A Biblitralhadora do ex-ministro e a poesia de Cacaso

Diário do Fim do Mundo
Texto, vídeo e apresentação de Marcus Vinicius Ozores
Diário de Muito Prá Lá do Fim do Mundo, quarta feira, dia 27 de abril do ano completamente achincalhado de 2022 e eu aqui de volta para minha Sampa amada, poluída, barulhenta e desvairada lançando solitariamente minhas granadas para tentar sobreviver à insanidade coletiva com ‘Só a poesia nos Salvará’.
Novidades na Terra de Pindorama ou a Terra do Achincalhamento Geral. Anteontem, aquele pastor e deseducador geral da Terra dos Papagaios, apareceu no saguão do aeroporto de Brasília para testar a mais nova arma secreta criada pelos cientistas do MI-6, aqueles mesmos que trabalham para 007. A arma é o mais novo modelito que possibilita a união definitiva das Bancada da Bíblia e da Bala. Trata-se da Biblitralhadora , uma arma especial com sistema de pente da metralhadora embutido dentro da Bíblia, com capacidade de quase 300 tiros por minuto – e ainda fala a palavra do Senhor, com a capacidade incrível de quase 300 mensagens por minuto. O que não pode, na verdade , é dar essa arma na mão de quem não saiba usar e que dispare acidentalmente em aeroportos por ai. Ainda bem que foi no Brasil, porque se fosse nos Estados Unidos já estava em cana.
E o Achincalhamento da República não para por aí não, minha gente amada. Hoje, o Brutus, sabe aquele ex-PM carioca que é deputado federal, que em 4 anos de trabalho na PM teve mais de 70 acusações de má conduta e excesso de violência, e que foi condenado a 8 anos e meio de prisão pelo Supremo, semana passada. Pois é, aquele mesmo, o Santo amiguinho que foi abençoado pelo amigo Capitão, pois é, foi eleito hoje como vice-presidente da Comissão de Segurança da Câmara e, de quebra ainda vai participar de mais duas Comissões a da Justiça e de Esportes. Veja você, ele na verdade é alguma coisa mais ou menos parecida com o bode tomando conta da horta.
E , num dia desses em que o escracho à Nação e à Justiça rompeu com a civilidade e com a institucionalidade do país – , fui buscar nos versos do mineiro, de Uberaba, o Cacaso, isto é, o Antonio Carlos de Brito, o meu grito de protesto de hoje. Cacaso é um dos melhores exemplos de como o poeta usa os versos contra as armas da ditadura militar. Além do mais, Cacaso foi o grande representante da poesia marginal dos anos 60 e 70.
NOTURNO MADURO

Nesta hora os deuses pensam.
O tempo se desenvolve
a partir da integração.
O mundo aguarda: Que será?
Vêm os planos, a aspiração,
e a descoberta tristíssima
do nada. No sangue
a noite tornou-se um vício.
Este mergulho na treva
ainda é meu consolo.
Vida, que sei de ti?
Talvez nada, talvez nem isso…
Janelas espiam seios
e Raquel ainda é virgem
Na elaboração do eterno
nem a morte se atreve
Num quarto longe do mundo
sou um homem,
dolorosamente
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