A Crônica do diaOs Diários do Ozores

Nuvens cinzas sobre as casernas

Diário do ano da peste de 2021

 

Hoje é terça feira dia 24 de agosto e o cachorro louco está à solta e tumultuando e mordendo muita gente. Vacine-se contra a raiva que mutatis mutandis é irmã siamesa da covid-19. E sobe o clima de tensão nos quartéis das PMs, com aproximação do 7 de setembro. Lembrando que, desde 64, quando as Forças Públicas passaram a ser PMs e como consequência, reserva de homens das Forças Armadas, a questão do comando sempre esteve dividida entre dois senhores. Os governadores e os generais. Agora em 2021 e novamente no mês de agosto as PMs tem sinalizado graus diferentes de insubordinação para quem efetivamente banca os seus salários que são os governos estaduais. O governo federal sempre alimentou a sua reserva técnica com ideologia repressiva e o atual momento é critico e muitos PMs aposentados que atendem ao canto das sereias podem vir a ser os protagonistas de imagens que poderão macular a imagem do país. Esperamos que o bom senso nos quarteis e nos palácios de governo encontrem uma linha justa antes que o trem sai dos trilhos.

E mesmo para não ver o trem sair dos trilhos é que permaneço na minha república anarquista de Barê lançando minhas granadas do “Só a poesia nos Salvará”.

Nuvens negras – Foto de Marcus Pasini Ozores

E hoje nossa nau continua ancorada em Guiné Bissau localizada à beira do Atlântico para visitar a obra poética de Vasco Cabral nascido na cidade de Farim em 1926 falecido na capital Bissau em 2005. Vasco Cabral foi preso em 1953 por sua atuação contra o regime de António de Oliveira Salazar e também foi um dos fundadores do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde.

Vasco Cabral além de poeta foi escritor, político e exerceu os cargos de ministro da Economia e das Finanças, ministro da Justiça e vice-presidente da Guiné-Bissau.

Vou ler de Vasco Cabral

 

ÁFRICA! ERGUE-TE E CAMINHA

Mãe África!

Vexada

Pisada

Calcada até às lágrimas!

Confia e luta

E um dia a África será nossa!

Quando à floresta chegar o meu grito

e o tantã ritmado do batuque chamar os irmãos à luta,

Quando, como um só homem, nos decidirmos a não vergar a fronte

E fizermos o branco tratar-nos como igual.

Quando, a cada violência, responder o brado da nossa imaginação

E o nosso apelo chegar ao coração e à consciência das massas

E como um fluido electrizante reunir no mesmo «meeting»

O negro estivador e o negro camponês.

Quando cada palavra de ordem for cumprida

E o nosso voto e a nossa vontade forem livres

como um pássaro no espaço.

Quando em cada alma de negro brilhar o sorriso da vitória

E sair de cada fábrica uma palavra de ordem

como um brado de combate e esperança.

Quando ao chicote agressor

Quiser responder a justiça das nossas mãos

E as nossas filhas e as nossas irmãs

Deixarem de ser as escravas do senhor

que é o dono das terras e é o dono das vidas.

Quando cada amigo, seja branco ou amarelo,

for tratado como irmão

e lhe estendermos a mão como se fora um negro

e o aceitarmos lado a lado no combate.

Oh! Quando nos nossos olhos brilhar o fulgor do orgulho

E for inabalável a vontade duma condição humana,

como um rio que inunda sem cessar.

E porque à floresta chegou o meu grito

E acordou os irmãos ao som ritmado do tantã.

Desperta-me Mãe-África!

E serás mais minha mãe.

Desperta irmão negro!

E serás mais meu irmão

porque encontramos o caminho da vitória final!

Mãe África!

Vexada

Pisada

Calcada até às lágrimas!

Confia e luta

E um dia a África será nossa!

Marcus Vinicius Pazini Ozores, é jornalista e mestre em Sociologia, pela Unicamp. Foi assessor de imprensa dessa universidade onde continua como pesquisador . Trabalhou em grandes órgãos de mídia nacional> Aposentado, atualmente solta torpedos em versos de seu refúgio a praia de Baraqueçaba, em São Sebastião, onde reside.
A Cancioneiro Caiçara tem o apoio cultural da Hidrel. Uma empresa genuinamente caiçara.

 

Marcus Ozores

Marcus Vinicius Pasini Ozores é fotógrafo, jornalista, apresentador de TV , mestre em Ciências Sociais e Pesquisador Associado na UNICAMP

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