Um caso triste, muito triste
Texto de Priscila Siqueira
Imagem: Vanessa Gor Wikimedia Commons
Quando o Comitê de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Estado de São Paulo estava funcionando a pleno vapor, durante o Governo de José Serra- PSDB ( 2007 a 2011) , eu fazia parte do mesmo representando a ONG em que trabalhava, o “Serviço de Prevenção ao Tráfico de Mulheres e Meninas” – SMM. Certa ocasião recebemos uma denúncia terrível: numerosos adolescentes de 11 a 14 anos, tinham sido recrutados no interior do Pará, com a promessa de serem jogadores de futebol, nos times sub- 17 do Corinthians, Palmeiras, Ponte Preta, Flamengo e tantos outros. Imediatamente as famílias deram autorização para que os garotos viajassem, pois terem um craque de futebol era tudo o que precisavam para sair da pobreza.
Ao chegarem na capital de São Paulo, os adolescentes foram encaminhados para três clínicas médicas. Lá, receberam doses de hormônios femininos, foram-lhe implantados seios e alguns deles chegaram a ser operados para reversão de sexo. Quando a Polícia conseguiu encontrá-los, havia ainda cinco deles em uma determinada clínica. Apesar os reiterados pedidos do Promotor Público, o Juiz que estava acompanhando o caso, demorou para liberar a entrada da Policia na clínica. Esses cinco garotos desapareceram para sempre.
Um garoto de 12 anos recuperado pela operação policial, tocava em seu peito e, sentindo os seios, dizia para nós:” Eu não sei o que é isso aqui…”
Os meninos foram devolvidos para suas famílias no interior do Pará. Mas ficava no ar uma pergunta. Esses garotos saíram para o sul do País para jogar futebol; eles eram pequenos machinhos. Quando eles voltaram para suas casas, as famílias vão reconhecê-los? Seus amigos vão aceitá-los ?!…A comunidade vai recebê-los?!
“E eles, quando tomarem consciência do que aconteceu, como vão reagir?”, perguntei a uma psicóloga que acompanhava ocaso. Sua resposta foi curta e grossa –“Suicídio”…
Pois é, que crime perverso é o tráfico de pessoas! E isso porque muitos homossexuais não queriam mais garotos de 17, 18 anos para fazer sexo, e então requisitaram aos bandidos, meninos mais novos.
A situação atual
Atualmente nem sabemos se situações como essa se repetem em nosso Estado, pois o Governo de São Paulo que já foi muito eficiente nessa matéria, finge que enfrenta esse perverso crime que envolve até médicos. Assim como finge que temos um Comitê de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no litoral norte paulista, que ninguém sabe e ninguém viu… Estranha situação: governadores do mesmo Estado e do mesmo PSDB com posturas totalmente diferentes.
O Governo Federal, então, não está nem aí…Ignora completamente a decisão de 2006, através de Decreto Presidencial, que exige pelo menos um Comitê de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas em cada Estado da Federação no Brasil.
Mas como quem mais sofre por conta desse crime são pessoas jovens, pobres e majoritariamente afrodescendentes, a Presidência da República deixa pra lá. É , em matéria de seguridade social, nós, brasileiros, estamos sem pai e sem mãe…
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O que temos visto há mais de 40 anos são crianças e adolescentes desaparecidos, e a família em constante busca. Por um determinado tempo a polícia procura, infelizmente é muito difícil resgatar essas crianças. Os pais não sabem se estão vivos ou mortos. Não fazem o luto porque são desaparecidos, é um sofrimento sem fim, e o descaso com o problema continua., por falta de profissionais especializados para a busca dessas crianças e adolescentes. Imagina os destroços emocionais que afetam todo um núcleo familiar. Até quando iremos viver com o medo e o fantasma de viver uma situação dessas, um problema grave que afeta toda a sociedade. E também é de responsabilidade da sociedade denunciar quando percebe alguma coisa em torno de sua residência que chame atenção e acionar as autoridades policiais.
Uma barbaridade. Eu não sabia desse caso terrível. Que horror. São monstrons. O que fazer para transplantes de um coração manso e bom nesses perversos. Aonde estão as autoridades de nível maior para ajudar aos indivíduos anônimos do bem que tanto fazem é estão nessa luta a anos. Como a nossa Priscila Siqueira. Deus abençoe abnegada amiga é tantos resistentes anônimos.
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