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Kid Bananinha e as cobras da ditadura militar

Diário de Pindorama

Texto vídeo e apresentação de Marcus Ozores

Diário do Fim do Mundo, segunda feira, dia 04 de abril do ano do besteirol planaltiano de 2022 e seguimos nossa caminhada com o ‘Só a poesia nos Salvará’ dos demôs da ignorância que assola as Terras de Pindorama.

E não é que o Kid Bananinha decidiu iluminar seus twiters nesse final de semana, com seu saber iluminado do ‘Buraco da Cobra’ e passou a cuspir injurias e ofensas a uma jornalista da Rede Bobo que foi presa e torturada durante a ditadura militar? Essa jornalista foi presa quando estava grávida do seu primeiro filho ( não tinha mais que vinte anos na época)  e colocada sozinha, nua – numa cela do quartel de Vitória – na companhia de uma cobra num espaço de 1 metro quadrado, E do lado de fora, seus algozes  divertiam-se ao ver o pavor da jornalista quando a cobra passava por cima de seus pés e do seu corpo.

Eduardio Bolsonaro K. Bananinha  em foto de Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agencia Brasil

Esse é humor dos milicianos e dos torturadores, aliás, nada mais nos espanta nessa República, já que o pai do Kid Bananinha admite que seu herói foi o coronel Brilhante Ulstra um dos mais brutais torturadores durante o período da Ditadura Militar.

O que me impressiona mesmo, eu que cresci na Igreja Presbiteriana,  é o fato de que esses elementos, com apoio de milhares de pastores, dizem-se ungidos por Deus e defensores da família. Defensor de família isso o capitão é mesmo. Vejam como protege os 4 filhos do capitão nas bagunças que aprontam em seus negócios na política e fora dela.

E como falamos hoje de tortura e torturadores fui buscar nos versos de Alex Polari o poema da minha leitura de hoje. Polari, militante da VPR, foi preso aos 20 anos, em 1971 e foi da janela da sua cela que Polari presenciou a tortura e morte de Stuart Angel Jones, filho a estilista Zuzu Angel, morto aos 26 anos de forma bárbara. O poema que lerei a seguir de Polari tem como título:

 

Alex Polaris -foto divulgação

 

 

 

 

 

 

 

Canção para ‘Paulo’ (A Stuart Angel)

Eles costuraram tua boca
com o silêncio
e trespassaram teu corpo
com uma corrente.
Eles te arrastaram em um carro
e te encheram de gases,
eles cobriram teus gritos
com chacotas.
Um vento gelado soprava lá fora
e os gemidos tinham a cadência
dos passos dos sentinelas no pátio.
Nele, os sentimentos não tinham eco
nele, as baionetas eram de aço
nele, os sentimentos e as baionetas
se calaram.
Um sentido totalmente diferente de existir
se descobre ali,
naquela sala.
Um sentido totalmente diferente de morrer
se morre ali,
naquela vala.
Eles queimaram nossa carne com os fios
e ligaram nosso destino à mesma eletricidade.
Igualmente vimos nossos rostos invertidos
e eu testemunhei quando levaram teu corpo
envolto em um tapete.
Então houve o percurso sem volta
houve a chuva que não molhou
a noite que não era escura
o tempo que não era tempo
o amor que não era mais amor
a coisa que não era mais coisa nenhuma.
Entregue a perplexidades como estas,
meus cabelos foram se embranquecendo
e os dias foram se passando.

Leia mais de Marcus Ozores https://editora.cancioneirocaicara.com.br/tom-jobim-e-as-perolas-do-paulo-guedes/

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Marcus Ozores

Marcus Vinicius Pasini Ozores é fotógrafo, jornalista, apresentador de TV , mestre em Ciências Sociais e Pesquisador Associado na UNICAMP

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