Domitila uma mulher

A Opinião da Cancioneiro Caiçara por sua mestra Proeira
Priscila Siqueira
Tenho certeza que para a maioria das pessoas, quando se fala de Domitila, a famosa Marquesa de Santos, logo vem ao pensamento “aquela vadia, amante do Imperador Dom Pedro I”. Interessante, quando pensamos nele, poucos irão dizer, “nossa, como ele foi desrespeitoso com a esposa, a Imperatriz Leopoldina”. Pelo contrário, “o cara sabia aproveitar a vida e o seu “status” de rei e imperador… Como quando a gente sabe que algum figurão- político, empresário ou juiz, por exemplo, desrespeita sua esposa. Pelo contrário, muitos numa sociedade patriarcal e machista como a nossa, serão capazes de achar: ”Nossa como ele é “fodão”, não deixa passar uma…” Em vez de ser uma censura, seu comportamento recebe um grande elogio.
Poucos sabem ou levam em consideração o papel social que Domitila teve, largando um marido que a maltratava e com quem foi obrigada a casar. Isso, naquele tempo. Até hoje, mulher que largou o marido ainda é considerada uma leviana para muitas pessoas em nossa sociedade… Outras vezes a própria mulher não consegue se livrar desse “machismo introjetado” como é chamado o fenômeno pelos psicólogos.
Conheci uma mulher, professora economicamente independente, que era casada com um homem que a maltratava, tinha amantes e gastava o dinheiro dela. Quando perguntei o porquê dela ainda continuar com ele, ela me respondeu-“Eu não nasci para ser uma mulher separada. E depois, com quem eu vou ao cinema”… Cineminha caro, não?!…
Os diversos juízo de valor feitos em relação a Dom Pedro I e à Domitila, retratam bem a dupla moral da sociedade em que vivemos. Graças aos Céus, aos poucos, tudo está mudando. Mudança que depende de nós, mulheres e homens que desejam uma sociedade mais justa e igualitária. Porque o machismo está na base de muitos comportamentos até mesmo os políticos. Não se esqueçam que nosso presidente da República afirmou, quando deputado federal que não estuprava uma colega sua do Legislativo porque “ela era feia…” Quer dizer que a mulher estuprada, violentada deve ficar alegre e se vangloriar de ser bonita e gostosa?…
Se na relação Domitila e Pedro houve algum desrespeito a outrem- pois acredito que eles se amavam assim como a seus quatro filhos- não foi por parte da mulher, mas do homem. Ele que era casado: ela era livre e separada. Ainda acontece que, quando a mulher descobre que o marido tem uma amante, ela vai pedir explicações para a amante. Quem tinha uma compromisso com a esposa traída, não era a amante mas seu marido…É ele que tem de ser questionando.
Sabemos que as mudanças de padrões de comportamento numa sociedade são muito lentas. Mas também são irreversíveis. Nossa geração tem o privilégio de ver essas mudanças acontecerem quando muitos se levantam contra crime de femicídios, de violência contra a mulher e lutam para que as mulheres- esposas, mães, irmãs e filhas de todos nós- sejam enfim empoderadas e respeitadas como cidadãs de primeira classe.
Editorial em cima da matéria de Pitágoras Bom Pastor sobre a caiçara Domitila” , disponível no link https://editora.cancioneirocaicara.com.br/noticias/marquesa-de-santos-a-origem-sebastianense-dessa-mulher-poderosa-e-independente/

Nossa,comentário digno de Priscila Siqueira .Parabens pela ” sacudida ” e pouco.
Sempre uma boa leitura. Um prazer ler as histórias repletas de conhecimento e temas atuais escritas por Priscila.
Pois é, eu tive um marido assim, machista. Usava o meu dinheiro para se fartar com suas amantes. Eu tirei o cartão de crédito dele e tirei o nome dele da minha conta conjunta. Fui no cartório e paguei pelo meu divórcio. Construí minha casa aqui em Caraguatatuba e deixei tudo pra trás, não trouxe nada de lá. Me aposentei e vim embora. Ele não trabalhava. Depois de divorciada me ameaçou várias vezes que ia me matar, a raiva dele foi porque não teve mais acesso ao meu salário. Fiz um boletim de ocorrência na delegacia da mulher. Parou as ameaças, ficou dependendo das migalhas que os filhos davam para ele. Nós mulheres temos que ter coragem que a vida é nossa e ninguém tem direito de nos explorar. Hoje olho para trás e penso que foi a melhor decisão que tomei. Construirl minha casa aos 57 anos. A outra tenho direito, ele mora lá, tem outra mulher que o sustenta. Eu vivo aqui na simplicidade, tenho paz e vivo, antes eu sobrevivia…Liberdade é tudo, sem amarras, cada um colhe o que planta…um dia ele me agrediu. Ha pouco tempo ele disse que os filhos não são dele que queria o DNA, mandei ele fazer, e também se fodê… esta foi a gota d’agua, ninguém mais irá me usar, me agredir, me desrespeitar. Mandei ele pra puta que pariu, eu sei quem sou, ele infelizmente se perdeu…aí como bom desabafar…