Entrevista com Maria Tereza Callefe

Entrevista e texto de Pitágoras Bom Pastor
Dia 25 de setembro é uma especial para as letras Caiçaras, nesse dia, na Ilha das Flores, nos Açores , em Portugal, nasceu essa caiçara portuguesa que tanto como professora, como poeta e cronista inspirada , marcou sua vida na vida da cidade de Caraguatatuba. Seus alunos , principalmente da Escola Colônia dos Pescadores lembram-se dela, sempre gentil e inspiradora. Nas aulas de redação , ela mesmo transformava-se em aluna de si mesmo e punha se escrever sobre o tema proposto. Aposentada, lançou seu livro e nas redes sociais continuou a ensinar pelo facebook. Pitágoras Bom Pastor que escreve esse texto aqui disse: que foi graças às aulas públicas da Professora Callefe que ele se aprimorou na técnica poética. Antes, diz ele, escrevia sem me preocupar com a arte. Era só na inspiração, mas graças à professora Maria Tereza consegui atingir um ótimo nível técnico. “Não quero com isso dizer que as minhas poeisias são boas, por que isso vai do gosto de quem lê, mas que são feitas de forma correta, isso tenho certeza”- concluiu – ele.
Doente há mais de 3 anos, sofrendo de fortes dores, todos os dias, mesmo sem poder falar, Maria Callefe continua ensinando. Não há dia que não compartilhe textos e lições pelo facebook. Para seus alunos, como esse que aui escreve, sugere temas, lança desafios. O seu amor pela Literatura é eterno e por isso através de sua missão como professora eterna e escritora que ela seguramente vai se eternizar na história das letras e da educação Caiçara. Esses dias ela concedeu uma entrevista ao Pitágoras Bom Pastor via whatsapp que publicamos aqui. Acompanhe.
Pitagoras Bom Pastor (PBP ):_ – por que a senhora mudou-se para o Brasil?
Maria Treza Callefe (MTC) :- Quando terminei os cinco primeiros anos do liceu na ilha do Faial, nos Açores, a minha família mudou-se para Lisboa. Meu pai era cozinheiro num navio que fazia a rota do sul da África que terminava em Hamburgo, Alemanha. Demorava três meses está viagem. Em Lisboa, a contragosto de meu pai, frequentei no Liceu Maria Amália o curso clássico. Meu pai queria que ele eu fizesse científico para, depois, fazer medicina.Bati o pé :- quero ser professora.
Ele respondeu : -Nada disso. Pra morrer de fome chega a família. Perdi a briga. Fiz científico e fiquei reprovada em química e matemática. Parei de estudar e comecei a procurar emprego, sem sucesso
Um tio que tinha emigrado para o Brasil se propôs a me ajudar. Fez carta de chamada e lá vou eu em 1958 para o Brasil, onde acabei o colegial, prestando duas vezes o vestibular para Letras. No primeiro, levei bomba e, no segundo passei em quinto lugar. Isto está bem explicado no meu livro “Tecendo Memórias”
PBP : – Como era a vida nos Açores, na década de 50?
MTC:- A vida era muito difícil para sobrevivência. Os homens eram lavradores e baleeiros. Na época era permitida a caça à baleia. A solução era emigrar para o Brasil ou para a Califórnia e, mais tarde, para o Canadá.
Ainda nos Açores, para continuar os meus estudos, tive que ir morar na Ilha do Faial. Geralmente havia espécie de pensionato. As alunas com mais posses ficavam no pensionato das freiras . As pobrezinhas como eu ficavam na casa de alguma senhora a troco um pagamento mensal. Sem pai, sem mãe durante o ano letivo. Só voltávamos para casa nas férias de verão. Isto até o fim do liceu (ginásio). As pessoas donas da pensão não cuidavam da gente. Foi dureza. vivia com intestino preso e outros achaques comuns à crianças e adolescentes.. No meu livro Tecendo memórias, podem encontrar estes “causos.
PBP:- Como era a Faculdade de Letras na USP em 1964? A senhora estava lá quando houve o conflito da turma da Filosofia da Usp contra os alunos direitistas do Mackeenzie.
MTC: – Sim. Em 1964 eu frequentava o Curso de Ldtras na USP. A turma de Letras não era bem vista pela turma de FHC e do Florestan (Fernandes). Eles Sempre esperavam que deixássemos a faculdade para proceder às votações. Estava lá quando os alunos tomaram a Faculdade. Formei-me em 1967.
PBP:-_ Como foi a tua carreira no magistério público estadual e por que escolheste vir para Caraguatatuba ?
MTC:- Depois do concurso para ingresso como professor de português efetiva, escolhi uma cadeira em Socorro SP. Não me dei bem com o clima e com a altitude da cidade. Por orientação médica, tinha pressão alta. Então escolhi mudar-me para Caraguatatuba onde minha hipertensão foi cedendo
PBP:_ Quando Geraldo Deu Caldo?
MTC:- Quando Geraldo deu caldo? Não conheço essa expressão!
PBP:- Quando Geraldo deu Caldo é uma brincadeira para perguntar como nasceu esse amor entre a senhora e o Geraldo Callefe. Vou mostrar meus haikais que fiz sobre esse amor. Veja:
1
Pobre Maria
Se não fosse seu geraldo
O quanto sofria!
Pbp
2
AMOR FAZ SOPA DE PEDRAS
Junto com Geraldo
Até com sopa de pedras
Faz se belo Caldo
Pbp
MTC :- Sobre o Gerado digo que vê-lo e amá-lo foi obra de um momento
PBP: -Fale me dos seus filhos?
Engravidei duas vezes, mas não consegui levar a gravidez até o fim. Em maio de 1974 adotei uma menina de um ano e meio, a Maisa . Em outubro do mesmo ano, um menino de cinco dias, o Maurício. Em 1977, adotei outra menina com um ano e meio, a Miena
PBP:- Porque a senhora escreve ?
MTC:- Escrevo pra não engolir sapo.
PBP:- E a doença , quando surgiu?
A respeito do problema de fígado. Devo ter sido contaminada com o vírus da Hepatite C numa transfusão de sangue no hospital do servidor público.
Sarei após transplante. Mas entrei em depressão profunda da qual estou me livrando com medicação pesada. Agora virei Cadeirante. Há três anos, tive um câncer de boca. Fiz duas cirurgias, mas fiquei com sequelas. Atualmente sofro de muitas dores no corpo todo. Nada a ver com o câncer de boca que já foi retirado. Tive que extrair todos os dentes por conta de uma lesão causada pelos mesmos no palato anterior. Ainda estou Banguela, mas providenciando uma prótese . Sei não se vou me adaptar. A fala ficou estranha… As dores s que eu sinto devem ser derivadas de problemas de circulação. Estou a fazer uma série de exames para descobrir a causa
PBP :- A senhora continua lendo muito e compartindo literatura.?
MTC:- Atualmente não tenho pique para longas leituras
PBP:- A Literatura cura?
MTC :- A oração cura
PBP: – O que a senhora tem lido ?
MTC:- O Evangelho segundo o espiritismo e o Pita do Tinga.
PBP: – Obrigado pela parte que toca ao Pita do Tinga.

Um poema de Maria Tereza Callefe
INDAGAÇÕES
“Deus, oh! Deus, onde estás que não respondes?”
Estás na certeza do sábio?
Na fé do simples? Nas crendices do povo?
És timoneiro desta grande nave?
És responsável pelos nossos acertos?
És razão e lei universal?
Onde estás, Senhor Deus?
Estás nas promissórias de indulgências?
És alicerce das religiões?
És viga mestra?
És raiz?
Onde estás?
Na razão absoluta?
Na liberdade sem fim?
Nas cabeças curvadas ante o desconhecido?
Deus razão.
Deus poder.
Somos deuses? Nós? Humanos deuses?
Por que caminhos andamos?
Transformo minhas dúvidas em espiral.
Giro em aberto.
Elipse infinita.
Maria Tereza Callefe atualmente é colunista da Cancioneiro Caiçara e pode ser lida nos seguintes links: Constelação de Amor – https://editora.cancioneirocaicara.com.br/noticias/constelacao-de-amor/
Tecendo Memórias um livro imperdível
O livro da professora Maria Tereza Callefe está disponível em formato e-book na Amazon no seguinte link : https://www.amazon.com.br/TECENDO-MEM%C3%93RIAS-Maria-Tereza-Callefe-ebook/dp/B01AKIPBNC/]
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Beleza,estou conhecendo através da revista,história de vida muito sofrida mas rica.maravilhoso poema.
Professora Teresa Callefe , teria sido uma honra para mim, se tivesse tido a
Oportunidade de ter sido sua aluna. Sua história de vida é um exemplo, quem deseja algo corre atrás, mesmo sabendo de todas as dificuldades pela qual vai passar. Através do Pita do Tinga tenho o sentimento que a conheço há muito tempo, ele consegue com muito apreço passar para nós todo o seu carinho pelos alunos e o carinho deles pela Sra. Estimo sua melhora e viva o Amor que nos move a fazer coisas boas. Seu poema é maravilhoso!
Querida Professora, minha inspiradora
Querida Professora, minha mestra