Cantinho da Priscila Siqueira

Berenice do Tamar a mulher que salvou as tartarugas do litoral norte

A volta das tartarugas aos mares desse litoral é responsabilidade do Projeto Tamar que tem sede na Praia do Forte, litoral baiano, e que foi instalado em Ubatuba em 1991. A oceanógrafa Berenice Maria Gomes da Silva, responsável desde seu início por esse projeto, não gosta de colher os louros da experiência exitosa sozinha-”Se o Tamar no litoral norte paulista deu certo, é porque há uma equipe técnica altamente empenhada para que isso acontecesse. Não foi um vitória solitária, minha”.

A bióloga Ângela Siqueira, caiçara moradora no litoral norte paulista , é contundente-

”Antigamente a gente poderia navegar em águas profundas extremamente límpidas, e não víamos nem uma tartaruga. Hoje elas populam em nosso litoral e podem ser vistas até mesmo do aterro de São Sebastião”.

Adolescente Berenice já lutava pelas baleias 

Nascida em 1963, Berenice diz que a preservação ambiental está no seu DNA. Ainda adolescente militava na União de Defesa das Baleias. No colegial, fundou com amigos, a ONG “Terra Firme” que tentava inculcar nos colegas a importância do cuidado com o meio ambiente.

Formada em Oceanografia, na Universidade do Rio Grande, Rio Grande do Sul em 1983, seu primeiro emprego foi na Fundação SOS Mata Atlântica, em sua equipe Técnico Científica. Berenice era responsável pelo projeto de cultivo de ostras nas comunidades caiçaras.

Em 1990 cria o aquário de Ubatuba (Link)

Em 1990, com uma bebê de menos de um ano, Berenice e seu ex-marido , Hugo Gallo chegaram em Ubatuba sonhando belos projetos para esse litoral. Hoje Ubatuba conta com um dos mais belos aquários marinhos do país, que é referência nacional. O aquário foi idealizado e montado por Hugo e Berenice. Ambos estudaram na mesma Faculdade de Oceanografia.

“No início de nossa vida em Ubatuba eu tinha 11 empregos e três bicos”, afirma Berenice sorrindo. “Era guia de turistas , vendia sanduíches que eu mesmo fazia, tirava fotos para jornais”…

A Importância do  TAMAR  de Ubatuba

Berenice e uma “cliente” na praia de Ubatuba. Fotos facebook

Um fato muda sua vida: colegas seus da mesma faculdade iniciam o projeto Tamar  na costa baiana. Esta é uma região de reprodução das tartarugas marinhas. Porém o projeto precisava acompanhar as tartarugas em áreas de alimentação das tartarugas juvenis. E esse é um fenômeno que acontece exatamente no litoral norte paulista. Assim o Tamar fechava o conhecimento do ciclo de vida desses animais marinhos.

Berenice foi convidada para instalar o TAMAR nessa região. Então, ela trabalhava na Fundação de Arte de Ubatuba- FUNDART, como gerente do Grupo de Meio Ambiente. Autorizada para tanto, o Tamar passou a ocupar a mesma sala onde funcionava o Grupo de Meio Ambiente.

 

“Os pescadores artesanais são nossos grandes parceiros”

Nessa primeira fase de instalação do projeto, foi feito um diagnóstico de quais espécies de tartarugas ocorriam nessas águas, quais as fases de vida dos animais, quais as relações dos pescadores com sua pesca.

Posteriormente, foi iniciado o trabalho de monitoramento dos animais e a conscientização dos pescadores em relação a elas.

Os pescadores artesanais são nossos grandes parceiros; sem eles nosso trabalho não seria possível”, afirma Berenice. “Se alguma tartaruga caísse em suas redes, que fosse devolvida ao mar. Se estivesse machucada, que fosse enviada ao Tamar onde seria tratada”.

Seis  tanques de observação de tartarugas e 6 espaços para tartarugas  de água doce.

Atualmente, o TAMAR de Ubatuba conta om uma infraestrutura magnífica de tanques e aquários. São 6  tanques de observação de tartarugas e 6 espaços para tartarugas terrestres e de água doce.

Há também o recinto das tartarugas Albinas com quatro visores onde os visitantes podem observar as tartarugas submersas. Finalmente, há o tanque principal com praia artificial e visor panorâmico.

Além dos numerosos turistas que visitam suas instalações , a sede do TAMAR recebe estudantes da região e de outras localidades, havendo aí uma importante educação ambiental.

Educação o Papel do Futuro”

Milton Nascimento aqui junto com Berenice e outros artistas apoiam o TAMAR

Mas o TAMAR  transcende seu trabalho educacional com estudantes e visitantes. Com a preocupação de integrar as comunidades caiçaras da região, foram criados grupos de inclusão com costureiras das praias de Picinguaba e Camburi. Essas costureiras trabalham em casa e o produto de seu trabalho é vendido na sede do Tamar e em outras duas lojas do projeto existentes em Ubatuba.

Outra atividade, que infelizmente está parada desde a pandemia de Covid, é o “Papel do Futuro” que é um centro de educação ambiental para jovens. Quando, tempos atrás, Berenice ganhou um cachê da empresa Dove de cinco mil reais, ela deu esse dinheiro para o projeto .

Berenice e o neto

Atualmente, Berenice divide sua paixão pela vida marinha com Nicolas , seu neto de dois anos de idade…

Essa mulher é mãe de Elza e Lucas. Elza, arquiteta, fez mestrado em Urbanismo Sustentável e Lucas se formou em Ciências Ambientais. Não há dúvida que o DNA da mãe passou para os rebentos…

Saiba mais sobre o TAMAR no vídeo abaixo

LEIA MAISHISTORIAS DE PRISCILA SIQUEIRA nos links abaixo

A magia do barro de Adélia Barsotti

Cantinho da Priscila Siqueira

 

Priscila Siqueira

Priscila Dulce Daledone Siqueira Nasceu Ponta Grossa, PR, em 1939. Cursou jornalismo UFRJ; Foi pioneira no jornalismo ambiental. É uma das fundadoras do Movimento de Preservação de São Sebastião e da Sociedade de Defesa do Litoral Brasileiro, além de ser uma das fundadoras da SOS Mata Atlântica. Foi professora da Escola Normal de São Sebastião

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