Como o meu Dodge 1929 enfrentava as estradas em 1940


O Velho Aprendiz
Texto e fotos de Rubens Negrini Pastorelli
Nesse texto o velho aprendiz , Rubens Pastorelli que nunca cansa de aprender ensinar dá detalhes técnicos inclusive da mecânica e da funilaria de seu Dodge 1929
Incentivado pelo meu amigo Pitágoras Bom Pastor Medeiros, hoje vou contar a história de um carro que pertenceu à minha família, e que foi uns dos “pioneiros” nas viagens para Ubatuba, tendo realizado inúmeras delas nas décadas de 1940 e 1950. – Trata-se de um Dddge de ano de fabricação 1929, com carroceria toda de aço e quatro portas, e que na época era considerado um carro de luxo. Ele foi adquirido para servir à família de meu pai, composta de 4 mulheres e 3 homens. Ele foi revisado na nossa oficina ( que fabricava máquinas agrícolas) e passou a circular em Taubaté e a fazer dezenas de viagens para Ubatuba, e até uma para São Sebastião, como mostrarei nas fotos.
Como a serra era uma tragédia na época, foi adaptado nele um pequeno tanque auxiliar de gasolina sob o capô dianteiro, de onde o combustível fluiria por gravidade a fim de alimentar o carburador, caso a bomba que era instalada na traseira do carro viesse a falhar. Acho que esse tanque nunca precisou ser usado, pois a bomba sempre se “comportou direitinho”.
O motor era possante, com seis cilindros em linha, mas mesmo assim não dava para abusar na subida da serra, que exigia muito dele. Nunca tivemos problemas com o Dodge na estrada, pois ele era sempre revisado nos intervalos das viagens.
Após muitos anos de uso, e com a morte do meu avô, o carro ficou de herança para o meu tio Albino, o mais novo entre os três irmãos homens. Aí começou a “novela”, pois meu tio resolveu fazer uma reforma geral nele. Desmontou tudo, peça por peça, mandou retificar o motor e guardou, enquanto foi reformando a lataria, cujas imperfeições foram preenchidas com estanho, raspadas e lixadas, e repetido o processo até ficarem perfeitas para receber a pintura. (Na época não existia a famosa massa plástica de hoje em dia).
As rodas, que eram seis com os estepes, tinham raios como as das motocicletas, que foram lixados um por um até ficarem brilhando, quando então foram pintados com a tinta original, importada dos Estados Unidos. A carroceria também foi pintada com a mesma tinta.
O câmbio e o diferencial foram revisados, e os amortecedores passaram por uma regulagem minuciosa, pois possuíam válvula de regulagem do fluxo do óleo a fim de controlar a velocidade do seu movimento. Meu tio tinha uma paciência de Jó ao regular os amortecedores, que eram pendurados em um gancho, e daí meu tio pendurava neles, cronometrava a velocidade, e ia regulando a válvula e repetindo o processo até achar que estava como ele queria.
Pois bem, essa reforma durou alguns anos, acredite quem quiser, porque o meu tio só trabalhava nela após o expediente na oficina. No final, ficou um carro tinindo de novo, mas que nunca mais fez uma viagem para Ubatuba porque o meu tio só o usou na cidade de Taubaté, e assim mesmo poucas vezes. – Ficou praticamente encostado por muitos anos.
Quando meu tio já estava com cerca de 90 anos, ele foi levado pelo seu filho para morar em São José dos Campos, onde veio a falecer com 100 anos de idade. O filho ( meu primo) acabou vendendo o Dodge para um comprador que o repintou com cor não original, colocou pneus de faixa branca, e assim descaracterizou o pobre coitado, encerrando a trajetória do carro dentro da nossa família.
Mostro a seguir as fotos do Dodge no alto da serra, em frente da nossa casa, na praia do Pereque, e no porto de São Sebastião, fotos estas já postadas em outras narrativas minhas.



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A história de amor do senhor Patorelli e Ubatuba ,vale um casamento e nos transportam a um passado difícil mas muito bonito só tenho que parabeniza lo.👏👏
Naquela época ter um carro era um tesouro, pois nós caiçara não tinhamos recursos financeiro para tal, fico imaginando eles passsndo com o carro e as pessoas admirando aquela belezura. Que pena que desfizeram do carro e quem comprou desfigurou.o coitadinho…