Terra Arrasada

Diário do ano da peste de 8 de outubro 2021.
Texto e vídeo de Marcus Ozores
Foto Augusto de Campos – por Wikipedia
E hoje já é sexta feira dia 8 de setembro e continuo aqui na minha Sampa Desvairada lançando granadas para combater o mau humor e os besteirol nacional com “Só a poesia nos Salvará”.
E o Brasil do Bozo vai cumprir seu ideal devolver para os brasileiros e brasileiras, em outubro de 2022, uma terra arrasada. Isso se não for antes, já que a cerva teve alta média de 10% e o quilo do osso para o churrasco desse final de semana prolongado está custando 4 reais e o osso de pescoço está custa 20 vintão. Atingimos a marca dos 600 mil mortos por covid; o dólar chega aos R$ 5,51 (tá uma bela ideia, é ou não é); gasolina aumenta amanhã e preço já está acima de R$ 7,00 em três estados. O pior de tudo isso é que aquela Masserati SUV de 590 cavalos e um burro, meu sonho de consumo secreto, está custando a bagatela de 1,5 milhão. Bem, acho que só o Bananinha tem grana viva para pagar a Massera , já que a sua incrível fábrica de chocolate ,além dos bombons, também imprime notas de cem dólares novinhas e cheirosinhas.
E para aguentar as insanidades do capitão, só sendo prá lá de moderno e concretando o caminho concreto do concretismo com os versos de Augusto de Campos nascido aqui na Sampa Desvairada em 14 de fevereiro de 1931, estando hoje com 90 anos completos.
Vou ler dois poemas de Augusto de Campos
O Monstro
Todo o exército repousava…
Nisto,
despontam, cautos, emergindo à ourela
do matagal rasteiro e trançado
de arbustos em esgalhos,
na clareira, no alto,
onde estaciona a artilharia,
doze rostos inquietos,
olhares
felinos, rápidos,
percorrendo todos os pontos.
Doze rostos apenas
de homens ainda jacentes,
de rastro,
nos tufos das bromélias.
Surgem lentamente.
Ninguém os vê; ninguém os pode ver.
Dão-lhes as costas
com indiferença soberana
vinte batalhões tranqüilos.
Adiante divisam a presa cobiçada.
Como um animal fantástico,
prestes a um bote repentino,
o canhão Withworth,
a matadeira,
empina-se
no reparo sólido.
Volta
para Belo Monte
a boca truculenta e rugidora
que tantas granadas revessou já
sobre as igrejas sacrossantas.
Caem-lhe sobre o dorso luzidio e negro os
raios do Sol,
ajaezando-a de lampejos.
Os
fanáticos
contemplam-na algum tempo.
Aprumam-se depois à borda da clareira.
Arrojam-se sobre o monstro.
Assaltam-no; aferram-no; jugulam-no.
Um traz uma alavanca rígida.
Ergue-a num gesto ameaçador e rápido…
E a pancada bate, estrídula e alta, retinindo…
E um brado de alarma
estala na mudez universal das coisas;
multiplica-se nas quebradas;
enche o espaço todo;
e detona em ecos
que atroando os vales
ressaltam pelos morros numa vibração
triunfal e estrugidora,
sacudindo num repelão violento
o acampamento inteiro…
O Vivo
Não queiras ser mais vivo do que és morto.
As sempre-vivas morrem diariamente
Pisadas por teus pés enquanto nasces.
Não queiras ser mais morto do que és vivo.
As mortas-vivas rompem as mortalhas
Miram-se umas nas outras e retornam
Para amassar o pão da própria carne.
Ó vivo-morto que escarnecem as paredes,
Queres ouvir e falas.
Queres morrer e dormes.
Há muito que as espadas
Te atravessando lentamente lado a lado
Partiram tua voz. Sorris.
Queres morrer e morres.
