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A ameaça de fechamento e privatização da Praia de Guaecá

 

Em se falando de praias privatizadas em nosso litoral, lembrei-me do que ocorreu com a construção de um grande empreendimento na praia de Guaecá, em São Sebastião.

Essa praia, bastante extensa e agora muito procurada por banhista e surfistas, era de propriedade de uma congregação religiosa. Era costume o Governo colonial ceder terras para as congregações católicas. Por exemplo, os títulos da Ilha de Montão de Trigo, litoral sul de São Sebastião, pertenciam a uma Congregação Católica da cidade de Santos.

Acredito que tomavam essa atitude, na esperança de que os religiosos fizessem o trabalho de exploração dessas terras, então distantes do centro governamental. Para administração colonial, era muito mais uma questão de domínio da terra que de fervor religioso.

”Como, fechar uma rua por segurança de seus moradores?!..”

Pois bem, quando cheguei por essas bandas litorâneas   no início da década de 60, corria uma história fantástica sobre os restos do convento que ficava no sul da praia. Havia pessoas que juravam de pés juntos que o convento era assombrado e que os fantasmas dos freis apreciam ao cair da noite…

É que havia  tido uma revolta dos escravizados dos sacerdotes que aí viviam, quando eles teriam matado os freis, seus donos.

Mais tarde, na construção do loteamento que existe nessa praia, seus proprietários colocaram portões nas entradas de acesso ao mar. Como jornalista, questionei a medida totalmente antidemocrática. A resposta de seus proprietários era que faziam isso por uma questão de segurança.

-”Como, fechar uma rua por segurança de seus moradores?!.. Então a Avenida Paulista, a rua Augusta na capital ou as ruas e São Sebastião também terão se ser fechadas por uma “questão de segurança”… respondi.

Na ocasião, o trato feito com a então administração municipal, é que os portões seriam fechados somente à noite. Se isso ainda acontece, não sei…

Mas há outro fato que quero contar para vocês.  “Cobrir” o que acontecia no litoral entre Santos e Rio de Janeiro, não era uma tarefa fácil para uma mãe de cinco filhos.

Praia do Guaecá – Foto Marcos Bonello – Arquivo Prefeitura Municipal de São Sebastião

Num domingo, eu descansava e curtia a minha família.  Eram cerca de quatro horas da tarde e me lembro muito bem, estava me deliciando com uma sobremesa de moranguinhos com nata ( que até hoje, gosto muito). Daí o telefone toca, minha filha mais velha que o atendeu me passa o recado:

-” Um senhor, proprietário da praia de Guaecá quer falar consigo”.

“Meus Deus”, eu pensei,  “Bem na minha folga…” mas atendi o telefone.

A queixa apresentada pelo senhor era que uma família de indigentes estava morando debaixo da ponte que existe na estrada estadual que dá acesso a Guaecá.

“Pelo menos, eles têm coração”, pensei eu. “Querem resolver o problema dessa família”.

Qual não foi minha surpresa quando meu interlocutor finalizou seu pensamento:

“Eles vão estragar a ponte!…

Se eu não tivesse sido muito bem educada por meus pais, teria batido o telefone na cara dele. Era o que esse senhor merecia….

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Priscila Siqueira

Priscila Dulce Daledone Siqueira Nasceu Ponta Grossa, PR, em 1939. Cursou jornalismo UFRJ; Foi pioneira no jornalismo ambiental. É uma das fundadoras do Movimento de Preservação de São Sebastião e da Sociedade de Defesa do Litoral Brasileiro, além de ser uma das fundadoras da SOS Mata Atlântica. Foi professora da Escola Normal de São Sebastião

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Um Comentário

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