NotíciasOs Diários do Ozores

O Aumento de moradores nas ruas mostra as impossibilidades neoliberais

Texto video e locução de Marcus Ozores

Marcus Vinicius Pazini Ozores, é jornalista e mestre em Sociologia, pela Unicamp

Diário de Pindorama, 22 de fevereiro de 2022, e sempre é bom reprisar que vivemos o terceiro ano da Peste e, por isso mesmo, continuo aqui com o “Só a poesia nos Salvará” tentando afastar o baixo astral da nossa amada Belíndia, da minha República Livre Anarquista dos Tupinambás de Barequeçaba. Em março vai completar dois anos que decidi morar à beira mar, bem juntinho aos ancestrais dos antropófagos tupinambás que habitavam essas praias, aqui de Barequeçaba, para arriba. Escolhi as águas do Atlântico para afogar minhas mágoas pelo isolamento forçado imposto pela pandemia.

Nesse curto espaço de tempo leio que a população de rua da minha amada Sampa cresceu 31% e o número de moradores de rua entre pessoas sozinhas e famílias inteiras que foram despejadas, esse numero beira a 40 mil almas que disputam lugares debaixo das marquises na rua São Bento ou debaixo do Minhocão e outros tantos milhares de viadutos e marquises.

Sempre acompanhei o crescimento desses moradores, porque moro no coração do bairro dos coxinhas, em Higienópolis, e sou caminhante voraz do centro antigo da Sampa Desvairada. Conheço todos os pontos dos sem-teto. O surpreendente, no entanto, é que na Terra do Tio Sam, onde 11 entre 10 empresários brasileiros, – aquele empresário com “e” minúsculo, proprietário de lojas de 1,99 –  querem morar,  a situação é muito pior. Em Los Angeles, uma das cidades mais ricas do mundo, a população de rua supera a de São Paulo longe. São mais de 60 mil sem-teto que disputam espaços com suas barracas de camping, compradas em alguma loja do Walmart. Já em Miami, paraíso, dos brasileiros endinheirados o prefeito da cidade resolveu a questão dos milhares de sem-teto. Ameaça prender todos aqueles que dormirem e comerem nas ruas da cidade.

Informações extra oficiais informam que está sendo construído um presidio para umas trinta mil pobres. O tal do capitalismo neoliberal e altamente tecnológico já mostrou as suas várias faces há tempos. A pobreza aumenta na mesma proporção que aumenta a concentração de renda no mundo. E é por isso que hoje leio o poema intitulado ‘Impossibilidade’ de autoria do alemão de nascimento, mas norte americano de uma vida inteira Charles Bukoviski. A família de Bukowiski veio para os EUA quando ele tinha três anos se fixando em Los Angeles. E foi numa Los Angeles subterrâneas de bares baratos e de subempregos que Bukowiski se formou, lendo muito e escrevendo na sua máquina de datilografia completamente ébrio. Bukoviski vivia num mundo que era obscuro e atormentado. Perto dos seus 50 anos Bukoviski conheceu o sucesso como romancista e poeta e tem sido ídolo para toda uma geração de desajustados e de músicos de rock. Bukowiski era um tremendo gozador e certa vez chegou a divulgar que o filósofo existencialista francês Jean Paul Sartre havia dito que ele era o maior poeta das Américas. Vejam  poema de Bukowisky

Impossibilidade

Charles Bukowiski – By wikimedia commons

Hemingway testando seu rifle
Céline fracassando como médico
a impossibilidade de ser humano
Villon expulso de Paris por ser um ladrão
Faulkner bêbado nas sarjetas de sua cidade
a impossibilidade de ser humano
Burroughs matando sua mulher com um tiro
Mailer apunhalando a sua
a impossibilidade de ser humano
Maupassant enlouquecendo em um barco a remo
Dostoiévski enfileirado no muro para ser fuzilado
Crane fora do barco em direção à hélice
a impossibilidade
Sylvia com a cabeça no forno como uma batata assada
Harry Crosby saltando naquele Sol Negro
Lorca assassinado na estrada pelas tropas espanholas
a impossibilidade
Artaud sentado num banco de hospício
Chatterton tomando veneno de rato
Shakespeare um plagiador
Beethoven com uma corneta para surdez enfiada na cabeça
a impossibilidade a impossibilidade
Nietzsche enlouquecendo completamente
a impossibilidade de ser humano
demasiado humano
esse respirar pra dentro e pra fora
pra fora e pra dentro
esses marginais
esses covardes
esses campeões
esses cachorros loucos de glória
movendo esse pedacinho de luz em direção
a nós
impossivelmente.”

Charles Bukowski

 

A Hidrel Hidráulica e eletrica apoia a Cancioneiro Caiçara

 

Marcus Ozores

Marcus Vinicius Pasini Ozores é fotógrafo, jornalista, apresentador de TV , mestre em Ciências Sociais e Pesquisador Associado na UNICAMP

Artigos relacionados

3 Comentários

  1. Existe dois perfis de moradores de rua: um é aquele que a rua sua casa, não aceita sair desta condição, querem liberdade total, eles mesmo relatam que na rua não pasam fome e sabem se proteger da chuva e do clima, eu mesma aprendi algumas técnicas com ele. No final da noite recolhem pedaços de pizza das lixeiras do restaurantes e outros slimentosdiziam que viviam melhor do que morando numa casa ou num barraco. De manhã cedo, algumas ONGs lhe ofertam café com leite e apão e no horário do almoço mamitex, a noite sopa. Recebem também água e cobertores, convivi de perto com essa realidade. Outros que aborvadavamos eu e minha equipe aceitavam ir para o projeto da prefeitura, onde recebiam tudo, roupas, agasalhos, uma cama limpa e quentinha para dormir. Pasavam.o dia no centro de convivência aprendendo algum.ofício, muitos optavam.pelo artesanato. Ali descobriam que tinham talento e percebamos o potencial de cada um. Usuário de drogas encaminhavam para uma clínica que recebia os recursos financeiro do governo Federal. Após 6meses de tratamento, passavam ser acompanhados pelo atendimento ambulatórios para o fortalecimento da sua recuperação. E recebiam bols auxílio e curso profissionante e prestavam num determinado período serviço para a prefeitura. Alguns desses moradores de rua conseguiam reconstruir suas vidas, alguns até casavam com alguém que conheciam no projeto e eram assistidos pelo Serviço socia e seguiam suas vidas. Outros recaiam ou pelo motivo da depend6de drogas ou pela dependência da liberdade, que era viver sem regras e retornavam a viver nas ruas…as vezes alguns desses retornavam e até conseguiam superar entre a liberdade na rua e as regras impostas para a mudança da sua história. Atualmente muitas famílias não têm acesso a esses recursos e foram despejados e o único refúgio que encontram ou obrigados pela sua vulnerabilidade social as marquzes das cidades…Ame-o o meu trabalho com os moradores de rua, foi uma experiência que carrego para o resto da minha vida. Respeitar essas pessoas, conhecer sua história respeitar o modelo de vida escolhido por eles…sem julgamento…

  2. Infelizmente a pandemia está agravando as deficiências das políticas públicas em todo o mundo.
    É triste ler uma informação como está.
    Tomara que o mundo se recupere tanto da pandemia quanto economicamente.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo