MAIS LEMBRANÇAS DO TINGA E DE CARAGUATATUBA DOS ANOS 60

Pitágoras Bom Pastor
Vista do alto da Serra do mar, segundo essas fotos disponíveis no site Cidades do IBGE , era mais ou menos assim Caraguatatuba em 1964, quando mudei- me para cáz em março daquele ano. Essas foto são de 1960, mas nao mudou muito a paisagem 4 anos depois.
As cidades do Litoral Norte ainda caminhavam a passos lentos rumo à urbanização e o crescimento propíciaado pela nascente especulação imobiliária.
O CENTRO DA CIDADE E O IPIRANGA
Havia o centro que girava ali em torno da praça Cândido Mota, com seus comerciantes tradicionais, como o armazém do Carola, e outros . Havia os bairros de pescadores, e na área central o mais destacada deles era o Ipiranga, terra da pesca, dos fandangos caiçaras e de políticos importantes como os irmãos Mariano Nepomuceno, Saturnino e Sebastião, e seu irmão menos lembrado , mais não menos importante, o Benedito Camaroeiro, o mais valente caiçara da época e mais fiel cabo eleitoral do prefeito Altamir TIBIRIÇÁ Pimenta. Benedito Camaroeiro foi pai do mais pacífico entre os Nepomucenos, o Osíres, que também teve liderança política , mas é lembrado como organista da Matriz.
O TINGAO HERDEIRO DOS INGLESES
Como o forte da economia era a agricultura , por causa da Fazenda dos Ingleses, a cidade tinha um grande número de caipiras oriundos principalmente de Natividade da Serra. O bairro do Tinga onde fui morar era talvez o bairro mais caipira da cidade.
Com a catástrofe de 1967 a população caipira aumentou ainda mais , pois para lá foram os flagelados sobreviventes da hecatombe. Ali se ouvia muito história de milagres de sobreviventes. Lembro do Toninho Baiano que tinha um bar. Ele foi desenterrado na lama com uma enxada.
O MORRO DO CRUZEIRO
No bairro havia um morro em que foi instalado uma cruz. Foi fugindo para o seu topo que muitos escaparam da enxurrada de lama em 1967. O morro era próximo á Fazenda dos Ingleses e creio que dentro. da Fazenda Poiares, e lá se colocou um cruzeiro onde os sobreviventes iam todo ano , no dia 18 de março , agradecer a Deus pela salvação. Nós , os outros moradores íamos também.
Aliás qualquer ajuntamento era motivo pra participação de todos. Não havia lugar para o que hoje se chama de balada. As festas de casamento e aniversário , ou os arrasta-pés que se organizavam eram as baladas da ocasião. A melhor festa de que partipei foi do casamento do Professor Lúcio Preto e da Deolinda. Começou de manhã é terminou no outro dia. Teve almoço, bolo e baile. Todo mundo era convidado. Boca livre geral.
Em junho as festas juninas eram animadas. Lembro-me as da casa do Miguel Vitalino. Também os comícios eram uma festa só , embora sem música. Só palavreado.
Mercearia tinha a do seu Moreira e do João Deus Aumenta. Deus Aumenta era como ele agradecia seus fregueses quando compravam. Bares lembro me do bar do Anísio , da Dona Laura e do Toninho Baiano , que também vendiam mantimentos. Teve também o bar do Expedito e mais tarde o do Macedo.
CACHOEIRA E MÚSICA CAIPIRA E TRANQUILIDADE
O tinguense preferia a cachoeira do que a praia e lá naquela pontezinha depois da igreja havia uma líndissima que ficava dentro da Fazenda Poiares , mas era livre para todos.
Prédio Escolar só foi inaugurado em 1971, o atual Dr. Eduardo Correia da Costa e se chamava Grupo Escolar do Parque Complementar do Tinga.
Barbeiro era o seu João e o Brasilino, pai do Nilo da Ambulância. Havia grandes produtores rurais, donos de belos sítios com destaque para o Julinho e o Pedro Porte. Vicente Orlando também tinha uma chácara lá e no Jardim Itaúna era o Sítio do Tuí.
A música Caipira era muito forte lá. O mestre era Zé Sebastião, que no início cantava com Totó, depois foi cantar com seu filho Izaldir. Quem me lembrou do Totó foi o Joel que fazia dupla com Joelzinho . Joel e Joelzinho na verdade eram os irmãos Aristides e Dito que moravam na frente da casa do Zé Bengala , na hoje rua Filadelfo Reis. Aristides depois virou Gauchito e fez dupla com seu primo Geraldo, o Rouxinol. Desde de menino no Tinga ele já fazia sucesso na Oceânica com os locutores Geraldo Jose e com o depois Nerli Amaral.
Não havia água encanada nem ônibus. Luz só das 18 h às 22h fornecida por um sábio alemão que morava lá , o seu Erwin Bishoff , pai do Bube , depois mecânico da Prefeitura e da Ellen, esposa do Expedito.
O bairro era distante da cidade , porque seu acesso se dava somente pela Rua Marechal Deodoro que na época passava em frente á Colônia dos Pescadores, onde depois foi o Colégio Objetivo. Havia umas trilhas que passavam pelos caminhos de hoje ( atual Rio Santos e Jardim Jaqueira) , mas era um brejão terrível. Eu várias vezes me atolei por lá vindo da cidade.
As crianças morriam de verminose por que poucas casas tinham banheiro e mesmo quando tinha a molecada gostava era do cocô no Mato.
Não havia furto nem roubo , de vez em quando uma briga podia ter, principalmente nos arrasta pés ( bailes de roça). Como era bom aquele Tinga de antigamente. Pouco progresso, mas também pouco problema.
Afinal, pra que serve o progresso mesmo?
( E o povo era muito feliz andando de cavalo, charrete e bicicleta , os menos pobres).