiga revista Realidade nos anos setenta.

Na Realidade, ele foi cobrir a guerra ao Vietnã, onde pisou numa mina e perdeu
uma perna. Desde então ele usa uma perna mecânica acoplada ao que restou do
membro decepado.

A perna mecânica lhe deu a mobilidade que precisava para continuar
trabalhando mas também lhe trazia muitas dores.

“Certa vez, fazendo uma reportagem para o Globo Rural no interior de Goiás,
as pessoas que eu entrevistava perceberam meu sofrimento”, me disse ele. E,
na solidariedade de pessoas simples e também sofridas, falaram de um
benzedor que fazia milagres. Sem pensar duas vezes, o “Zé”, como
costumamos chamá-lo, arranjou um burrico, única forma de transporte para os
cafundós onde o santo homem vivia.

Depois de horas de caminhada lenta no lombo do burro, entre pedras e beiras
de precipício, o jornalista chega ao casebre, morada do preto velho, famoso
benzedor.

Esse olhou com atenção a perna mecânica, ouviu as queixas do paciente, coçou
a carapinha branca e perguntou-”O senhor conhece um oleosinho que vendem
na cidade chamado óleo singuer?! Pois então,meu sinhô, tome seis gotinhas
dele três vezes por dia e essa geringonça vai lhe dar sossego”…

Para relembrar  José Hamilton vejam :https://g1.globo.com/economia/agronegocios/globo-rural/noticia/2022/03/20/de-jornalista-a-fazendeiro-saiba-onde-esta-jose-hamilton-ribeiro.ghtml 

Leia mais de Priscila Siqueira https://editora.cancioneirocaicara.com.br/o-dia-que-o-morto-falou/

https://editora.cancioneirocaicara.com.br/a-vozinha-tinha-98-anos-ha-quatro-estava-cega-devido-uma-catarata-os-medicos-se-recusavam-a-opera-la-devido-sua-idade/

 

Priscila Siqueira

Paranaense, nascida em 1939, Priscila Siqueira formou-se em jornalismo na antiga Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. Agora aposentada, trabalhou por muitos anos na Grande Imprensa nacional :Agência Folha de São Paulo, Agência Estado (jornais O Estado de S.Paulo, o extinto Jornal da Tarde e Rádio El Dourado) e no jornal Valeparaibano. Como jornalista teve a oportunidade de presenciar a expulsão dos caiçaras - o caboclo do litoral - de suas praias pela especulação imobiliária, decorrente a abertura da Rodovia BR 101, no seu trecho de Santos - Rio de Janeiro. Dessa experiência, surge seu primeiro livro “Genocídio dos Caiçaras“, em 1984. Jornalista especializada na questão ambiental, cobriu a Constituinte do Meio Ambiente de 88. Como ativista ambiental, foi uma das fundadoras da SOS Mata Atlântica, Movimento de Preservação de São Sebastião- MOPRESS e presidente da Sociedade de Defesa do Litoral Brasileiro. Em 1996, participou do Congresso Mundial contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes, na cidade de Estocolmo realizado pela rainha Sílvia da Suécia e a UNICEF- Nações Unidas para a Infância. Foi professora na antiga Escola Normal de São Sebastião, além de dar aulas no Centro Universitário Salesiano de São Paulo- UNISAL, e na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo- FESPSP, em cursos de pós graduação lato sensu, sobre a Violência à Mulher, Prostituição Feminina e Tráfico de Mulheres e de Meninas.

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