A OPINIÃO DA CANCIONEIRO CAIÇARACantinho da Priscila SiqueiraDestaques do Banner

Castelhanos não pode ser devastada

A OPINIÃO DA CANCIONEIRO 

 

EM DEFESA DE CASTELHANOS

Por Priscila Siqueira -Mestra Proeira da Cancioneiro

Priscila Siqueira em foto do APMC de Caraguatatuba de 2020

Mais um absurdo acontecendo em nosso litoral. Agora, querem entregar a praia de Castelhanos , no lado do mar aberto da ilha de São Sebastião- município de Ilhabela, à especulação imobiliária e deixá-la vulnerável à
devastação ambiental.

Os líderes da Associação Amor Castelhanos , mestre Ivanildo e Angélica de Souza não cansam de denunciar esse crime contra os caiçaras do local e contra a natureza intocada da praia. Tudo começou quando o prefeito Antônio Colluci do PL, antigo dentista da Polícia Militar, propôs em regime de urgência à Câmara Municipal de Ilhabela, o projeto de lei revogando o decreto municipal 8351, que considera a praia de Castelhanos uma Reserva Estadual.

Obviamente o pedido do prefeito foi atendido imediatamente pela maioria dos vereadores de Ilhabela. Como, não sei…O estranho é que o prefeito Antônio Colluci tem seu mandato cassado pela Justiça por improbidade administrativa. Porém ele se mantém no poder, por uma simples liminar. É ético um prefeito já cassado, tomar uma atitude como essa? E a Câmara Municipal que devia zelar pelo bem comum de Ilhabela, poderia aprovar tal projeto de Lei?…

É isso aí, primas e primos, a ganância da especulação imobiliária nunca acaba. Pouco importa se tira do lugar populações ancestrais que vivem com harmonia no seu ambiente. Pouco importa se vão devastar a mata e poluir o mar. O que somente importa para a especulação imobiliária é o lucro. Não é atoa que Darcy Riberio, o grande economista brasileiro, dizia que no processo civilizatório que vivemos no planeta não se baseia na pessoa humana mas no lucro.

Protesto na Ilha – Foto Márcio Pannunzio

Só, primaiada querida, é que tal processo está acabando com a terra que é um organismo vivo. O Aquecimento Global está aí para nos advertir: Chuvas torrenciais em alguns lugares do planeta ou terríveis secas em outros. Em qualquer dessas situações , tais fenômenos trazem muita morte e sofrimento para as pessoas, principalmente as que vivem em comunidades mais pobres.

Hoje já é claro para os ambientalistas que as nuvens devem ser consideradas “rios flutuantes”. Isso porque são carregadas de água que, quando se saturam caem no solo em forma de chuva. Pois as nuvens são formadas por gotículas de água levadas para todos os lados pelos ventos. E as “nascentes” de tais rios, são as florestas.

Quando destruímos uma mata, estamos acabando com a nascente de nuvens que circularão por todo o planeta. Se as florestas não mais existirem, não haverá mais chuvas e portanto, não haverá mais água. Atualmente nós, brasileiros, temos somente cerca de 2% de Mata Alântica em todo nosso País. A Ong SOS Mata Atlântica denuncia que neste ano de 2022, foram destruídos nesta mata o equivalente a 117 campos de futebol. E o litoral norte de São Paulo é um dos lugares de nosso estado, com as florestas mais preservadas. O que a ganância do lucro deseja? Acabar com a natureza quando suas mansões estarão poluindo o mar e devastando a mata?

Toque Toque Pequeno, primeira praia da costa sul de São Sebastião a ter a construção de condomínio fechado de alto padrão, foi também a primeira praia a apresentar poluição no mar em todo município. Quando eu interroguei um comprador de uma das casas de veraneio locais sobre esse problema, ele me respondeu com cinismo -” A mim pouco importa a poluição do mar. Minha casa tem uma enorme piscina”…

É isso aí, primas e primos: Quando se devasta a natureza, acabamos com as comunidades tradicionais. Quando acabamos com as comunidades tradicionais- como a da praia de Castelhanos- estamos acabando com a natureza. O processo é dialético: um depende do outro.

Nos anos 80, Judith Cortesão, médica, bióloga, professora da Faculdade de Oceanografia na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do
Sul, já afirmava com convicção:-”Se quisermos sobreviver como espécie humana, temos de valorizar e aprender com a modernidade das culturas tradicionais, que sobrevivem muito bem sem devastar e agredir a natureza”

 

Priscila Siqueira

Paranaense, nascida em 1939, Priscila Siqueira formou-se em jornalismo na antiga Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. Agora aposentada, trabalhou por muitos anos na Grande Imprensa nacional :Agência Folha de São Paulo, Agência Estado (jornais O Estado de S.Paulo, o extinto Jornal da Tarde e Rádio El Dourado) e no jornal Valeparaibano. Como jornalista teve a oportunidade de presenciar a expulsão dos caiçaras - o caboclo do litoral - de suas praias pela especulação imobiliária, decorrente a abertura da Rodovia BR 101, no seu trecho de Santos - Rio de Janeiro. Dessa experiência, surge seu primeiro livro “Genocídio dos Caiçaras“, em 1984. Jornalista especializada na questão ambiental, cobriu a Constituinte do Meio Ambiente de 88. Como ativista ambiental, foi uma das fundadoras da SOS Mata Atlântica, Movimento de Preservação de São Sebastião- MOPRESS e presidente da Sociedade de Defesa do Litoral Brasileiro. Em 1996, participou do Congresso Mundial contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes, na cidade de Estocolmo realizado pela rainha Sílvia da Suécia e a UNICEF- Nações Unidas para a Infância. Foi professora na antiga Escola Normal de São Sebastião, além de dar aulas no Centro Universitário Salesiano de São Paulo- UNISAL, e na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo- FESPSP, em cursos de pós graduação lato sensu, sobre a Violência à Mulher, Prostituição Feminina e Tráfico de Mulheres e de Meninas.

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2 Comentários

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